O JESUS DAS OUTRAS RELIGIÕES QUE NÃO O CRISTIANISMO

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“O Jesus das Outras Religiões”

"Entenda como o cristo é visto por outras crenças, como o islamismo, o budismo e o hinduísmo"

Capítulo 8

O JESUS DAS RELIGIÕES DO MUNDO

Em nosso mundo ocidental pós-cristão, observamos uma
confusão entre religião e fi losofi a de forma que a linha
entre as religiões não é mais tão distinta. Por exemplo, no
final de seu livro Vivendo o Buda, vivendo o Cristo, Thich
Nhat Hanh, monge budista, afi rma: “Quando alguém é
verdadeiramente um cristão feliz, então também é um budista.
E vice-versa”.1
Exemplos desse tipo de pensamento nas fi leiras cristãs
foram expostas pela St. Francis Chapel [Capela de São
Francisco], na Santa Clara University, que tem uma prática
semanal de “plena atenção e meditação zen” e a exortação
do padre jesuíta Robert E. Kennedy a seus alunos: “Peço
aos alunos que confi em em si mesmos e desenvolvam sua
própria autossufi ciência por intermédio da prática Zen”.2
Marcus Borg, controverso estudioso de Jesus e professor
de filosofi a e religião na Oregon State University, diz que
O Jesus que nunca existiu
ambos, “Jesus e Buda, eram mestres de sabedoria”3 e conta
a seus alunos que “se Jesus e Buda pudessem se encontrar,
nenhum tentaria converter o outro — não porque eles
considerariam a tarefa impossível, mas porque eles reconheceriam
um ao outro”.4

JESUS ENTRE OS DEUSES

Jesus é meramente outro deus em meio a muitos deuses das
religiões do mundo? Ele é apenas um homem santo ou um
profeta que esposou as fi losofi as e morais religiosas similares
ao que estava em voga antes de seu tempo, e talvez tenha até
mesmo adotado ensinamentos de outros mestres religiosos
que apareceram antes dele?
Mestres das religiões do mundo argumentam a favor dessas
duas perspectivas. Apenas o cristianismo afi rma que ele
não era apenas um homem, mas também o Deus único do
universo. Essa perspectiva exclusivista levou alguns estudiosos
a considerar o cristianismo perigoso. O professor Borg,
em um simpósio sobre Cristo e o budismo, afi rmou que, ao
longo dos séculos, as formas mais prevalentes de cristianismo
foram “perigosas, destrutivas e infames”.5
As várias religiões do mundo reconhecem que Jesus é um
personagem importante e, muitas vezes, abraçam-no como
um de seus deuses, profetas ou homem santo “iluminado”.
Isso é o sufi ciente? A melhor informação que temos sobre
Jesus foi registrada por pessoas no século I da era cristã,
e estas tinham informação sobre ele em primeira mão ou
conversaram com aqueles que foram testemunhas oculares.
Essas fontes são muito superiores às fontes posteriores sobre
O Jesus das religiões do mundo
Jesus, independentemente de quais sejam elas — gnósticas,
islâmicas, hinduístas ou budistas.
Em vista do contexto religioso e histórico em que Jesus,
o Messias, veio, será que ele é verdadeiramente identifi cado
como alguém que se fundamentou em outras religiões que
não o judaísmo? Sua vida, sua natureza e seus ensinamentos
são verdadeiramente compatíveis com as outras religiões do
mundo? Será que a ideia de que todas as religiões levam
à mesma conclusão é mesmo possível, em outro contexto
que não em um simpósio em que os professores buscam
encontrar um campo em comum por causa do coleguismo
e da abertura para uma visão de mundo liberal? Esperamos
descobrir as respostas para essas questões na análise que apresentamos a seguir.

O MESSIAS JUDEU É COMPATÍVEL COM AS RELIGIÕES NÃO BÍBLICAS?

Poucas pessoas questionariam se Jesus foi realmente um
personagem histórico nascido aproximadamente entre 7 e 4
a.C., em Israel, e, até mesmo que ele morreu na cruz e, possivelmente,
ressuscitou dos mortos (exceto os que abraçam
o islamismo e os secularistas). Todavia, as razões para esses
eventos levam a uma encruzilhada nas tradições religiosas.
Quando alguém examina o Jesus do qual muitas religiões
falam, percebe-se que ele fi ca destituído da ambientação
histórica — a nação de Israel da Antiguidade. O Jesus que
andou nas estradas e montanhas da terra de Israel no século
I era judeu em sua herança física e religiosa. Ele via a si mesmo
como o Filho de Deus e o Messias que veio para Israel,
O Jesus que nunca existiu conforme prometido nas Escrituras
hebraicas — e seus discípulos também o viam da mesma forma, especialmente
depois da ressurreição.
As profecias e o cumprimento delas na vida de Jesus, de forma distinta
dos ensinamentos místicos do budismo e do hinduísmo, são concretos.
Ele, de fato, nasceu de uma virgem; ele, de fato, levou uma vida
sem pecados; ele, de fato, morreu na cruz como o Messias sofredor para
redimir de forma vicária seu povo; ele, de fato, ressuscitou dos mortos,
6 conforme profetizado na Lei, nos Profetas e nas Escrituras; ele, de
fato, ascendeu à posição de poder nos céus; e ele, de fato, descerá de
novo para reunir sua igreja e julgar os povos da terra que rejeitaram sua
oferta de salvação.
Só por intermédio do método mais engenhoso de leitura
do Antigo e Novo Testamentos, uma pessoa poderia criar
uma compatibilidade entre esses ensinamentos sobre Jesus,
o Messias, como também os ensinamentos dele, e as outras
religiões do mundo. Ainda assim, nos escritos de muitos que
professam outras religiões, descobrimos crenças sobre Jesus
muito distantes do Jesus apresentado nos evangelhos canônicos.
Examinaremos apenas as maiores das religiões não
cristãs — o hinduísmo, o budismo e o islamismo — para
Só por intermédio do método mais engenhoso de leitura dos
Antigo e Novo Testamentos, uma pessoa poderia criar uma
compatibilidade entre esses ensinamentos sobre Jesus, o
Messias, como também os ensinamentos dele, e as outras
religiões do mundo. O Jesus das religiões do mundo
demonstrar as perspectivas que têm sobre Jesus e como entenderam
Jesus de forma equivocada e distorcida e criaram
um Jesus que nunca existiu.

