O MATERIALISMO ESPIRITUAL E O EGO

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O Materialismo Espiritual e o Ego


Estamos aqui para aprender um pouco sobre espiritualidade.
Temos de confiar na qualidade autêntica desta busca, mas é preciso questionar sua natureza. O problema é que o ego consegue transformar todas as coisas visando ao seu uso próprio, inclusive a espiritualidade. O ego está constantemente tentando adquirir e aplicar os ensinamentos da espiritualidade em benefício próprio. Os ensinamentos são tratados como uma coisa externa, externa a “mim”, uma filosofia que procuramos copiar. Na realidade, não desejamos identificar-nos com os ensinamentos ou “vir a ser” os ensinamentos. Assim, quando o nosso Mestre Interior fala em renúncia do ego, tentamos imitar essa renúncia. Cumprimos as formalidades, fazemos os gestos apropriados mas, na verdade, não queremos sacrificar parte alguma do nosso modo de vida. Tomamo-nos atores habilidosos e, ao mesmo tempo que brincamos de surdos-mudos com o verdadeiro significado dos ensinamentos, encontramos algum conforto fingindo seguir o caminho. Sempre que começamos a sentir qualquer discrepância ou conflito entre as nossas ações e os ensinamentos, imediatamente interpre-tamos a situação de modo a abrandar o conflito. O intérprete é o ego no seu papel de conselheiro espiritual. A situação se parece com a de um país em que Igreja e Estado sejam separados. Usando um exemplo metafórico;Se a política do Estado estiver afastada dos ensinamentos da Igreja, a reação automática do rei é dirigir-se ao chefe da Igreja, seu conselheiro espiritual, e pedir-lhe a bênção. O chefe da Igreja arquiteta alguma justificativa e confere sua bênção à política, a pretexto de ser o rei o protetor da fé. Em nossa mente, as coisas se processam assim, muito bem arrumadas, sendo o ego, ao mesmo tempo, rei e chefe da Igreja. Se é para se atingir a verdadeira espiritualidade, essa justificação do caminho espiritual e das nossas ações deve ser transpassada. Entre-tanto, não é fácil lidar com essa justificação porque todas as coisas são vistas através do filtro da filosofia e da lógica do ego, que faz com que tudo pareça arrumado, preciso e muito lógico. Para cada pergunta, tentamos encontrar uma resposta que se autojustifique. A fim de nos tranqüilizar, procuramos adaptar ao nosso esquema intelectual todos os aspectos de nossa vida que possam trazer confusão. E o nosso esforço é tão sério e solene, tão direto e sincero que é difícil suspeitar dele. Confiamos sempre na “integridade” do nosso conselheiro espiritual. Não importa o que possamos usar para chegar à autojustificação: a sabedoria dos livros sagrados, diagramas ou mapas, cálculos matemáticos, fórmulas esotéricas, religião fundamentalista, psicologia profunda, ou qualquer outro mecanismo.
Toda vez que começamos a fazer avaliações, decidindo se devemos ou não fazer isto ou aquilo, já teremos associado nossa prática ou nosso conhecimento a categorias contrapostas umas às outras, e isso é materialismo espiritual, a falsa espiritualidade do nosso conselheiro espiritual. Toda vez que temos uma noção dualística como, por exemplo: “Estou fazendo isto porque quero atingir um determinado estado de consciência, um determinado estado de ser”, automáticamente nos separamos da realidade do que somos. Se perguntarmos a nós mesmos: “Que há de mau em avaliar, que há de mau em tomar partido?”, a resposta será que, quando formulamos um juízo secundário: “Eu devia estar fazendo isto e devia evitar fazer aquilo”, estamos atingindo um nível de complicação que nos faz enveredar por um longo caminho, afastando-nos da simplicidade básica do que somos. A simplicidade da meditação significa apenas vivenciar o instinto  do ego. Se algo além disso é superposto à nossa psicologia, ela se toma uma máscara muito pesada e espessa, uma armadura. É importante notar que o aspecto principal de qualquer prática espiritual é deixar para trás a burocracia do ego, isto é, deixar para trás o constante desejo do ego de adquirir uma versão mais elevada, mais espiritual, mais transcendental do conhecimento, da religião, da virtude, do julgamento, do conforto ou de qualquer particularidade que um determinado ego esteja procurando. Precisamos deixar para trás o materialismo espiritual.
OS CAMINHOS ESPIRITUAIS
Se não pusermos de lado o materialismo espiritual, se, na verdade, o praticarmos, poderemos, posteriormente, surpreender-nos na posse de uma imensa coleção de caminhos espirituais. Podemos pensar que esse aglomerado espiritual é muito precioso. Estudamos muito. Talvez tenhamos estudado filosofia ocidental ou filosofia oriental, praticado Yoga ou estudado sob a orientação de dúzias de grandes mestres. Conseguimos realizações e adquirimos conhecimentos. Acreditamos ter acumulado um arsenal de conhecimentos. E, no entanto, depois de passar por tudo isso, ainda nos resta abrir mão de alguma coisa. Isso é extremamente misterioso: Como pôde acontecer algo assim? Impossível! Mas, infelizmente, é assim mesmo. Os nossos vastos conjuntos de conhecimentos e experiências são apenas parte da exibição do ego, parte da característica aparatosa do ego. Nós as exibimos ao mundo e, ao fazê-lo, reasseguramo-nos de que existimos, sãos e salvos, como pessoas “espirituais”. Teremos, porém, apenas criado uma loja, uma loja de antigüidades. Poderemos estar nos especializando em antigüidades orientais ou antigüidades cristãs medievais, ou em antigüidades de uma outra civilização ou de um outro tempo, mas estamos, todavia, gerenciando uma loja. Antes de a enchermos de tantas coisas, a sala era bonita: paredes caiadas de branco, soalho bem simples e uma lâmpada brilhante acesa no teto.
Uma metáfora sobre o Ego
