LÁ ESTÃO ELES...OS ANJOS

Lá estão eles… os anjos

Acreditar naquilo que nos move e nos impulsiona para trilhar novos caminhos, não importa quais sejam; o que vale é que exatamente no momento da decisão, a escolha é feita. Boa ou má, com erros ou acertos, fica o aprendizado que nos permite ligar os feitos de uma vida que pode ser longa ou breve, mas que de alguma forma fazem sentido e ganham conteúdo semântico.

Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam. (Clarice Lispector)
“Os Anjos do Meio da Praça”, roteiro e direção de Alê Camargo e Camila Carrossine (2010), conta uma fábula sobre anjos caídos, sonhos esquecidos e um menino. É quase um lamento sobre a negação, o egoísmo e arrependimento.
Anjos que viviam nas nuvens, lutando contra o mal, caem na terra em um pequeno vilarejo e causam curiosidade, mas o medo do novo e do inesperado faz com que os anjos sejam isolados pelo povo da cidade, que, mais tarde, os consideram apenas elementos estranhos, mal tratados e finalmente esquecidos.
E o que este filme tem a ver com educação e envelhecimento? Alguém poderia responder: simplesmente tudo, na medida em que viver o que esta “estranha” vida pode e tem condições de nos oferecer é um eterno aprendizado, assim como saber reconhecer o momento da decisão e da escolha e, porque não dizer, do sonhar. Esses são atributos de “Os anjos do meio da praça” cujo enredo é pautado numa história sensível e de profundo valor educativo.
Acreditar naquilo que nos move e nos impulsiona para trilhar novos caminhos, não importa quais sejam; o que vale é que exatamente no momento da decisão, a escolha é feita. Boa ou má, com erros ou acertos, fica o aprendizado que nos permite ligar os feitos de uma vida que pode ser longa ou breve, mas que de alguma forma fazem sentido e ganham conteúdo semântico.
Essas interpretações desencadeadas pelo filme se sustentam no depoimento do I Ching: “Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força… O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano”. (I Ching apud CAPRA, 2006)
Atribuir ou construir significados exige aprendizagem para superarmos a indiferença e a mera constatação alçando voos movidos pela curiosidade, pela convicção de que somos seres critico-reflexivos, capazes de intervir no ambiente em que vivemos. Nosso potencial como seres humanos libera capacidades e habilidades para superarmos a neutralidade, assumindo posições, gerando mudanças.
Freire (2010, p.76) sustenta essa concepção quando se refere aos saberes básicos necessários: É o saber da História como possibilidade e não como determinismo. O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa e inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente.


Ser sujeito da História pessoal e social nos remete à necessidade de não somente passar pelo tempo, mas viver todos os momentos atribuindo significados individual e coletivamente, reconhecendo a dimensão Kairós que dá sentido ao Cronos da nossa existência. Encontramos em muitos filmes a expressão dessa realidade, quando produzidos por sujeitos sensíveis ao real na sua totalidade, às conexões, às possibilidades de reconceber o tempo, sensíveis também à possibilidade de humanização.
Referências
CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 2006.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessário à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
Fonte:http://www.portaldoenvelhecimento.com.br/la-estao-eles-os-anjos/

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