TRADIÇÕES SOBRE AS VIAGENS DE JESUS NO ORIENTE

O princípio da vida de Jesus Algumas pessoas argumentaram que Jesus, durante sua
infância, foi à Índia, às cordilheiras do Himalaia e ao vale
do Ganges. Afirma-se que, nas cordilheiras do Himalaia,
ele recebeu “orientação espiritual” de um homem santo e
retornou a Jerusalém logo depois de completar trinta anos.
Ele, depois disso, fez milagres e proferiu palavras poderosas,
mas escapou antes que o matassem e retornou à Índia, onde
viveu na Caxemira, e conforme se alega, seu túmulo ainda
está lá até hoje.7
No entanto, nem Jesus nem seus discípulos jamais mencionaram
essa visita nos escritos do Novo Testamento e,
tampouco, há menção a esse fato nos escritos dos pais da
igreja. Os ensinamentos que Jesus, supostamente, recebeu
na Índia não estão presentes no Novo Testamento, exceto
por meio de imaginação extremada. Há uma tradição que
afi rma que o apóstolo Tomé foi para o sul da Índia, mas não
há evidências históricas de que Jesus esteve lá.
Viagens após a crucifi cação
Algumas pessoas também dizem que Jesus visitou o
Oriente após a ressurreição, mas isso não tem fundamento
O Jesus que nunca existiu
histórico como também não o tem a afi rmação de que ele
visitou os Estados Unidos, conforme a doutrina mórmon.8
Examinemos esses argumentos.
De acordo com o hinduísmo. Na literatura hindu, a tradição
insiste que Jesus visitou a Índia durante o reinado do rei
Shalivahan.9 De acordo com esses relatos, Jesus disse que ele
era Yuz Asaf e “passou a ser conhecido como Isa Masih”, ou
Jesus, o Messias. Encontra-se essa afi rmação em escritos que,
supostamente, datam de 115 d.C. ou período posterior.10
No entanto, a confi rmação dessa perspectiva é dispersa
e inconsistente e foi escrita, pelo menos, cem anos após a
ressurreição. Também, a pregação de Tomé na Índia pode ter
levado à junção dessas histórias sobre Jesus com as lendas da
Índia.
De acordo com o budismo. O budismo tem algumas das
mesmas defi ciências com relação à presença de Jesus após
a crucificação. Temos de nos lembrar que o budismo e o
hinduísmo estiveram intimamente associados, e que Sidarta
Gautama, o fundador do budismo, recebeu seu treinamento
filosófi co e religioso na Índia. As supostas ligações do budismo
com Jesus, como acontece no hinduísmo, ocorreram,
pelo menos, cem anos depois do período em que Jesus viveu
na terra.
As tentativas para identifi car Jesus com Buda, na melhor
das hipóteses, são superfi ciais e, conforme já mencionado,
ocorreram pelo menos cem anos após a crucifi cação de Jesus.
Essa similaridade é explicada por Mirza Ghulam Ahmad:
Os eventos da vida de Jesus, portanto, tornaram-se conhecidos
para os budistas, e, nesse ponto no curso da História, a
história da vida de Gautama Buda ainda não fora registrada.
Ahmad especula ainda que, quando a vida de Gautama Buda
estava sendo registrada, os eventos foram confundidos e
misturados com os eventos da vida de Jesus Cristo. Essa é
sua explicação para a semelhança entre a história de vida
desses dois personagens históricos. Eis aqui algumas similaridades:
1. Os dois jejuaram por quarenta dias
2. Os dois foram tentados pelo demônio
3. Os dois se referiam a si mesmos como luz
4. Os dois ensinaram o perdão e a “amar os inimigos”.11
As religiões pagãs, os grupos cristãos heréticos e as religiões
orientais apropriaram-se da poderosa história de Jesus.
Os relatos da vida de Jesus, dos milagres, da morte e ressurreição
foram adicionados pouco a pouco e, com frequência,
de forma descuidada, fundamentando-se nas histórias do
evangelho pregadas, algumas décadas após a ascensão de
Jesus, em todo o Império Romano e em lugares tão remotos
quanto a Índia. Esses fragmentos de informação sobre Jesus
são equivocadamente tomados como indícios do contato
pessoal de Jesus com essas culturas; ao passo que, na verdade,
Jesus, em suas viagens, nunca viajou a uma distância maior
que cerca de 160 quilômetros de sua casa. Seus esforços concentraram-
se no treinamento dos doze apóstolos para que
levassem a mensagem do evangelho para todo o mundo, em
vez de ele mesmo tentar fazer isso. Ele veio trazer salvação
por intermédio de sua morte e ressurreição. Depois da ascensão,
ele enviou o Espírito para que estivesse com aqueles
que disseminaram sua palavra por todo o mundo de uma
forma que ele não poderia fazer enquanto esteve aqui entre
nós em seu corpo humano (Jo 14.26; 16.5-16; At 1.8).
De acordo com o islamismo. A doutrina muçulmana nega
que Jesus morreu na cruz e ressuscitou dos mortos. Antes, os
muçulmanos acreditam que ele ascendeu de volta ao céu na
expectativa de retornar à terra de novo, em uma data futura,
para converter o povo a adorar Alá.
Não é incomum ouvir muçulmanos falarem sobre Jesus
viajando no meio deles. Algumas lendas dizem que, depois
da morte de Judas na cruz, Jesus foi a Damasco por um
período de dois anos, e isso aconteceu por volta da época
em que Paulo encontrou Jesus, bem próximo da cidade.12
Afi rma-se que ele pregou para o rei de Nisibis, no sudeste
da Turquia.13 Outra perspectiva é que Jesus viajou para
o Afeganistão onde fez milagres,14 enquanto outras lendas
afi rmam que ele e sua mãe foram para o Paquistão, fundamentando-
se no Sura 23:50 do Alcorão como um indício
dessa viagem: “E fi zemos do fi lho de Máriam [ Maria] e de
sua mãe sinais, e os refugiamos em uma segunda colina, provida
de mananciais”. Supostamente, Israel não tem um local
como esse, assim o leste do Paquistão é escolhido, uma vez
que existe a tradição de que Jesus e Maria moraram ali, e
de que Maria também foi enterrada nesse local, no cume
de uma montanha. Afi rma-se que alguns ditos de Jesus, sem
contexto e ambíguos, estão em inscrições próximas da Caxemira,
na Índia, e houve especulação de que esses ditos
pudessem ser “ditos” ou logia, mencionados no século II por
Papias, um discípulo de João.
Todos esses comentários sobre Jesus em Damasco, no
Afeganistão, no Paquistão e na Índia são fundamentados
em fontes isoladas que, na melhor das hipóteses, são escassas,
sem qualquer suporte histórico. Em adição a isso,
pensar que o termo logia de Papias teria vindo da Índia,
e não da Ásia Menor onde ele trabalhou com o apóstolo
João, é algo ilógico e estranho.