No meio da sala havia um belo objeto de arte. Todas as pessoas que chegavam apreciavam sua beleza, inclusive nós mesmos. Mas não estávamos satisfeitos e pensamos: “Já que este único objeto embeleza tanto a minha sala, se eu conseguir outras antigüidades, minha sala ficará ainda mais bonita.” Assim, pusemo-nos a colecionar, e o resultado final foi o caos. Percorremos o mundo inteiro à cata de belos objetos – a Ìndia, o Japão, vários países. E sempre que encontrávamos uma antigüidade, como estávamos lidando apenas com um objeto de cada vez, víamos sua beleza e pensávamos como ficaria bonito em nossa loja. Mas quando levamos o objeto para casa e o colocamos na sala, ele se tornou apenas mais um acréscimo a nossa coleção de quinquilharias. A beleza do objeto já não se irradiava, pois estava cercado de outras tantas coisas bonitas. O objeto já não tinha significado algum. Em lugar de uma sala cheia de belas antigüidades, estávamos criando uma loja de entulhos! Comprar adequadamente não implica acúmulo de uma grande quantidade de informações ou de coisas bonitas, mas requer uma apreciação plena de cada objeto individualmente. Isto é muito impor-tante. Quando apreciamos de fato um belo objeto, indentificamo-nos completamente com ele e esquecemo-nos de nós mesmos. É como assistir a um filme muito interessante, fascinante, e esquecermo-nos de que somos o público. Naquele momento, o mundo deixa de existir; todo o nosso ser é aquela cena daquele filme. É a esse tipo de identi-ficação que aludimos, o completo envolvimento com uma coisa. Será que efetivamente saboreamos, mastigamos e engolimos, de forma adequada, aquele objeto de arte, aquele ensinamento espiritual? Ou nos limitamos a considerá-lo como parte de nossa vasta a crescente coleção? Colocamos tanta ênfase sobre esse ponto porque sabemos que todos nós chegamos aos ensinamentos e à prática da meditação não para ganhar bastante dinheiro, mas porque tínhamos um desejo autêntico de aprender, de desenvolver-nos. Se, porém, consideramos o conhecimento como uma antigüidade, como “sabedoria secular” a ser colecionada, estamos no caminho errado: No que diz respeito à linhagem dos mestres, o conhecimento não se transmite como uma antigüidade. Ao contrário, um mestre vivencia a verdade dos ensinamentos e a transmite como uma inspiração ao seu aluno. Essa inspiração desperta o aluno, tal como seu mestre foi despertado antes dele. Em seguida, o aluno passa os ensinamentos a um outro estudante, e assim segue o processo. Os ensinamentos estão sempre atualizados. Não são “sabedorias seculares”, uma lenda antiga. Não passam de uma pessoa a outra como informações, não se transmitem como as histórias populares tradicionais que um avô conta a seus netos. Não é assim que as coisas funcionam. Trata-se de uma experiência real. Há um dito nas escrituras tibetanas: “O conhecimento precisa ser aquecido, malhado e batido como o ouro puro. Só depois podere-mos usá-lo como um ornamento.”
Portanto, quando você recebe instrução espiritual das mãos de outra pessoa, não a aceite sem espírito crítico, mas a aqueça, malhe e golpeie até que apareça a cor brilhante e nobre de ouro. Então, você faça dela um ornamento, dando-lhe o desenho que desejar, e passe a usá-la. Dessa forma, o dharma se aplica a todas as épocas, a todas as pessoas; possui uma qualidade viva. Não nos basta imitar o mestre ou guru; não estamos tentando nos transformar em uma réplica do nosso instrutor. Os ensinamentos constituem uma experiência pessoal de cada um, até chegar ao detentor atual da doutrina.;Outra metáfora;Os ensinamentos têm a qualidade do pão quente, recém-saído do forno; o pão ainda se conserva quente e fresco. Cada padeiro precisa aplicar os conhecimentos gerais de como fazer pão ao seu próprio amassar e enfornar. A seguir, precisa experimentar pessoalmente o pão fresco, cortá-lo enquanto fresco e comê-lo enquanto quente. Precisa tornar seus os ensinamentos e, depois, praticá-los. Este é um processo muito vivo. Não há engano algum em termos de coletar conhecimentos. Temos de trabalhar com nossas próprias experiências. Quando ficamos confusos, não podemos nos voltar para a nossa coleção de conhecimentos e tentar encontrar alguma confirmação ou consolo: “O mestre e todos os ensinamentos estão do meu lado.” O caminho espiritual não segue por esse rumo. É um caminho solitário, individual.
ENTREVISTA COM ChögyamTrungpa , SOBRE O MATERIALISMO ESPIRITUAL
(Nota;O Centro Shambhala de Meditação de São Paulo é um entre os mais de 200 Centros Shambhala associados à Shambhala Internacional espalhados pelo mundo. Nele se pratica e ensina Shamatha e Vipashyana, meditação de atenção plena e consciência panorâmica. Esta técnica se origina diretamente do Buddha Shakyamuni e vem sendo passada de professor para aluno há mais de 2500 anos;Shambhala Internacional é uma comunidade internacional fundada pelo Venerável Chögyam Trungpa Rinpoche)
1-O senhor aceitou algum mestre espiritual como guru, algum mestre espiritual vivo em especial?
R: Neste momento, não tenho nenhum. Físicamente, deixei meus gurus e mestres para trás, no Tibete, mas os ensinamentos permanecem comigo e continuam.
2- Então, quem é que o senhor está mais ou menos seguindo?
R;As situações são a voz do meu mestre interior, a presença dele.
3- Depois que o Buda Shakyamuni alcançou a iluminação, permaneceu nele algum vestígio do ego, de modo que ele pudesse prosseguir nos seus ensinamentos?
R: Os ensinamentos simplesmente aconteceram, Ele não tinha o desejo de ensinar nem de não ensinar. Ele passou sete semanas sentado à sombra de uma árvore e caminhando ao longo de um rio. Então, ocorreu que alguém apareceu por ali e ele começou a falar. Não há escolha. Você está ali, uma pessoa aberta. Então, a situação se apresenta e o ensinamento acontece. É o que se chama “atividade búdica”.
4- É difícil não ser aquisitivo, com relação à espiritualidade. O desejo de adquirir é uma coisa de que nos desfazemos ao longo do caminho?
R: Você deve deixar que o primeiro impulso se esvazie. O seu primeiro impulso em direção à espiritualidade poderá colocá-lo em um cenário espiritual específico; mas se você trabalhar com esse impulso, pouco a pouco ele se extingue e, num determinado ponto, se torna tedioso, monótono. Esta mensagem é muito útil. Veja bem, é essencial relacionar-se consigo mesmo, com sua própria experiência, efetivamente. Quando não nos relacionamos conosco, o caminho espiritual torna-se perigoso, passa a ser mais um entretenimento puramente externo do que uma experiência pessoal, orgânica.
5-Se decidirmos procurar uma saída para a ignorância, podemos supor, quase com certeza, que tudo o que fizermos e que nos der prazer será benéfico ao ego e estará, na verdade, bloqueando o caminho. Qualquer coisa que parece certa está errada; tudo que não nos virar de cabeça para baixo acabará por enterrar-nos. Existe alguma saída para isto?
R: Se você executa um ato que seja aparentemente certo, isso não quer dizer que ele seja errado, pela simples razão de que errado e certo estão fora deste contexto. Você não está trabalhando de nenhum lado, nem do lado “bom”, nem do lado “mau”, mas sim com a totalidade do conjunto, para além de “isso” e “aquilo”. Eu diria que há uma ação completa. Não existe ato parcial, embora tudo que façamos relacionado com bom e mau pareça um ato parcial.
6- Quando nos sentimos muito confusos e procuramos nos desvencilhar e sair da confusão, pode parecer que estamos nos esforçando demais. Mas se não fizermos nenhuma tentativa, devemos então entender que estamos nos iludindo?
R: Sim, mas isso não significa que temos de viver nos extremos, esforçando-nos muito ou não fazendo tentativa alguma. Precisamos trabalhar com uma espécie de “caminho do meio”, um estado completo de “sermos como somos”. Poderíamos descrevê-lo com uma porção de palavras, mas temos realmente que passar por ele. Se você começa, de fato, a viver o caminho do meio, então irá enxergá-lo, irá encontrá-lo. Você precisa permitir-se confiar em si próprio, confiar em sua própria inteligência. Somos pessoas incríveis, temos coisas incríveis dentro de nós. Temos simplesmente que nos deixar ser. Auxílio externo não pode oferecer ajuda. Se você não está disposto a se permitir crescer, então cairá no processo autodestrutivo da confusão. Aqui temos autodestruição ao invés de destruição por outra pessoa. Eis por que isso é eficaz: porque é auto-destruição.
7-O que é a fé? Ela é útil?
R: A fé pode ser simplista, confiante e cega, ou pode ser uma confiança definitiva que não pode ser destruída. A fé cega é destituída de inspiração; é muito ingênua. Não é criativa, embora não seja exatamente destrutiva. Não é criativa porque entre sua fé e você mesmo nunca se estabeleceu nenhuma conexão, nenhuma comunicação. Você apenas aceitou, cegamente, toda a crença, muito ingênuamente. No caso da fé como confiança, existe uma razão viva para você ser confiante. Você não espera que uma solução pré-fabricada lhe seja misteriosamente apresentada. Você trabalha com as situações existentes, sem medo, sem qualquer dúvida de envolver-se ou não. Essa atitude é sumamente criativa e positiva. Se sua confiança é definitiva, você está tão seguro de si que não tem que se fiscalizar. Trata-se de confiança absoluta, uma verdadeira compreensão do que está acontecendo agora. Portanto, você não hesita em seguir outros caminhos nem em tomar a atitude necessária frente a cada nova situação.
😯  que é que o guia no caminho?
R: Na realidade, não parece haver nenhum guia em particular. De fato, se alguém estiver nos guiando, isso é suspeito, porque estaremos nos amparando em algo externo. Ser plenamente o que somos em nós mesmos passa a ser o guia, mas não no .sentido de vanguarda, porque não há um guia para seguir. Não precisamos seguir os passos de ninguém, mas apenas seguir livremente. Em outras palavras, o guia não caminha à nossa frente, mas ao nosso lado.
9-O senhor poderia dizer mais alguma coisa sobre como a meditação provoca um curto-circuito nos mecanismos protetores do ego?
R: O mecanismo protetor do ego implica você se fiscalizar, o que é uma forma desnecessária de auto-observação. A base da meditação não está no fato de meditar sobre determinado assunto por meio de uma autofiscalização; mas a meditação significa uma completa identificação com as técnicas que você estiver empregando. Desse modo, na prática da meditação, não há esforço algum para buscar segurança.
10- Parece que estou vivendo num ferro-velho espiritual. Como posso transformá-lo numa sala simples com apenas um objeto bonito?
R: A fim de desenvolver a capacidade de apreciar sua coleção, você tem que começar com um único objeto. É preciso encontrar uma entrada, uma fonte de inspiração. Talvez não seja preciso passar pelo resto dos objetos da sua coleção se você estudar apenas uma peça.  Mas precisamos começar com uma coisa, enxergar sua simplicidade, a qualidade tosca deste traste velho, ou desta bela peça de antigüidade. Se conseguíssemos começar apenas com uma coisa, isso eqüivaleria a ter um único objeto numa sala vazia. Creio que é uma questão de encontrar uma entrada. Por termos tantos bens em nossa coleção, o problema, em grande parte, é que não sabemos por onde começar. Você tem que permitir que seu instinto determine qual será a primeira coisa que irá apanhar.
11-Por que o senhor acha que as pessoas protegem tanto o ego delas? Por que é tão difícil abrir mão do nosso ego?
R: As pessoas têm medo do vazio do espaço, da ausência de companhia, da ausência de uma sombra. Poderia ser uma experiência apavorante não ter ninguém nem nada com quem se relacionar. A idéia disso pode ser extremamente assustadora, se bem que a experiência real não o seja. Trata-se, geralmente, de um medo de espaço, de um medo de não sermos capazes de nos ancorarmos em um solo firme, de perdermos nossa identidade como uma coisa fixa, sólida e definida. Isto pode ser muito ameaçador.
CONTINUA….
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
O Ego não existe em ninguém mais, apenas nos seres humanos; o Ego começa a crescer, conforme a criança cresce. Os pais, as escolas, as faculdades, a universidade, todos eles ajudam a fortalecer o Ego pela simples razão de que, por séculos, o homem precisou lutar para sobreviver e a idéia tornou se uma fixação, um profundo condicionamento inconsciente, que apenas Egos fortes podem sobreviver na batalha da vida. A vida tornou se apenas uma batalha para sobreviver… E os cientistas tornaram isto mais convincente, com a teoria da sobrevivência do mais apto. Então nós ajudamos cada criança a tornar se cada vez mais forte no Ego é aí que começa o problema.À medida que o Ego se torna mais forte começa a cercar a inteligência, como uma espessa camada de escuridão. A inteligência é Luz, Ego é escuridão. A inteligência é muito delicada; O Ego é muito duro.;A inteligência é como uma flor, o Ego como uma rocha. E se você quiser sobreviver, eles dizem – os chamados conhecedores – então você precisa tornar-se como uma rocha. você precisa ser forte, invulnerável. Você precisa tornar-se uma cidadela, uma forlaleza fechada, para que você não possa ser atacado de fora. Precisa tornar-se impenetrável.Uma coisa é tornar-se forte diante dos desafios e das experiências;Mas desta forma você se torna fechado. Você começa a morrer assim como sua inteligência, porque a inteligência precisa de céu aberto, do vento, de ar, de sol para crescer, expandir-se e fluir. Para manter-se vivo, precisa-se de um constante fluxo e, se ele tornar-se estagnado, pouco a pouco permanecerá um fenômeno morto.Tente entender o Ego, analisá-lo, dissecá-lo, olhá-lo, observá-lo, de todos os ângulos e não tenha pressa em sacrificá-lo. Caso contrário, o maior egoísta nasce: a pessoa que pensa ser humilde. A pessoa que pensa não ter ego.
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
Fonte:https://portal2013br.wordpress.com/2016/03/18/o-materialismo-espiritual-e-o-ego/
A “fraude gigantesca” que é o ego e como distorce a espiritualidade e até a meditação, por Chögyam Trungpa