O JESUS DO HINDUÍSMO

A alegada dependência da vida de Jesus
na história de Krishna
Um mito comum que se ouve é que a história de Jesus,
na realidade, é a história recontada de Krishna. Parte dessa
crença fundamenta-se na crença de que, até mesmo, alguns
pais da igreja não consideraram a religião ensinada por Jesus
como nova e única. O primeiro historiador da igreja, Eusébio
de Cesareia (c. 283-371 d.C.), supostamente, escreveu:
“A religião de Jesus Cristo não é nova nem estranha”, e
Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), conforme se alega,
escreveu: “Isso, em nossa época, é a religião cristã, não que
não fosse conhecida em tempos antigos, mas recebeu esse
nome recentemente”.15
Esse alegado apoio dos pais da igreja ao fato de o cristianismo
ser fundamentado em outras religiões é altamente
questionável, além de se fundamentar em documentos exíguos
ou indevidos e na compreensão equivocada do
contexto.16 Essas duas referências são de fontes dúbias do
século XIX, citações de Kersey Graves que fornecem pouca
evidência para o que ele diz, mas é citado por livros e sites
enganosos sobre Jesus.17
Similaridades entre Jesus e Krishna
Comparação da vida de Jesus com a de Krishna. De acordo
com o hinduísmo, em algum momento entre 1200 e
900 a.C.,18 Krishna, o oitavo avatar ou manifestação do deus
Vishnu, nasceu.19 Algumas pessoas do hinduísmo argumentam
que há consideráveis similaridades entre Jesus e Krishna,
e estas, para essas pessoas, indicam que Jesus é mais uma
manifestação.20 Incluir Jesus como uma manifestação da
divindade oriental não é algo incomum no hinduísmo, budismo
e bramanismo, mas algumas pessoas tentam fazer uma
associação íntima entre Krishna e Jesus. Um escritor diz que
há mais de cem pontos de comparação entre eles.21
Examinemos alguns exemplos das supostas similaridades
entre Jesus e Krishna encontradas no Bhagavad-Gita e no
Novo Testamento:
1. O Bhagavad-Gita fala de Arjuna sendo “o início, o
meio e o fi m de todos os seres”.22 No livro de Apocalipse,
Jesus diz: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e
o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22.13).
Ao expressar a ideia de eternidade, presente não só no
hinduísmo, mas em muitas outras religiões do mundo, a
menção de ser o primeiro e o último não deve ser considerada
incomum. No entanto, há uma diferença entre
essas duas ideias apresentadas de forma semelhante. O
hindu fala de Krishna como o começo, o meio e o fi m
de todos os seres, ao passo que o texto de Apocalipse
enfatiza a natureza eterna do ser do Senhor.
2. Supostamente, a história de Asita, no Bhagavad-Gita,23
é semelhante à história de Simeão com Jesus ainda
O Jesus das religiões do mundo
bebê, em Lucas 2.25-35. Stephen Van Eck, em um
artigo intitulado “Hare Jesus: Christianity’s Hindu
Heritage” [“Hare Jesus: a herança hindu do cristianismo”],
faz a seguinte afi rmação: “Seu advento foi
proclamado por um homem piedoso chamado Asita,
que pôde morrer feliz ao saber de sua chegada a este
mundo, uma história equivalente à de Simeão em Lucas
2.25.24 Todavia, o Bhagavad-Gita não contém uma
palavra sequer que corresponda ao relato de Lucas.25
3. O Bhagavad-Gita fala do reino de Deus e menciona
a pedra de tropeço similar às palavras encontradas no
Novo Testamento: “Se alguém, portanto, for situado até
mesmo na hora da morte, ele pode entrar no reino de
Deus”.26 No entanto, o sentido dessa afi rmação é distinto
do uso no Novo Testamento. O termo hindu para
“reino de Deus” aqui é Baikuntha e se refere à “morada
de Deus”.27 O “reino de Deus” hindu é alcançado
depois de a pessoa se livrar
de todas as impurezas na alma,
por intermédio do carma
correto,28 e isso exige que a
pessoa deixe a “forma humana
corpórea” para entrar no
reino29 do qual não há retorno.
30 A adesão ao hinduísmo
não é necessária: “Ao alcançar
a iluminação e, por fi m,
a salvação […], esses homens
deuses alcançam o reino de
Deus durante o período de
vida deles. Todos os caminhos
[…], todas as religiões e toda
Se fosse para
eliminar como
inválido os
eventos na vida
de Jesus que
parecem vir de
Krishna, então,
a maioria das
crenças essenciais
cristãs sobre
Jesus teria de ser
abandonada.
O Jesus que nunca existiu
espiritualidade levam a pessoa em direção a um único e
derradeiro objetivo […], a morada de Deus, aka Baikuntha
no hinduísmo”.31
Portanto, o “reino de Deus” não é equivalente ao
Baikuntha. Encontra-se a expressão grega basileia tou
theou (“reino de Deus”) cerca de setenta vezes no Novo
Testamento e é um dos principais temas no Antigo
e Novo Testamentos. Ela se refere ao governo de Deus
sobre seu mundo e, em especial, sobre os cristãos — e
não, como no hinduísmo, à morada de Deus pós-corpo
físico.
Refutar essas supostas similaridades não é algo difícil uma
vez que são ambíguas e fáceis de explicar. Mas e quanto às
comparações entre Jesus e Krishna que não são fáceis de explicar?
Krishna, supostamente, nasceu de uma virgem; sua
família teve de viajar para pagar um imposto; seu pai era carpinteiro;
seu nascimento foi presenciado por anjos, homens
sábios e pastores; ele foi perseguido por um tirano que matou
bebês na perseguição a Krishna; seu pai recebeu um aviso que
deveria fugir; ele foi batizado; veio para salvar a humanidade;
fez milagres e contou parábolas; foi crucifi cado e ressuscitou;
estas são algumas similaridades em meio a outras.32
À primeira vista, parece que o cristianismo está em uma
situação espantosamente difícil, sendo apenas uma religião
a mais fundamentada em traços de outras religiões da Antiguidade.
Alguns concluiriam que ele tem pouco a oferecer
assim que se removesse a suposta dependência em Krishna.
Se tivéssemos de deletar dos evangelhos os eventos na
vida de Jesus que parecem similares à história de Krishna,
acabaríamos com o seguinte personagem:
O Jesus das religiões do mundo
• Um itinerante rabino judeu que opera curas, alguém
extremamente humano.
• Um mestre que seguiu em grande medida os ensinamentos
de Hillel (um rabino judeu liberal do século I a.C.).
• Um judeu observante que tinha um relacionamento
especial com Deus — uma ligação tão próxima que
Jesus se referia a Deus pelo termo familiar de Aba.
Isso é muito próximo à imagem de Jesus retratada por
muitos teólogos liberais em sua busca pelo Jesus histórico.
Se fosse para eliminar como inválido os eventos na vida
de Jesus que parecem vir de Krishna, então a maioria das
crenças essenciais cristãs sobre Jesus teria de ser abandonada:
o nascimento virginal, a encarnação, a vida sem pecados, a
crucifi cação, a descida até o inferno, a ressurreição e a ascensão
ao céu. Teríamos de rejeitar o critério da Bíblia para a
salvação, a crença na Trindade, a inerrância bíblica e inspiração
das Escrituras e assim por diante.
No entanto, essas aparentes similaridades entre Jesus e
Krishna podem ser explicadas de inúmeras maneiras. As
pessoas, com frequência, têm experiências similares em situações
similares, e algumas similaridades entre esses dois
personagens históricos podem ser explicadas dessa maneira.
Outras similaridades podem ser o resultado de histórias da
vida de Jesus que passaram a fazer parte das histórias hindus
sobre Krishna. Inúmeros sites fazem referências a esses fatos
idênticos na vida de Krishna e de Jesus. A fonte provável de
toda essa informação é, novamente, o livro altamente duvidoso,
do século XIX, de Kersey Graves.33
O Jesus que nunca existiu
Kersey Graves, de forma conveniente, não fornece fontes
nem citações, uma das principais razões por que esse livro
caiu em descrédito para os estudiosos que trabalham na área
de religião comparada. No entanto, isso não impede que
essa ideia popular apareça em inúmeros sites — e nenhum
deles fornece as fontes ou as citações (além de raramente
mencionar o livro de Kersey Graves). Há boas razões para
essa ausência de evidência. O Bhagavad-Gita (século I d.C.)
não menciona a infância de Krishna, as histórias sobre a infância
dele, registradas no Harivamsa Purana (c. 300 d.C.) e
no Bhagavata Purana (c. 800-900 d.C.), não mencionam, de
forma alguma, esses dons. E mesmo que os mencionassem,
essas obras foram escritas muito depois do nascimento de
Cristo, tornando essa afi rmação um absurdo.34
Os ensinamentos de Jesus comparados aos de Krishna. Várias
passagens do Bhagavad-Gita têm algumas formas de expressão
que podem ser encontradas no Novo Testamento.35
Ideias comuns — sobre a vida e a morte, a obediência e o
julgamento, como também afi rmações que falam da divindade
— estão presentes em todas as religiões.36 É possível
encontrar conexões sem importância entre as palavras de
Krishna e as de Jesus, o Messias judeu. Passaremos a examinar
alguns exemplos.
O Bhagavad-Gita (2:11) diz que uma pessoa sábia não
lamenta pelos vivos nem pelos mortos, e Jesus afi rma em
Mateus 8.22 que os discípulos não deveriam tardar em seguir
a Jesus por estarem esperando pela morte de seus parentes.
Aqui Jesus usa o termo mortos em dois contextos distintos: os
espiritualmente mortos e os fi sicamente mortos. As palavras
são similares, mas o sentido é distinto.
O Jesus das religiões do mundo
Outro exemplo é o tema da imparcialidade de Deus
ou de que ele não demonstra favoritismo (Bhagavad-
-Gita 9.29; veja Rm 2.11; Mt 5.44,45). Entretanto, o texto
do Bhagavad-Gita, quanto ao sentido do texto, apresenta
poucas semelhanças com Mateus 5.44,45. O texto hindu
afi rma que aquelas pessoas equilibradas, livres da contaminação
e com vários atributos positivos são preciosas para
o deus Krishna. Esse não é o sentido do texto de Mateus.
Este afi rma que os que creem em Deus têm de amar as
pessoas que não praticam atos positivos ou não têm atitudes
apropriadas. E o sentido da carta aos Romanos é que
Deus é sincero ao fornecer evidência de si mesmo para
todas as pessoas ao fazer o bem para elas.
Embora o hinduísmo seja mais antigo que a fé cristã, não
é de surpreender que haja certos termos e ensinamentos
em comum. Há um importante contraste, entretanto, entre
a religião de Krishna e a Bíblia. A primeira tem uma ênfase
panteísta (tudo é Deus), ao passo que a última afi rma haver
uma distinção entre Deus e o mundo. Além disso, no hinduísmo,
a humanidade de Krishna e a natureza de Deus são
similares ao erro do modalismo, quando contrastadas com a
doutrina ortodoxa da Trindade (discutido no capítulo sete).
Apesar de o hinduísmo — e a adoração de Krishna em particular
— ser mais antigo que o cristianismo, os escritos mais
antigos existentes do hinduísmo datam de centenas de anos
depois da escrita dos documentos do Novo Testamento, e o
autor desses textos hindus pode ter se apropriado de fontes
cristãs e de outras também.
O Jesus que nunca existiu
Por que Jesus não é Krishna nem o cristianismo
é compatível com o hinduísmo
Para crer que Jesus e Krishna são a mesma pessoa é preciso
aceitar a crença hindu na reencarnação. Jesus, provavelmente,
nasceu milhares de anos após a época em que Krishna
viveu (considerando-se que Krishna realmente existiu). No
entanto, Jesus, de forma distinta da forma de Krishna, veio
em cumprimento às profecias do Antigo Testamento, revelou
a si mesmo como o grande Deus do universo e, como
homem, morreu pelos pecados da humanidade e ressuscitou
dentre os mortos. Além disso, embora possa haver alguma
comparação superfi cial entre Jesus e Krishna, as diferenças
entre o Jesus judeu e o Krishna hindu são mais convincentes.
Jesus e Krishna não são a mesma pessoa.
O cristianismo e o hinduísmo são religiões incompatíveis
e, em muitos aspectos, totalmente apostas — a visão de Deus,
a natureza e a obra do Messias, o pecado e a salvação, entre
outros tópicos. A perspectiva do hinduísmo sobre religião
diz respeito à fi losofi a e à ética, e não à história. Mahatma
Gandhi revela essa visão quando afi rma: “Posso dizer que
nunca tive interesse no Jesus histórico. Para mim, não faz a
menor diferença se ele […] nunca existiu”.37
Gandhi, obviamente, não entende a essência do cristianismo.
Se Krishna nunca existiu, isso não seria relevante, mas
o mesmo não é verdade a respeito de Jesus. A historicidade
de Jesus é essencial para a salvação eterna prometida para
o cristão. Se ele não morreu nem ressuscitou, então ainda
estamos em nossos pecados (1Co 15.12-19).
O Jesus das religiões do mundo

O JESUS DO BUDISMO

As similaridades entre Jesus e Buda
Comparação da vida de Jesus com a vida de Buda. Há pouca
evidência comprovando a existência de Buda. Tudo que sabemos
sobre a vida dele é proveniente dos escritos budistas
produzidos muitos anos após os supostos eventos. A lenda
afi rma que Buda, nascido como Sidarta Gautama, era fi lho
da realeza da região conhecida, hoje, como sul do Nepal.
Ele se casou aos dezenove anos e teve um fi lho. Sidarta, por
volta da idade de trinta anos, aventurou-se para fora de seu
palácio, onde vivia enclausurado, e, supostamente, viu pela
primeira vez um homem idoso, um morto e um asceta. Ficou
tão emocionado com essas imagens que abandonou não
só sua vida de descanso e lazer, mas também a família, para
ser um monge itinerante.
Vagou por seis anos em sua busca da paz interior por intermédio
da prática do asceticismo até que, por fi m, chegou
a um vilarejo no nordeste da Índia. Depois de 49 dias, ele
foi “iluminado” e se tornou o Buda, cujo signifi cado é “o
iluminado”. Ele começou a pregar sua mensagem em todo
o interior do país, convertendo monges ascetas, seus companheiros,
depois sua família e, até mesmo, um rei. Ele viveu
até os oitenta anos. Depois de sua morte ele foi cremado, e
suas cinzas foram espalhadas em várias cidades da Índia. Seus
supostos restos mortais são venerados em vários santuários
da Ásia.
Há poucas similaridades entre Jesus e Buda. Jesus, como
Buda, começou sua vida pública por volta dos trinta anos.
É possível afi rmar que um sinal iniciou o ministério dos
O Jesus que nunca existiu
dois — a iluminação de Buda sob uma árvore e a descida do
Espírito Santo no batismo de Jesus (Lc 3.21,22) — mas também
existem diferenças relevantes. Eles dois jejuaram por
longos períodos antes de iniciar seu ministério, embora, para
Jesus, esse tenha sido um período em que foi testado, não de
autocontemplação, como aconteceu no caso de Buda. Jesus
também levou uma vida simples, similar à de Buda.
Os ensinamentos de Jesus comparados aos ensinamentos de Buda.
Algumas pessoas argumentam que Buda e Jesus praticamente
ensinaram a mesma mensagem, e realmente há algumas semelhanças
entre elas. Os dois ensinaram que o sofrimento é
real e que existe uma causa para ele. Os dois ensinaram que
uma pessoa deve ser compassiva com aqueles a sua volta. Os
dois enfatizaram uma mudança na forma de pensar distinta
do ensinamento religioso prevalente na época deles, mas, na
maioria das outras áreas, há pouca similaridade entre eles.
Por que Jesus não é o Buda
Alguns propõem que Jesus foi a reencarnação de Buda
porque os ensinamentos deles parecem muito similares. Os
budistas acreditam que uma pessoa, quando morre, nasce de
novo. Assim, dependendo de quão bem ela seguiu os ensinamentos
de Buda, ela pode nascer de novo como um animal,
uma pessoa ou, até mesmo, como um ser não físico. Por fi m,
se alguém fi car iluminado por causa da perfeita adesão aos
preceitos do budismo, ele alcançará a cessação do desejo e
do eu e entrará em um estado de nirvana. Buda não estava
muito preocupado com a ideia de divindade. Isso levou
a uma ampla divergência de opinião sobre a divindade no
O Jesus das religiões do mundo
budismo. Esse espectro varia da ausência de divindades a
Buda como a mais alta divindade entre muitas outras.38
Para Jesus, há apenas uma vida sobre a terra. Ele ensinou
que a vida eterna com o Pai ou a punição eterna à parte
do Pai é o estado fi nal da humanidade, não um ciclo recorrente
de morte e reencarnação. O homem não pode fazer
nada para alcançar a vida eterna. Jesus ensinou que isso é o
oposto de olhar para o seu íntimo para encontrar a paz. É só
por meio do olhar para Jesus, pela fé, que podemos alcançar
a vida eterna com o Pai. Tudo isso mostra que Jesus tinha
uma ideia totalmente distinta sobre a divindade que aquela
apresentada por Buda.
O budismo está tão distante do que Jesus realmente
ensinou, isso para não mencionar o fato de que Jesus era
simplesmente a reencarnação de Buda, que chegamos ponderar
por que essa comparação chegou a ser feita.
A razão por que o cristianismo não é compatível
com o budismo
Além das similaridades superfi ciais, há muito mais diferenças
entre os ensinamentos de Jesus e Buda. Elas se estendem
das atividades prescritas até os fundamentos fi losófi cos do budismo.
Essas diferenças são relevantes e comprovam que Jesus
não era budista. Examinaremos os ensinamentos essenciais do
budismo: as quatro nobres verdades e a senda óctupla.
As quatro nobres verdades são as seguintes: (1) o sofrimento
existe; (2) o sofrimento tem uma causa; (3) o sofrimento
pode ser eliminado; e (4) há muitas formas de eliminar o
sofrimento.
O Jesus que nunca existiu
No budismo, a dor, a agonia, a ansiedade
e a insatisfação existem em
cada um de nós, criadas por nosso
próprio desejo.39 Essa é a primeira
verdade. Esse ensinamento refl ete a
crença budista de que a matéria é
transitória — ela só existe em nossa
percepção. Portanto, qualquer sofrimento
é o resultado da imperfeição
interna. Jesus ensinou que o sofrimento
existe, uma realidade da vida.
Ele é muito mais que apenas uma
percepção interna.
A segunda verdade diz respeito à causa do sofrimento.
No budismo, o sofrimento é causado pela paixão, pelo desejo
e pelo apego. Entretanto, Jesus ensinou que o sofrimento
é causado pelo pecado, quer por causa do mundo caído em
que vivemos, quer por causa de nossas ações ou dos outros.
Em Marcos 5.26, uma mulher sofria havia muitos anos de
uma doença. O texto não fornece nenhum indício de que
o sofrimento dela era a consequência da paixão, do desejo
ou do apego. Também, em Lucas 13.1, perguntam a Jesus
sobre o sofrimento de certo grupo de galileus. Jesus disse:
“Pensais que esses galileus, por terem sofrido essas coisas,
eram mais pecadores que todos os outros? Eu vos digo que
não; antes, se não vos arrependerdes, todos vós também
perecereis” (v. 2,3). Essas vítimas sofreram por causa do
pecado de Pôncio Pilatos, não em razão do pecado delas
mesmas. Quando Jesus e os discípulos fi zeram a refeição
pascal, Jesus lhes disse: “Tenho desejado muito comer esta
No budismo,
o sofrimento é
causado pela
paixão, pelo
desejo e pelo
apego. Entretanto,
Jesus ensinou
que o sofrimento
é causado pelo
pecado.
O Jesus das religiões do mundo
Páscoa convosco, antes do meu sofrimento” (Lc 22.15).
Para Jesus, o sofrimento do qual ele fala não era o resultado