chogyamtMuito pior do que os obstáculos e as difíceis circunstâncias externas que enfrentamos na busca da verdade espiritual é o inimigo que se carrega “em casa”, o senso de ego. O grande lama budista tibetano Chögyam Trungpa Rinpoche (1939-1987), que viveu nos Estados Unidos nos Anos 70 e foi um dos mestres recentes que compreendeu bem os problemas do mundo ocidental, entende disso, e escreveu, no belo livro “Além do Materialismo Espiritual” (Cultrix), um dos mais esclarecedores textos sobre os problemas que nosso ego cria no caminho para a Verdade. “O ego é capaz de converter tudo para seu uso próprio, inclusive a espiritualidade“, diz ele, citando que mesmo a meditação pode ser usada em favor do ego e contra o autêntico crescimento. “Drogas, ioga, orações, meditação, transes, várias psicoterapias — tudo pode ser usado com essa finalidade”, diz ele.
Trazendo metáforas ricas como a dos “Três Senhores do Materialismo” e desmistificando idéias errôneas a respeito da meditação, Chögyam Trungpa ataca os tantas ramificações desvirtuadas que tomamos e é um dos grandes aliados que temos para não nos iludirmos com nossas idéias e comportamentos, e assim nos ajuda a manter a sanidade e a sinceridade no caminho.
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Além do Materialismo Espiritual” [TRECHO]
Por Chögyam Trungpa Rinpoche
De acordo com a tradição budista, o caminho espiritual é o processo de atravessar e superar a nossa confusão, de descobrir o estado desperto da mente. Quando este estado se encontra entulhado pelo ego e pela paranóia que o acompanha, assume o caráter de um instinto subliminar. Dessa forma, não se trata de construir o estado desperto da mente, mas sim de queimar as confusões que o obstruem. No processo de consumir as confusões, descobrimos a iluminação. Se o processo fosse outro, o estado desperto da mente seria um produto dependente de causa e efeito e, assim, passível de.dissolução. Tudo o que é criado, mais cedo ou mais tarde, tem de morrer. Se a iluminação fosse criada dessa maneira, haveria sempre a possibilidade de o ego reafirmar-se, provocando um retomo ao estado de confusão. A iluminação é permanente porque não a produzimos; apenas a descobrimos. Na tradição budista, a analogia do Sol que surge por trás das nuvens é freqüentemente empregada para explicar o descobrimento da iluminação. Na prática da meditação, removemos a confusão do ego a fim de vislumbrar o estado desperto. A ausência da ignorância, da sensação de opressão, da paranóia, descerra uma visão fantástica da vida. Descobrimos um modo diferente de ser.
O cerne da confusão é o fato de o homem ter um senso de ego que lhe parece contínuo e sólido. Quando ocorre um pensamento, uma emoção, ou um evento, há o sentido de que alguém tem consciência do que está acontecendo. Você sente que você está lendo estas palavras. Esse senso do eu, na realidade, é um evento transitório, descontínuo, que em nossa confusão parece perfeitamente estável e contínuo. Como tomamos por real a nossa visão confusa, lutamos para manter e incrementar esse eu sólido. Tentamos alimentá-lo com prazeres e escudá-lo contra a dor. A experiência ameaça continuamente revelar-nos nossa transitoriedade, de modo que lutamos continuamente para encobrir qualquer possibilidade de descoberta da nossa verdadeira condição. “Mas”, poderíamos perguntar, “se a nossa verdadeira condição é um estado desperto, por que nos ocupamos tanto em evitar que tomemos consciência disso?” Porque estamos tão imersos em nossa confusa visão do mundo que consideramos real o único mundo possível. Essa luta por manter o senso de um eu sólido e contínuo é obra do ego.
O ego, contudo, consegue apenas sucesso parcial em sua tentativa de defender-nos do sofrimento. É a insatisfação que vem junto com a luta do ego que nos inspira a examinar o que estamos fazendo. E, uma vez que sempre existem hiatos na consciência que temos de nós mesmos, torna-se possível algum discernimento.
Uma interessante metáfora empregada no Budismo tibetano para descrever o funcionamento do ego é a dos ‘Três Senhores do Materialismo”: o “Senhor da Forma”, o “Senhor da Fala”, e o “Senhor da Mente”. Na discussão que se segue sobre os Três Senhores, as palavras “materialismo” e “neurótico” dizem respeito à ação do ego.
O Senhor da Forma refere-se à perseguição neurótica do conforto físico, da segurança e do prazer. Nossa sociedade altamente organizada e tecnológica reflete nossa preocupação em manipular o ambiente físico de modo a nos salvaguardar das irritações provenientes dos aspectos crus, rudes e imprevisíveis da vida. Elevadores acionados por botões de comando, carne empacotada, ar condicionado, privadas com descarga de água, velórios particulares, planos de aposentadoria, produção em massa, satélites meteorológicos, máquinas de terraplenagem, luzes fluorescentes, empregos das nove às cinco, televisão — tudo são tentativas de criar um mundo controlável, seguro, previsível e prazeroso.
O Senhor da Forma não significa as situações de vida em si que criamos para serem fisicamente ricas e seguras. Refere-se, antes, à preocupação neurótica que nos impele a criá-las, a tentar controlar a Natureza. O ego ambiciona assegurar-se e entreter-se, buscando evitar toda e qualquer irritação. Desse modo, agarramo-nos aos nossos prazeres e propriedades, tememos mudanças ou forçamos mudanças, tentamos criar um ninho ou um playground.
O Senhor da Fala tem a ver com o emprego do intelecto no relacionamento com o mundo. Adotamos grupos de categorias que servem como alavancas, como meios para manipular fenômenos. Os produtos mais plenamente desenvolvidos dessa tendência sâo as ideologias, os sistemas de idéias que racionalizam, justificam e santificam nossas vidas. Nacionalismo, comunismo, existencialismo, Cristianismo, Budismo — todos nos proporcionam identidades, regras de ação e interpretações de como e por que as coisas acontecem como acontecem. Aqui, novamente, o emprego do intelecto não é em si mesmo o Senhor da Fala. O Senhor da Fala indica a inclinação do ego a interpretar o que quer que seja ameaçador ou irritante de modo a neutralizar a ameaça ou transformá-la em algo “positivo” do ponto de vista do ego.