do desejo; longe disso.
A terceira verdade das quatro nobres verdades do budismo
é que o sofrimento pode ser eliminado. Jesus ensinou
não só que sofreremos, mas também que isso é necessário:
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois
deles é o reino do céu. Bem-aventurados sois, quando vos
insultarem, perseguirem e, mentindo, disserem todo mal
contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, pois a
vossa recompensa no céu é grande; porque assim perseguiram
os profetas que viveram antes de vós (Mt 5.10-12).
Além disso, Jesus ensinou que era necessário que ele sofresse.
Marcos 8.31 afi rma: “E começou a ensinar-lhes que
era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas,
fosse rejeitado pelos líderes religiosos, principais sacerdotes
e escribas, fosse morto e depois de três dias ressuscitasse”.
Depois que Jesus foi ressuscitado, ele ensinou os discípulos,
mostrando-lhes por que os eventos envolvendo sua crucifi –
cação e ressurreição tinham de acontecer.
Depois lhes disse: São estas as palavras que vos falei, estando
ainda convosco: Era necessário que se cumprisse tudo o
que estava escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas
e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para
compreenderem as Escrituras e disse-lhes: Está escrito que
o Cristo sofreria, e ao terceiro dia ressuscitaria dentre os
mortos; e que em seu nome se pregaria o arrependimento
para perdão dos pecados a todas as nações, começando por
Jerusalém (Lc 24.44-47).
O Jesus que nunca existiu
A quarta verdade descreve o caminho que uma pessoa
tem de percorrer para alcançar a cessação do sofrimento e a
paz, conhecido como senda óctupla.
A senda óctupla é a visão correta, a intenção correta, a fala
correta, a ação correta, o meio de vida correto, o esforço
correto, a atenção correta e a concentração correta.
O primeiro ponto da senda óctupla é a “visão correta”.
Todavia, essa não é apenas qualquer visão. Uma pessoa tem
de ter a visão apropriada de todos os ensinamentos de Buda
para ter a “visão correta”. Apenas com os estudos de Buda
é possível alguém cumprir essa exigência.40 Entretanto, Jesus
ensinou que só quando cremos nele é que podemos ter a
vida eterna. Temos de saber quem Jesus é estudando suas
palavras, não as de Buda.
O segundo ponto é a “intenção correta”, ou “pensamento
correto”. Buda disse que isso envolve três áreas: a intenção de
renúncia, a intenção de boa vontade e a intenção de inocuidade.
41 Enquanto Jesus falou sobre deixar tudo, mas deixar
tudo para, exclusivamente, o seguir (Mt 16.24). Jesus ensinou
seus seguidores a orar pelos inimigos e também ensinou que
a intenção de boa vontade não é sufi ciente. Jesus também
jamais ensinou que deveríamos ser inócuos o tempo todo.
E em uma ocasião, até mesmo, instruiu seus seguidores a que
armassem a si mesmos (Lc 22.36).
O terceiro, quarto e quinto pontos da senda óctupla, algumas
vezes, são agrupados. Eles são a fala correta, a ação
correta e o meio de vida correto. A “fala correta” envolve
não mentir, não caluniar, não usar linguagem áspera e
não se envolver em conversas fúteis e sem benefícios. Esses
pontos parecem ter ressonância com as palavras de
Jesus, mas eles são instruções morais gerais, encontradas na
maioria das grandes religiões do mundo. A “ação correta”,
para o budista, envolve privar-se de qualquer ação que seja
“prejudicial”42 (isso quer dizer não tirar a vida, nem de seres
humanos nem em outros contextos), não roubar e não se
envolver com atos sexuais ilícitos. Embora Jesus nunca tenha
proibido matar (na verdade, ele disse: “Não vim trazer a paz,
mas espada” — Mt 10.34), os outros preceitos também são
universais em sua natureza. Nenhuma das grandes religiões
promove o roubo ou o ato sexual ilícito.
O ensinamento do budismo sobre o “meio de vida correto”
trata da forma como a pessoa ganha seu sustento, ou
seja, é preciso que se ganhe o sustento de forma legal, pacífi
ca, honesta e sem causar danos ou sofrimentos aos outros.
Afi rma-se que Buda mesmo proibiu cinco ocupações específi
cas que violam esses dogmas: lidar com armas, qualquer
trabalho que envolva o comércio de seres vivos (criação de
animais com o propósito de sacrifi cá-los, comércio de escravos
e prostituição são alguns exemplos), a produção de
carne ou abatedouro e criação ou manuseio de venenos
ou substâncias que causem intoxicação (álcool ou qualquer
droga).43 Não há indicação de que Jesus tenha proibido as
pessoas de qualquer ocupação, e ele não desaprovou os sacrifícios
de animais no templo. De fato, ele comeu o cordeiro
da Páscoa. Também interagiu com vários soldados e nunca
os estimulou a abandonar a profi ssão. Ao contrário, ensinou
que o que quer que façamos, devemos fazer isso para glorifi
car o Pai (Mt 5.16).
O “esforço correto” é o sexto ponto da senda óctupla.
Buda ensinou que era necessário o esforço porque
“cada pessoa tem de trabalhar para conseguir a própria
libertação”.44 Isso, é claro, é antitético ao que Jesus ensinou.
Somos libertados apenas por intermédio da obra de Cristo.
Em João 6.44, ele disse: “Ninguém pode vir a mim, se o
Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no
último dia”.
Para Buda, a verdade última de todas as coisas é visível
quando se faz o exame de si mesmo. Esse é o fundamento
do sétimo postulado da senda, a “atenção correta”. A atenção
é “presença da mente, atenção ou consciência”. A fi m de
ser “correto”, é preciso que a pessoa “fi que no presente —
de forma aberta, quieta e alerta — contemplando o evento
presente”.45 Jesus não ensinou isso. Temos de meditar sobre
suas palavras e pensar em como aplicar o ensinamento a nós
mesmos. Sempre temos de pensar em Jesus. Essa é a razão
por que encontramos a verdade em Deus, e não em outro
lugar.
O último ensinamento da senda é a “concentração correta”.
Ela é a “intensifi cação do fator mental presente em
todo estado de consciência […], uma tentativa deliberada
para elevar a mente ou a consciência a um nível mais purifi
cado”.46 Mais uma vez, Jesus nunca ensinou esse tipo de
automeditação. Antes, temos de nos concentrar no seguir os
ensinamentos e em como aplicá-los a nossa vida. Depois,
temos de sair e transmitir os ensinamentos dele para outras
pessoas. O objetivo de Jesus não era para que lutássemos
para alcançar um estado de supraconsciência, mas sim que o
conheçamos e o sigamos.