O Senhor da Fala refere-se ao uso de conceitos como filtros que nos resguardam de uma percepção direta do que é. Os conceitos são levados demasiado a sério; são utilizados como instrumentos para solidificar o nosso mundo e a nós mesmos. Se existe um mundo com coisas a que se possa dar nomes, então o “eu”, como uma das coisas nomeáveis, também existe. Nosso desejo é não deixar espaço algum para dúvidas ameaçadoras, para a incerteza ou a confusão.
O Senhor da Mente refere-se ao esforço da consciência em conservar a percepção de si mesma. O Senhor da Mente impera quando usamos disciplinas espirituais e psicológicas como meios de conservar a consciência que temos de nós mesmos, de nos agarrar ao senso de eu. Drogas, ioga, orações, meditação, transes, várias psicoterapias — tudo pode ser usado com essa finalidade. O ego é capaz de converter tudo para seu uso próprio, inclusive a espiritualidade. Se prendemos, por exemplo, uma técnica de meditação dentro de uma prática espiritual particularmente benéfica, o ego se põe, primeiro, a tratá-la co mo um objeto de fascinação e, depois, a examiná-la. Por fim, visto que o ego é sólido apenas na aparência e não pode, de fato, absorver coisa alguma; só é capaz de arremedar. Em tais circunstâncias, ele procura examinar e imitar a prática da meditação e o modo de vida meditativo. Depois de aprendermos todos os truques e todas as respostas do jogo espiritual, tentamos imitar automaticamente a espiritualidade, já que o envolvimento verdadeiro exigiria uma completa eliminação do ego, e a última coisa que desejamos fazer é renunciar completamente a ele. Entretanto, não podemos experimentar aquilo que estamos tentando imitar; podemos apenas encontrar alguma área dentro dos limites do ego que pareça ser a mesma coisa. O ego traduz tudo em termos do seu próprio estado de saúde, de suas qualidades intrínsecas. Experimenta um sentido de grande realização e excitação quando consegue criar um modelo desse tipo. Finalmente criou um feito tangível, uma confirmação de sua própria individualidade.
Se formos bem-sucedidos em manter a consciência que temos de nós mesmos através de técnicas espirituais, o desenvolvimento espiritual autêntico será altamente improvável. Nossos hábitos mentais se tomam tão fortes que fica difícil penetrá-los. Podemos até chegar ao desenvolvimento totalmente demoníaco da completa “Egoidade”. Embora o Senhor da Mente detenha o maior poder para subverter a espiritualidade, os outros dois Senhores podem também reger a prática espiritual. O retiro no seio da Natureza, o isolamento, a gente simples, sossegada, digna — tudo pode ser meio para nos proteger da irritação, tudo pode ser expressão do Senhor da Forma. Ou talvez a religião nos forneça uma racionalização para criarmos um ninho seguro, um lar singelo mas confortável, para conseguirmos um companheiro afável e um emprego estável e fácil.
O Senhor da Fala também se envolve com a prática espiritual. Ao seguir um caminho espiritual, podemos substituir nossas crenças anteriores por uma nova ideologia religiosa, continuando, porém, a usá-la da antiga maneira neurótica. Por mais sublimes que sejam nossas idéias, se as tomamos com excessiva seriedade e as utilizamos para manter nosso ego, ainda assim estaremos sendo governados pelo Senhor da Fala.
Se examinarmos nossos atos, quase todos concordaremos, provavelmente, em que somos governados por um ou mais dos Três Senhores. “Mas”, poderíamos perguntar, “e daí? Isto é simplesmente uma descrição da condição humana. Sim, sabemos que a tecnologia não consegue pôr-nos a salvo de guerras, crimes, doenças, insegurança econômica, trabalho laborioso, velhice e morte; tampouco nossas ideologias nos resguardam da dúvida, incerteza, confusão e desorientação; nem podem as nossas terapias proteger-nos da dissolução dos altos estados de consciência que viermos temporariamente a alcançar ou da desilusão e angústia daí decorrentes. Mas que outra coisa podemos fazer? Os Três Senhores parecem poderosos demais para serem derrubados e não sabemos com que poderíamos substituí-los.”Perturbado por essas indagações, o Buda examinou o processo pelo qual os Três Senhores governam. Investigou por que nossas mentes os seguem e se não havia um outro caminho. Descobriu que os Três Senhores nos seduzem criando um mito fundamental: o de que somos seres concretos. Todavia, o mito, em última análise, é falso, uma imensa burla, uma fraude gigantesca, a raiz do nosso sofrimento. Para fazer essa descoberta, ele precisou romper as defesas muito complexas erguidas pelos Três Senhores, com o fim de impedir que seus súditos descobrissem o engano fundamental que é a origem do poder deles. Não poderemos, de maneira alguma, livrar-nos do domínio dos Três Senhores a menos que nós, também, cortemos e atravessemos, camada por camada, as suas complexas defesas.
As defesas dos Senhores são criadas com material das nossas mentes, que eles utilizam para preservar o mito básico da solidez. A fim de enxergar por nós mesmos como este processo funciona, precisamos examinar nossa própria experiência. “Mas como,” podemos perguntar, “haveremos de conduzir este exame? Que método ou instrumento vamos usar?” O método descoberto pelo Buda foi a meditação. Ele verificou que lutar para encontrar respostas não surtia efeito. Só quando havia brechas na sua luta é que lhe acudiam discernimentos. Começou a dar-se conta de que existia dentro de si uma qualidade sadia e desperta que só se manifestava na ausência de luta. Por isso, a prática da meditação implica “deixar ser”.
Tem havido uma série de idéias errôneas acerca da meditação. Algumas pessoas a consideram um estado mental semelhante a um transe. Outras pensam nela em termos de treinamento, no sentido de ginástica mental. A meditação, contudo, não é nenhuma dessas coisas, embora lide com estados mentais neuróticos. Não é difícil nem impossível lidar com tais estados. Eles têm energia, pressa e um certo padrão. A prática da meditação implica deixar ser — uma tentativa de acompanhar o padrão, uma tentativa de acompanhar a energia e a velocidade. Dessa forma, aprendemos como lidar com esses fatores, como relacionar-nos com eles, não no sentido de fazê-los amadurecer como gostaríamos, mas no sentido de conhecê-los como são e de trabalhar com o seu padrão.”
(…)
Fonte:http://dharmalog.com/2012/08/07/a-fraude-gigantesca-que-e-o-ego-e-como-distorce-a-espiritualidade-e-ate-a-meditacao-por-chogyam-trungpa/

Como conquistar a Paz Interna – Lama Gangchen Rinpoche

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Para a conquista da paz interna, o primeiro passo é dizer: Eu sou lindo. Primeiro, precisamos de dar muito amor para nós mesmos. A nossa mente cria tudo, ela precisa de aprender a ver o positivo. Mas, como a nossa mente está muito próxima do negativo, encontramos sempre desculpas para ver o negativo. Dizemos `sim´ para uma atitude positiva, e em seguida dizemos `mas´ e voltamos para a atitude negativa. Só quando conseguirmos superar esse hábito de pensar negativamente, é que poderemos tomar uma decisão profunda de querer mudar. Pois é a mente negativa que não nos deixa tomar decisões. A decisão firme purifica a negatividade automaticamente e transforma a escuridão em luz. Aceitar é muito precioso. Por isso, escutar os ensinamentos é tão precioso, porque expressa a nossa decisão de aprender, de querer mudar.
A consciência daquilo que é preciso aceitar como real e inevitável pode surgir quase de imediato na nossa mente, mas a aceitação emocional do mesmo facto pode levar muito tempo para ocorrer. Costumamos dizer: Eu entendo, mas não aceito, quando intelectualmente aceitamos algo que, emocionalmente, ainda relutamos em aceitar.
A aceitação não é um ponto de acomodação ou de resignação, mas sim um ponto de partida. Afinal, se quisermos transformar algo, precisamos de nos apropriar dele. Senão, o que iríamos transformar?
Aceitar um facto doloroso é como aprofundar cada vez mais a densa e resistente camada que encobre o núcleo de nosso interior. Desse modo, nos aproximamos do que Jung denomina de Self. Segundo ele, quando tocamos a consciência do Self, que é a plenitude da psique,  tornamo-nos inteiros por funcionar como um todo organizado – isto é, não estamos mais divididos por nossos opostos, – pois reconhecemos que são complementares. Aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão de tornar-se perfeito. Ele visa completar-se, o que é muito diferente. E para completar-se terá de aceitar o fardo de conviver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas as conotações de bem ou de mal, sejam escuras ou claras.
Aceitar que temos sentimentos paradoxais em relação a muitas situações da vida: queremos e não queremos ou gostamos e não gostamos ao mesmo tempo, nos ajuda a fazer as pazes com nosso mundo interior. A cada dia em que a aceitação emocional cresce, aproximamo-nos um pouco mais da verdadeira natureza de nossa mente, que é sempre clara e confiante.
Quando paramos de lutar contra a dor do sofrimento, estamos preparados para conhecê-lo. A curiosidade por conhecer as causas de nosso sofrimento é outra atitude compassiva que despertamos em nosso interior.
A Segunda Nobre Verdade:
O sofrimento tem suas causas
A segunda nobre verdade refere-se à origem do sofrimento. A principal causa de todo sofrimento é a visão incorrecta que temos da realidade: pensamos que tudo existe por si mesmo e pode durar para sempre. Assim, desenvolvemos o apego, a raiva e a ignorância: os três venenos mentais raízes.
Materializamos o nosso mundo subjectivo nas coisas, situações e pessoas, por meio da projecção. Por exemplo, se desde pequenos apreciamos tomar Coca-cola, agora, ao vê-la, automaticamente pensamos que ela é deliciosa. Assim, atribuímos à Coca-cola a qualidade de ser boa por si só, e esquecemo-nos que somos nós que a experimentamos e que a qualificamos como boa. A cada momento, então, interpretamos a realidade como positiva ou negativa de acordo com as nossas projecções mentais. O mecanismo de projecção interfere em todas as circunstâncias de nossa vida, apesar de estarmos convictos que a realidade existe por si só, objectivamente, fora de nós.
A visão de que tudo tem uma existência própria e independente, nos leva a acreditar que possuímos um eu que é livre e autónomo, uma […] entidade distinta, concreta, sólida – independente e separada de quaisquer outros fenómenos. Nesse sentido, é natural que o ego se converta numa barreira intransponível entre a pessoa e o resto do mundo, sem a chance de comunicação e comunhão verdadeiras, não apenas com os outros, mas também com o âmago de si mesma. É preciso demolir essa barreira e este é o problema principal do caminho da libertação .
Sua Santidade Dalai Lama escreve: Numa escritura sobre a sabedoria perfeita, Buda faz a seguinte afirmação profunda: A mente não é para ser encontrada na mente; a natureza da mente é a clara luz. Isto é, os estados impuros da mente, como o desejo e ódio, não fazem parte da natureza profunda da mente, pois as impurezas são superficiais, e a verdadeira natureza da mente é a clara luz.
Enquanto não atingirmos a iluminação, isto é, superarmos a ilusão de termos um Eu, o impulso instintivo da projecção fará parte do nosso funcionamento psíquico. Apenas quando extinguirmos esse hábito mental, é que iremos superar este padrão tão enraizado de ignorância que nos impede de reconhecer a verdadeira natureza de nossa mente: que é pura, compassiva e ilimitada.
Ao explicar o que é a verdadeira compaixão, Sogyal Rinpoche nos ensina a compreender, também, a natureza do sofrimento: Compreender o que chamo de sabedoria da compaixão é ver com completa clareza os seus benefícios, bem como o dano causado pelo seu oposto. Temos de fazer uma distinção muito clara entre o que é o interesse do nosso ego voltado para si próprio e o que é nosso interesse maior e supremo. É confundindo um com o outro que vem todo o nosso sofrimento. Continuamos crendo teimosamente que a valorização do eu é a melhor protecção na vida, mas o oposto é que é a verdade. O apego ao eu cria a valorização do eu, que por sua vez produz uma enraizada aversão ao mal e ao sofrimento. No entanto, o mal e o sofrimento não têm existência objectiva; o que lhe dá existência e poder é somente a nossa aversão a eles. Quando entende isso, entende que é nossa aversão que atrai para nós toda negatividade e os obstáculos que podem se nos opor, enchendo nossas vidas de expectativas, ansiedade nervosa e medo. Esgote essa aversão esgotando a mente voltada para si mesma e seu apego a um eu inexistente, e vencerá todo poder que os obstáculos e negatividades possam ter sobre si. Mesmo porque, como é possível atacar alguém ou alguma coisa que simplesmente não existe?
O Ego é a bota que desgastamos no espinhoso caminho da espiritualidade – escutei, certa vez, Sua Santidade Dalai Lama falar numa entrevista para a televisão.
Por isso, para praticar a Segunda Nobre Verdade em nossa vida, é preciso procurar manter um estado de abertura e relaxamento frente a tudo e a todos. Em outras palavras, seguir o ditado budista “não se apegue, nem rejeite, então tudo será claro”.
A Terceira Nobre Verdade:
“É possível eliminar as causas do sofrimento”
A terceira nobre verdade refere-se à cessação do sofrimento. Não estamos condenados a sofrer para sempre. Portanto, aceitamos o sofrimento para transformá-lo, e não para carregá-lo como uma cruz.
Por toda nossa vida, iremos sentir emoções, faz parte de nossa natureza. No entanto, podemos abandonar o hábito de alimentar as emoções destrutivas.
Lama Michel Rinpoche esclarece: “Sofrimento é ter apego à dor. Uma coisa é a gente ter dor e sofrer com isso; outra é dizer: ‘Está doendo, mas por que vou sofrer, passar mal?’. Dor e sofrimento são coisas diferentes. Uma coisa é a gente ter dor, e outra é ter o sofrimento. Você pode ter a dor e não achar que ela é algo ruim, pode transformá-la”.
Mas, afinal de contas, para que queremos transformar o sofrimento? Só para ter o alívio da dor? Quem já não se pegou falando: “Contanto que eu não sofra, tudo bem”. Será que o  nosso “sonho de consumo” de viver uma vida em paz está baseado apenas na ideia de não sofrer?
Este seria um propósito baseado numa postura de baixa auto-estima, que não se vê capaz de criar, de prosperar. Se a nossa ideia de felicidade estiver baseada apenas na premissa de não sentir mais dor, viveremos como parasitas, anestesiados pelos mecanismos de defesa que nos impedem de nos mover frente ao desconhecido.
Hoje em dia, tem aumentado o número de livros e artigos em revistas que buscam definir o que é ser feliz. Acredito que ser feliz é ter, cada vez mais, uma mente aberta, capaz de aceitar as diferenças entre nós e os outros, ter disposição e um sentido maior para superar as dificuldades, e por fim, deixar o mundo à nossa volta um pouco melhor do que era quando nele chegamos e, assim, podermos, ao morrer, partir mais leves. Sinto-me feliz, quando sinto-me inspirado a reconstruir e a compartilhar essa vontade com aqueles que almejam o mesmo.