O JESUS DO ISLAMISMO

As alegações
Islamismo é a fé da qual o judaísmo e o cristianismo surgiram.
É comum ouvir que o judaísmo, o cristianismo e o islamismo
têm uma origem comum, pois todas essas religiões são
capazes de retroceder até o pai comum a todas, Abraão. Por
conseguinte, afi rma-se que adoram o mesmo Deus. Afora
essa compreensão equivocada, mas popular, esses grupos entendem
que o caso não é bem esse.
O islamismo, por exemplo, embora tenha aparecido cerca
de seiscentos anos após a formação do cristianismo e dois
mil anos após o judaísmo (sem contar o tempo do patriarca
Abraão), considera-se o fundador dessas duas religiões: “O
islamismo considera a si mesmo não uma fé subsequente ao
judaísmo e cristianismo, mas a religião primordial, a fé da qual
o judaísmo e o cristianismo são desenvolvimentos subsequentes”.
47 Isso se torna óbvio em dois textos do Alcorão:48
Abraão jamais foi judeu ou cristão; foi, outrossim, monoteísta
[um homem correto], muçulmano, e nunca se contou
entre os idólatras (Áal ’imran: A família de Imran, 3:67).
Disseram: Sede judeus ou cristãos, que estareis bem iluminados.
Respondeu-lhes: Qual! Seguimos o credo de
Abraão, o monoteísta(46), que jamais se contou entre os
idólatras (Al Bácara: A vaca, 2:135).
A partir dessas duas passagens, descobrimos que o Alcorão
não considera Abraão nem judeu nem cristão, mas muçulmano.
Por conseguinte, são os muçulmanos que verdadeiramente
representam a fé de Abraão. Não só Abraão, mas vários profetas
e líderes, como Noé, José, Moisés, Davi e Salomão são
considerados muçulmanos. No Novo Testamento, João Batista
e Jesus (’Isa) são incluídos também nessa lista (Al An’am: O
gado).
O fato de muçulmanos acreditarem em um só Deus não
prova, de forma alguma, que adoram o Deus de Abraão. O
Deus da Bíblia foi adorado por milhares de anos antes do
nascimento de Maomé. Quando ele escolheu o deus lua do
panteão pagão, Alá, como o deus do islamismo, ele não estava
retrocedendo até o verdadeiro Deus dos hebreus, Iavé, e àquele
que Jesus chamou de Pai. Alá é uma divindade pagã abraçada
por Maomé e seus seguidores no movimento da Arábia em
direção ao monoteísmo, mas ele não é o verdadeiro Deus.49
Outra difi culdade com as alegações muçulmanas sobre
Jesus é que o Alcorão foi escrito séculos depois das Escrituras
hebraicas e das gregas. Nenhuma fonte histórica apoiaria a
alegação de que qualquer escrito do islamismo seja anterior
às Escrituras hebraicas ou às Escrituras cristãs. Ademais, a fé
islâmica é consideravelmente distinta da fé do texto bíblico,
sendo criada no século VII, e seus ensinamentos são uma
adaptação das Escrituras judaicas e cristãs que a precederam.
E, embora o islamismo acredite que as Escrituras foram
adulteradas e que o Alcorão represente uma correção desses
desvios, temos em mãos os únicos textos das Escrituras dos
quais Maomé tinha conhecimento,50 e estes são substancialmente
distintos dos ensinamentos e supostos fatos históricos
do islamismo.51
Jesus foi o maior profeta até Maomé. O Alcorão reconhece
Jesus como o Messias (Al Bácara: A vaca, 2:87; Al Máida:
A mesa servida, 5:110), a “Palavra de
Alá” (An Nissá: As mulheres, 4:171),
e como o fi lho de Maria (Máriam), a
virgem, e diz que ele nasceu debaixo
de uma tamareira (Máriam: Maria
19:23). Jesus, em criança, fez muitos
milagres, como falar enquanto ainda
estava no berço (Áal ’Imran: A Família
de Imran, 3:46; Al Máida: A mesa
servida, 5:110; Máriam: Maria, 19:30)
e dar vida a pássaros de barro (Áal
’Imran A Família de Imran, 3:49). Ele
também previu a vinda de Maomé (As Saf: As fi leiras, 61:6).
No islamismo, Jesus é conhecido como ’Isa e é profeta
do islamismo — na verdade, o maior depois de Maomé.
Supostamente, ele era leal ao muçulmano (“aquele que se
rendeu”) e mestre do islamismo (“render”) (Áal ’Imran A
Família de Imran, 3:84). Entretanto, a mensagem (Injil, ou
evangelho, Al Máida: A mesa servida, 5:46) de Jesus foi, por
fi m, perdida e, depois, adulterada por cristãos de épocas posteriores,
de forma que o Alcorão é o único guia confi ável
para os verdadeiros ensinamentos de Jesus: “Para Deus a religião
é o Islam. E os adeptos do Livro só discordaram por
inveja, depois que a verdade lhes foi revelada. Porém, quem
nega os versículos de Deus, saiba que Deus é Destro em
ajustar contas” (Áal ’Imran: A Família de Imran, 3:19).
Em contrapartida, Jesus nunca é chamado de ’Isa52 fora
do islamismo, nem por qualquer nome que se assemelhe a
isso, como uma variante do hebraico, aramaico ou árabe. O
nome de Jesus em hebraico é Yeshua, que quer dizer “Iavé é
Nenhuma fonte histórica apoiaria a alegação de que
qualquer escrito do islamismo seja anterior
às Escrituras hebraicas ou às Escrituras cr istãs.
a salvação”. Esse nome veio para o grego como Iesou-s. Além
do mais, o Alcorão tem muitos erros factuais, pois utiliza
muito o conhecimento dos ensinamentos cristãos fundamentado
em rumores, no que ele ouviu dizer.53
Também, e especialmente relevante, é o fato de Jesus ser
retratado no Alcorão como superior a Maomé em todos os
aspectos, fazendo-nos questionar a razão por que seus ensinamentos
não deveriam ser aceitos acima dos ensinamentos
de Maomé, transformando-o no maior profeta do islamismo,
mesmo que não seja visto como o Filho de Deus.
Diferenças entre o Jesus do islamismo
e o Jesus verdadeiro
Ele nasceu de uma virgem. De acordo com o Alcorão, Jesus
nasceu da virgem Maria, a única mulher mencionada por
nome no Alcorão (Surata 3:42; 21:91; 66:12; 23:50), algo
reiterado com frequência no Alcorão pela expressão “fi lho
de Maria” para se referir a Jesus (’Isa). Jesus foi criado pela
palavra de Deus (Surata 3:47) e foi poupado do “toque”
de Satanás: “Quando qualquer ser humano nasce, Satanás
o toca nas duas extremidades do corpo com seus dois dedos,
exceto Jesus, o fi lho de Maria, a quem Satanás tentou
tocar, mas falhou em seu intento, pois, em vez disso, tocou
a placenta” (Sahih Bukhari, vol. 4, Hadith 506).54 Não se
declara que tudo isso mencionado é verdadeiro em relação
a Maomé.
Ele é o Messias de Deus. No Alcorão, Jesus, além de ’Isa,
é também chamado de Al-Masih (o Messias), similar a
ha-mashiach no hebraico, algumas vezes em combinação
com ’Isa, e outras vezes o termo aparece sozinho. A palavra
hebraica quer dizer “o ungido”, referindo-se ao rei
de Israel, particularmente da linhagem de Davi.55 Muitos
intérpretes muçulmanos, entretanto, procuram relacionar
Al-Masih à palavra árabe sah, ou seja, “perambular, sondar,
sair em peregrinação”.56
A compreensão de “perambular” para o termo hebraico
mashiach, entretanto, é inadmissível. O termo fala daquele
que foi ungido por Iavé, algumas vezes o sacerdote ou outro
líder que foi ungido, mas, de forma ainda mais importante, o
redentor de Israel (Dn 9.25) e, no Novo Testamento, aquele
que veio dar a si mesmo por seu povo (Mt 20.28; Mc 10.45;
Jo 1.1-18). Esse termo também é considerado sinônimo do
Filho de Deus (Mt 16.16; 26.63; Mc 1.1; Lc 4.41; Jo 11.27;
20.31). Não é possível encontrar um paralelo como esse entre
Jesus e Maomé.