A felicidade depende da clareza interna


É importante reconhecer que o auto-conhecimento depende de nossa dedicação ao mundo exterior. Pois é a relação com o mundo exterior que nos ensina a identificar os nossos limites, assim como potenciais e qualidades positivas.
Quando temos um encontro autêntico com a nossa alma, somos postos frente a frente com o que é verdadeiro para nós. Não podemos mais nos enganar. Vamos ter de lidar directamente com as nossas limitações.
Identificar as nossas limitações não é o problema. Mas é preciso verdadeiramente aceita-las. Sermos sinceros connosco. Caso contrário, estaremos sempre transferindo para os outros nossas próprias dificuldades. Quando tratamos os outros com ironia e sem afecto, estamos, na verdade, reagindo a uma dificuldade pessoal e nem nos damos conta de quanto sofrimento estamos criando para os outros e para nós mesmos. Não ferir os outros é uma acção preventiva para não ferirmos a nós mesmos.
A falta de sinceridade para connosco é que nos paralisa e adia nosso processo evolutivo. O problema, portanto, é tentar negar nossas frustrações e limitações, minimizando-as ou encontrando artifícios e falsas soluções para lidar com elas.
São soluções falsas:
• Dar leveza e superficialidade ao que merece atenção e profundidade.
• Fazer o que os outros mandam para não assumir a responsabilidade sobre a nossa própria vida.
• Ser submisso à vontade alheia para não ter autoria sobre os nossos desejos e necessidades: a culpa (apesar de não existir legitimamente) recai sempre sobre aquele que evidenciou o seu querer.
• Ser perfeccionista para não aceitar nem a si mesmo, nem aos outros.
Então, vamos deixar claro: lidar com a dor do sofrimento não é uma atitude masoquista nem tão pouco manipuladora, mas sim um método para nos movermos para a Quarta Nobre Verdade: o caminho para transformar o sofrimento em paz interna.
Podemos aprender a transformar apego em satisfação, raiva em compaixão, ignorância em sabedoria. E assim, teremos reais condições para dar um sentido verdadeiramente útil à nossa vida: como cuidar da continuidade positiva de nossa mente e do ambiente à nossa volta.
Há muito para ser feito, mas sem uma base energicamente positiva, não é possível fazer nada. Por isso, para nos mantermos no caminho da contínua transformação do sofrimento em paz interna, temos de nos manter abertos para lidar com as dificuldades que surgirem, isto é, ter disponibilidade emocional para lidar com a dor. Não precisamos evocar mais sofrimento do que já temos para praticar esta transformação. Temos sempre o suficiente potencial de dor latente para praticarmos a Quarta Nobre Verdade.
Quarta Nobre Verdade:
O caminho para eliminar as causas do sofrimento
A quarta nobre verdade refere-se ao caminho que conduz à extinção do sofrimento, conhecido por Nobre Caminho Óctuplo. Ele indica um percurso de oito passos que devemos perfazer, com nosso corpo, fala e mente para superar o sofrimento. Mais pra frente os estudaremos separadamente.
As Oito Nobres Atitudes, ou passos correctos são:
1. O entendimento correcto
2. A intenção correcta
3. A fala correcta
4. A acção correcta
5. O modo de vida correcto
6. O esforço correcto
7. A concentração correcta
8. A meditação correcta
Em sânscrito, samma quer dizer correto, isto é, o que funciona ou o que é apropriado. “Neste sentido, Correto, no Caminho Óctuplo, não significa certo versus errado, mas sobretudo ver versus não ver. Refere-se a estar em contacto com a Realidade, em oposição a ser enganado pelos próprios preconceitos, pensamentos e crenças. Samma se refere à Totalidade em vez de à fragmentação” explica Steve Hagen.
Estarmos dispostos a efectuar uma real mudança em nossa maneira de caminhar é uma atitude resultante do longo processo de amadurecimento das Três Nobres Verdades.
A Quarta Nobre Verdade ensina a caminhar sobre a nossa própria estrada. Neste sentido, cada um irá precisar ter a sua experiência para obter os benefícios da caminhada. É como tentar contar a alguém a experiência de escalar uma montanha. Podemos compartilhar os relatos, mas o benefício da escalada é apenas daquele que a percorreu.
O mesmo ocorre com os ensinamentos sobre o Caminho Óctuplo: não basta ter uma compreensão intelectual sobre eles, é preciso vivenciá-los. Senão, eles parecerão tão nobres quanto distantes, como se nunca tivéssemos condição de realizá-los. Ao contrário disto, os mestres budistas nos incentivam a sentir os ensinamentos como experiências pessoais, e, portanto, possíveis. Mas, para testar e sentir o sabor de pisar em solo firme, é preciso dar um primeiro passo. Depois que saboreamos o gosto de praticar, não queremos mais parar!
Texto extraído do “O livro das Emoções – Reflexões inspiradas na Psicologia do Budismo Tibetano” de Bel Cesar, Ed. Gaia.
Fonte:https://portaldobudismo.org/2015/02/13/como-conquistar-a-paz-interna-lama-gangchen-rinpoche/

O EGO NO CAMINHO ESPIRITUAL (1ª PARTE)

"É para acabar com a grotesca tirania do ego que nós seguimos o caminho espiritual, mas os recursos do ego são quase infinitos e a cada estágio ele pode sabotar e perverter nosso desejo de nos libertarmos dele. A verdade é simples, e os ensinamentos são extremamente claros; mas vi muitas e muitas vezes, com grande tristeza, que tão logo eles começam a nos mobilizar, o ego tenta complicá-los porque sabe que está sendo ameaçado de maneira direta. 

Quando estamos no início e ficamos fascinados com o caminho espiritual e suas possibilidades, o ego pode até nos encorajar, dizendo: 'Isso é realmente maravilhoso. É disso que você precisa! Esses ensinamentos fazem um grande sentido!'

E aí, quando dizemos que queremos experimentar a prática da meditação, ou fazer um retiro, o ego cantarolará: 'Belíssima ideia! Vou com você. Podemos ambos aprender alguma coisa'. Durante toda a lua-de-mel do nosso desenvolvimento espiritual, o ego ficará insistindo: 'Isso é maravilhoso - é tão fantástico, tão inspirador...'

Mas logo que entramos no que chamo de 'pia de cozinha', fase do caminho espiritual em que os ensinamentos começam a tocar-nos profundamente, confontamo-nos inevitavelmente com a verdade do nosso ser. À medida que o ego é revelado, seus pontos sensíveis tocados, todos os tipos de problemas começam a surgir. É como se um espelho fosse colocado à nossa frente e não pudéssemos olhar em outra direção. O espelho é absolutamente claro, mas há nele um rosto feio e ameaçador, nosso próprio rosto, olhando fixamente para nós. Começamos a nos rebelar porque odiamos o que vemos; podemos atacar com raiva e quebrar o espelho, mas isso só faria criar centenas de rostos feios idênticos, todos ainda olhando para nós.

Nesse momento começamos a sentir raiva e a nos queixar amargamente; e onde está nosso ego? Fielmente postado ao nosso lado, ele nos encoraja: 'Tem toda razão, isso é ultrajante e intolerável. Não engula isso!' Enquanto o ouvimos fascinados, o ego segue evocando toda sorte de dúvidas e emoções loucas, jogando lenha na fogueira: 'Não vê que esse não é um ensinamento certo para você? Já lhe disse isso há muito tempo! Não vê que ele não é o seu mestre? Afinal de contas, você é um homem ocidental, bastante inteligente, moderno e sofisticado, e essas coisas exóticas tipo zen, sufismo, meditação, budismo tibetano, pertencem a culturas estrangeiras, orientais. Que interesse pode ter para você uma filosofia que surgiu no Himalaia há mil anos atrás?' (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 160/161)

O EGO NO CAMINHO ESPIRITUAL (PARTE FINAL)

"(...) À medida que o ego nos vê jubilosamente ficar mais e mais enredados em sua teia, chegará ao ponto de culpar o ensinamento e até mesmo o professor por toda a dor, solidão e dificuldades pelas quais passamos ao nos conhecer: 'Esses gurus não se importam nada com você e com o que está atravessando, e no fundo só querem explorá-lo. Usam palavras como 'compaixão' e 'devoção' para pôr você sob seus poderes'.

O ego é tão esperto que pode até distorcer os ensinamentos para atender seus propósitos; afinal, 'o diabo pode citar as escrituras para seus próprios fins'. A arma final do ego é apontar hipocritamente seu dedo para o professor e seus seguidores, dizendo: 'Ninguém por aqui parece estar à altura da verdade dos ensinamentos!' Ele posa então como o árbitro justo de toda conduta: a posição mais astuta de todas para sabotar sua fé e destruir qualquer tipo de devoção e compromisso que você possa ter em relação à mudança espiritual.

Mas seja qual for a força com que o ego tenta sabotar seu caminho espiritual, se você prossegue nele e trabalha profundamente com a prática da meditação, começará a perceber como tem sido enganado pelas promessas do ego: falsas esperanças e falsos medos. Devagar você começa a compreender que tanto a esperança quanto o medo são inimigos da sua paz de espírito; as esperanças o decepcionam, deixando-o vazio e desapontado, e os temores o paralisam na cela estreita da sua falsa identidade. Você começa a ver também como foi poderosa a influência do ego sobre sua mente, e no espaço de liberdade aberto pela meditação - em que você está momentaneamente livre da avidez - você vislumbra a estimulante amplitude da sua verdadeira natureza. Entende que o seu ego, como um artista louco e trapaceiro, enganou você durante anos com esquemas, planos e promessas que nunca foram reais e só o levaram à falência interior. Quando você percebe isso na equanimidade da meditação, sem qualquer consolação ou desejo de esconder o que descobriu, todos os planos e esquemas se revelam vazios e começam a desmoronar.

Esse não é um processo puramente destrutivo, porque junto com uma compreensão extremamente precisa e às vezes dolorosa da fraudulência e virtual criminalidade do seu ego, e do de todos os demais, cresce uma sensação de expansão interna, um conhecimento direto daquela 'ausência de ego' e interdependência de todas as coisas, dessa viva e generosa disposição de espírito que é a marca que autentica a liberdade.

Porque aprendeu pela disciplina a simplificar sua vida, reduzindo as oportunidades do ego de seduzi-lo, e porque praticou a presença mental da meditação e minimizou o poder da agressão, do apego e da negatividade de todo seu ser, a sabedoria do insight pode emergir lentamento. E na claridade reveladora desse sol aquela percepção pode mostrar a você, distinta e diretamente, os mais sutis movimentos de sua própria mente e a natureza da realidade."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 162/163)

Fonte:https://chavesparaasabedoria.blogspot.com.br/2018/03/o-ego-no-caminho-espiritual-parte-final.html

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Comentários

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