Ele é o profeta de Deus. Para os muçulmanos, Jesus é um
grande profeta, abaixo apenas de Maomé. Afi rma-se que ele
recebeu o Injil, ou evangelho, para entregá-lo ao povo judeu
(Surata 19:31; 4:169; 3:48; 4:46), algo que está em concordância
com o Novo Testamento (Lc 4.18; 10.21). Todavia,
embora muitos considerem Jesus profeta, ele não se considerava
apenas profeta; ele era maior que todos os profetas,
incluindo Abraão (Mt 22.45; Lc 11.31,32; Jo 8.54,56).
Ele fez milagres. Jesus, de acordo com o Alcorão, operava
milagres, incluindo, assim parece, a alimentação de
cinco mil homens, registrado em Marcos 6.30-44 (Surata
5:112-114). O Alcorão também fala de Jesus dando vida às
pessoas — sem especifi car detalhes, mas possivelmente se
referindo a Lázaro (Jo 11.38-44). É possível que o material
do Alcorão se fundamente em histórias que cristãos contaram
aos muçulmanos.
Em outros trechos, os milagres apresentados no Alcorão
são similares às lendas apócrifas, como a de Jesus trazer à
vida pássaros feitos de barro,57 e isso pode ser parcialmente
explicado pelo fato de que os milagres de Jesus são registrados
no Alcorão sem qualquer explicação, mas os relatos dos
evangelhos demonstram que os milagres (“sinais”, em João)
são fornecidos para comprovar que ele era o Messias, o Filho
de Deus (Jo 20.30,31), incluindo o maior milagre de todos
— a ressurreição dentre os mortos.
A predição de Jesus sobre Maomé. Uma das afi rmações mais
incomuns do islamismo é que Jesus profetizou a vinda de
Maomé: “E de quando Jesus, fi lho de Maria, disse: Ó israelitas,
em verdade, sou o mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante
de tudo quanto a Torá antecipou no tocante às predições,
e alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim, cujo
nome será Ahmad!” (As Saf: As fi leiras, Surata 61:6).
Considera-se que essa passagem se refere a Maomé,
mas o problema diz respeito ao nome Ahmad. Maulama
Muhammad Ali busca corrigir essa confusão: “Aqui, é-nos
dito que Jesus entregara as boas-novas sobre o advento do
profeta que viria após ele e cujo nome é Ahmad. É fato
histórico muito conhecido que nosso profeta era conhecido
por dois nomes: Maomé e Ahmad”.58
Na realidade, o uso de Ahmad para Maomé começou a
ocorrer aproximadamente um século depois que o Alcorão
foi escrito e é uma corruptela do texto alcorânico. Desconhecia-
se essa alegada profecia de Jesus até que o Alcorão
fosse escrito, seiscentos anos depois do ministério terreno de
Jesus, portanto ela não tem credibilidade histórica.
E, por último, temos a profecia sobre Maomé em
João 14.26,27, a promessa do Espírito Santo. A palavra para
Consolador ou Auxiliador (NTLH) no texto grego é parakletos,
cujo signifi cado é “aquele que vem para ajudar alguém,
um advogado ou conselheiro”.59 Os muçulmanos argumentam
que o texto foi adulterado, pois o termo correto seria
periklutos.60
Esse argumento não tem mérito algum:
1. No documento existente do manuscrito de J oão temos
o termo periklutos como uma leitura possível. Conforme
afi rmado anteriormente, os manuscritos que têm
parakletos eram os manuscritos em circulação à época de
Maomé e, portanto, não seria uma adulteração de algum
texto anterior. Esse foi o único texto do Novo Testamento
ao qual Maomé poderia se referir. É comum os
muçulmanos afi rmarem que o Novo Testamento, sempre
que ele difere do Alcorão, foi adulterado; contudo,
isso viola o próprio Alcorão que considera que o Novo
Testamento foi inspirado por Alá porque ninguém pode
mudar as palavras de Deus (Surata 6:34; 10:64).
2. O termo parakletos é utilizado para se referir ao
Espírito Santo pelo nome, e não a Maomé (Jo 15.26).
Para esse versículo referir-se a Maomé, isso exigiria
não só a adulteração da palavra, mas também a reescrita
de toda a passagem.
3. O termo periklutos, a alegada leitura correta, é uma
palavra grega do período clássico e não ocorre no
Novo Testamento, nem no léxico bizantino ou
patrístico, portanto é questionável que fosse usado durante
o período em que o Novo Testamento grego foi
escrito. Ele quer dizer “famoso” ou “renomado”.61
Isso difi cilmente se ajustaria ao contexto do que o
parakletos tem de fazer, ajudar o crente, em vez de
promover a si mesmo.
4. O parakletos não fala de si mesmo, mas de Jesus, e isso
exigiria que Maomé levasse o povo a Jesus, em vez de
a si mesmo ou a uma nova religião.
5. O Espírito Santo seria enviado para que Jesus se tornasse
conhecido, portanto se Maomé fosse o Paracleto, então
teríamos de concluir que o Alcorão veio de Jesus.
6. O cumprimento era para acontecer com os discípulos;
assim, seiscentos anos depois seria muito tarde.
7. Por último, o Paracleto viveria para sempre com os discípulos,
ao passo que Maomé viveu apenas 63 anos.62
A razão por que Jesus veio. De acordo com o ensinamento
islâmico, Jesus veio para chamar o povo judeu à obediência
a Alá, mas chamar o povo judeu para retornar à prática
correta do islamismo (equivocadamente considerado como
anterior ao judaísmo) é, difi cilmente,
a razão por que Jesus veio para a
terra. O texto bíblico relata-nos que
ele era o Cordeiro de Deus que veio
tirar o pecado do mundo (Jo 1.29),
salvar “seu povo dos seus pecados”
(Mt 1.21) e dar “a vida em resgate
de muitos” (Mc 10.45).
A segunda vinda de Jesus. Nossa
última consideração, como Jesus
é visto como o juiz vindouro, está
Jesus […] matará
um Messias
impostor, casarse-
á e terá filhos,
viverá quarenta
anos e será
enterrado ao lado
do sepulcro de
Maomé.
O Jesus das religiões do mundo
baseado em dois versos do Alcorão. A Surata 41:59 afi rma:
“Nenhum dos adeptos do Livro deixará de acreditar nele
(Jesus), antes da sua morte, que, no Dia da Ressurreição,
testemunhará contra eles”. Esse verso, de acordo com a interpretação
muçulmana, indica que os judeus e os cristãos
(“adeptos do Livro”) acreditam na morte de Jesus na cruz,
e Jesus usará isso contra eles no dia da ressurreição. Outro
verso, Surata 43:61, afi rma: “E (Jesus) será um sinal (do advento)
da Hora. Não duvideis, pois, dela, e segui-me, porque
esta é a senda reta”. Essa passagem ocorre em um capítulo
que diz respeito a Jesus como profeta e esse verso indica que
Jesus pediu às pessoas para seguirem na senda correta de Alá
(Surata 43:64).
Os muçulmanos acreditam que, por fi m, todos os judeus
e cristãos acreditarão em Jesus quando ele vier novamente
para ocupar um papel subordinado sob o líder muçulmano
e demonstram total aderência ao islamismo. Supostamente,
ele matará um Messias impostor, casar-se-á e terá fi lhos, viverá
quarenta anos e será enterrado ao lado do sepulcro de
Maomé.
Obviamente, o pensamento cristão sobre a vinda de
Cristo é totalmente antagônico ao que descobrimos no
Alcorão. Jesus veio buscar sua igreja para si mesmo na ressurreição
e, conforme meu entendimento das Escrituras,
quando ele vier depois do período de tribulação, estabelecerá
o reino prometido a Davi e a Israel. Na primeira porção de
sua segunda vinda, ele resgata sua noiva (1Ts 1.10; 4.15-17;
1Co 15.50-54); e, na porção fi nal, ele vem para julgar e reinar
sobre a terra (Ap 19.11–20.6; 22.7-13).

A RAZÃO POR QUE TODAS AS RELIGIÕES NÃO
PODEM SER VERDADEIRAS

Argumenta-se com frequência que todas as religiões levam
à pessoa de Deus. Supostamente, toda religião possui um
aspecto da verdade total, e, por fi m, todo mundo chega ao
mesmo lugar por intermédio do caminho que escolheu
percorrer. Utiliza-se, muitas vezes, a ilustração a seguir para
explicar como pontos de vista distintos podem ser todos
uma parte importante da verdade total.
Seis homens cegos se aproximam de um elefante e começam
a debater sobre aquilo que se encontra diante deles.
Um deles toca a lateral do elefante e diz que é um muro.
Outro segura a tromba do elefante e afi rma que é uma
cobra. O terceiro cego toca a perna e a chama de árvore,
e o quarto afi rma que o dente do elefante é uma lança. O
quinto homem segura a cauda e acha que ela é uma corda,
e o último cego considera que a orelha é um abanador.
Nenhum dos homens cegos tinha toda a verdade; cada um
deles tinha apenas uma porção da verdade.
O mesmo, segundo se argumenta, é verdade com as religiões
do mundo. Cada religião busca explicar a verdade
sobre Deus, e cada uma delas tem uma porção da verdade.
Apenas ao reunirmos toda a informação é que podemos
chegar à verdade.
O que está implícito nesse argumento é que não há
acesso absoluto à verdade. Todos nós buscamos a verdade,
mas somos como os homens cegos dessa história, pois temos
uma compreensão incompleta de Deus. O que não
se reconhece nessa ilustração é que nenhum dos homens
cegos chegou a alguma verdade. Todos eles estão errados
sobre o que estavam examinando e nunca chegaram a ter
uma perspectiva geral que permitisse que eles soubessem
que, realmente, estavam tocando um elefante. Os homens
necessitavam ser curados de sua cegueira para que pudessem
ver a insensatez da análise deles e reconhecer o elefante
que estava diante deles.
Todas as religiões do mundo, da mesma forma como se
conclui essa analogia, nunca realmente chegam ao conhecimento
de Deus porque as pessoas são cegas e incapazes de
conhecer a verdade. As Escrituras dizem que o deus deste
mundo cegou a mente daqueles que perecem (2Co 4.4); é
necessário a revelação de Deus para que as pessoas venham
para a verdade (Mt 16.17; Jo 6.65).
Como as várias religiões do mundo têm posições contraditórias
em relação à natureza de Deus, ao pecado, à
salvação e às outras crenças, todas elas não podem estar
corretas sobre o que é verdade. A lei básica da lógica é chamada
de a lei da não contradição. Duas proposições opostas
uma à outra não podem ser as duas verdadeiras ao mesmo
tempo. Meus alunos não podem estar fi sicamente na sala de
aula durante minha aula e, ao mesmo tempo, não estar ali.
Isso representaria uma violação da lei da não contradição.
No entanto, eles podem estar fi sicamente em minha sala de
aula e, ao mesmo tempo, não estar mentalmente ali (com a
mente vagando por aí), e chamamos a isso de paradoxo.
A verdade, em sua natureza, é objetiva e descoberta,
não inventada. Ela é o que corresponde à realidade. Por
exemplo, a terra é redonda, não quadrada. Se uma dessas
afi rmações é verdadeira, a outra não o é. Não posso tornar
algo verdade se isso já não for verdade; posso descobrir que
isso é verdade e aceitar ou rejeitar essa verdade. Algumas
pessoas podem afi rmar que a verdade não é absoluta, ou que
ela é relativa. Essas perspectivas são autodestrutivas. Dizer
que não existe o absoluto é afi rmar um absoluto. Dizer que
não existe verdade objetiva é reconhecer um absoluto. Dizer
que toda verdade é relativa é fazer uma afi rmação absoluta.
A verdade por necessidade também é sempre estreita.
Se fosse para eu dizer que toda religião é verdadeira, excluiria,
por necessidade, qualquer ponto de vista sobre a
veracidade das religiões. O que é realmente verdade sobre
a palavra exclui todas as outras possibilidades sobre a
afi rmação da verdade que criamos. Dois mais dois é igual
a quatro, independentemente do que alguém possa dizer,
o resultado nunca pode ser seis, dez, quinhentos ou outro
número. Todas as outras afi rmações da verdade se comportam
dessa forma.
Quando pomos várias religiões ou seitas lado a lado, descobrimos
um número excessivo de perspectivas contraditórias,
uma em oposição à outra, além de também contradizerem
a Bíblia.63 Não é possível que todas elas sejam verdadeiras, e
aquelas contrárias à Bíblia são simplesmente falsas.
Jesus não disse que o Espírito Santo era o Espírito da
diversidade, mas sim que era o Espírito da verdade e que ele
levaria os apóstolos à verdade (Jo 16.12-15). Jesus também
disse que ele era a verdade, o caminho e a vida (Jo 14.6), não
uma verdade, um caminho e uma vida. Ninguém vem ao
Pai exceto por intermédio dele. Essa perspectiva é estreita
e exclusiva.
O cristianismo, conforme tradicionalmente se acreditou
por dois mil anos, é “perigoso, destrutivo e aviltante” aos
olhos dos membros de um simpósio sobre Jesus e Buda, conforme
vimos no início deste capítulo. Acreditar que Jesus é
o único Salvador do mundo, que ele é Deus em carne e que
é necessário crer nele para ter a vida eterna, supostamente,
é um ponto de vista prejudicial. A questão que não se trata
nessa afirmação é se o cristianismo, conforme historicamente
entendido, é verdade.
A tentativa de fazer que o cristianismo seja meramente
uma religião em meio a tantas outras é a perspectiva que
teria sido aprovada por Roma que sustenta a perspectiva inclusivista.
É a afirmação dos cristãos de que Jesus é o único
Salvador, Deus e Senhor que os fez entrar em choque com
as autoridades romanas.
O cristianismo, no entanto, não foi bem-sucedido no
mundo romano da Antiguidade ao rebaixar Cristo a um líder
religioso dentre muitos outros. E, tampouco, essa abordagem
será bem-sucedida na presente era. O Jesus das religiões do
mundo é um Jesus que nunca existiu. O verdadeiro Jesus
das Escrituras canônicas tinha o propósito singular para vir
à terra, e seus ensinamentos contradizem aqueles das outras
religiões do mundo.

Fonte:http://istoe.com.br/33861_O+JESUS+DAS+OUTRAS+RELIGIOES+/



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