As 6 perfeições para a iluminação
Hoje
celebramos o “Ohigan” (20 de março). “Ohigan” é comemorado duas vezes por ano,
durante o equinócio da primavera e do outono que é a época do ano em que o dia
e a noite tem a mesma duração. O “Ohigan” também é um momento de transição
entre os dias curtos de inverno e os longos dias de verão, ou o inverso. Como
um momento de transição sazonal, também representa as transições da vida
humana, desde o verão da vida até o inverno escuro da morte. É por isso que o
“Ohigan” é um momento para recordar aqueles que já faleceram, particularmente
os nossos antepassados e entes queridos. É também um tempo para dar atenção a
outro tipo de transição, desta margem do nascimento e da morte para a outra
margem do esclarecimento, no qual o nascimento e a morte são transcendidos. Na
verdade, nós recitamos o Odaimoku e o Sutra do Lótus com a finalidade de
permitir que cheguem à outra margem, a do despertar, tanto aqueles que estão
vivos quanto aqueles que estão falecidos, por quem dedicamos os méritos de
nossa prática.
Para
qualquer tipo de viagem é preciso fazer as malas, ou tomar providências. Mesmo
uma viagem de curta duração exige que se prepare uma muda de roupa e artigos de
higiene pessoal, como barbeador, desodorante, e assim por diante. Que tipo de
provisões, então, que precisamos de viagem para a margem da iluminação? Neste
caso, um kit de barbear ou toalhas não serão suficientes. Precisamos de algo
que seja menos substancial e ao mesmo tempo mais real. De acordo com o Budismo
Mahayana, quem aspira à iluminação vai precisar daquilo que é chamado de “os
seis paramitas”. “Paramita” é geralmente traduzido como “perfeição”, ou seja,
“seis perfeições.” Mas, na verdade, significa “atravessar”. Então, essas são as
seis características daqueles que são capazes de atravessar desta margem do sofrimento
para a outra margem, a da iluminação, e que, além disso, são capazes de ajudar
os outros a fazer essa transição e cruzar em segurança.
No Sutra
sobre Desvendar os Mistérios (em sânscrito Samdhinirmochana Sutra), o Buda
explica estas seis provisões para fazer a travessia ao Bodhisattva Kannon,
Aquele que ouve os Clamores do Mundo, que perguntou ao Buda: “Quantas coisas
devem os bodhisattvas aprender?” O Buda respondeu: “Em geral, seis coisas os
bodhisattvas devem aprender: generosidade, disciplina, paciência, diligência,
meditação e sabedoria”
Mais
adiante, Kannon pergunta: “Quantos tipos diferentes de cada um dos seis
paramitas existem?” O Buda respondeu: “Existem três tipos. Os três tipos de
generosidade (doação) estão em doar de bens, doar o ensino, e dando o
destemor.” O Buda então começa a explicar cada um dos seis paramitas em termos
de benefício mínimo, um benefício de longo alcance e um benefício
verdadeiramente transcendente ou altruísta. Ele começa com o paramita de
doação. Doação de bens materiais é útil, mas dar às pessoas o ensinamento
através do qual elas podem se ajudar é ainda melhor. O melhor de tudo é lutar
sem medo por pessoas em momentos de necessidade ou sofrimento, mesmo colocando
em risco sua reputação ou até mesmo a própria vida.
“Os três
tipos de disciplina são a disciplina de cada vez mais abrir mão daquilo que não
é bom, a disciplina de cada vez mais desenvolver aquilo que é bom, e a
disciplina de cada vez mais beneficiar todos os seres.” Aqui vemos que a
disciplina não é apenas autocontrole, mas é a ação de trabalhar ativamente para
o bem estar dos outros.
“Os três
tipos de paciência são a paciência para suportar a calúnia, a paciência para
ter serenidade no sofrimento, e a paciência para observar a verdadeira
realidade.” Aqui alguém é paciente mesmo com aqueles que nos têm causado ofensa
ou mesmo danos. Mas o melhor mesmo é ser paciente com todas as formas de
sofrimento, não desanimar e seguir em frente. A última é a mais notável e
especial para os bodhisattvas. Enfrentar todas as coisas como elas realmente
são, isto é a impermanência e o vazio de todas as coisas requer muita paciência
e coragem. No início, os ensinamentos sobre o “não-eu” e o “vazio” são
extremamente desconcertante, mas com paciência os bodhisattvas chegam a perceber
que as coisas, inclusive a verdadeira natureza de nossas próprias vidas, não
são “vazias e sem sentido”, mas “vazias e maravilhosas.” Este é uma conversa
para outro dia, mas por agora vamos apenas notar que o próprio Buda percebeu
que o próprio Buda Dharma requer muita paciência e coragem para compreender e
apreciar.
“Os três
tipos de diligência são a diligência como armadura, a diligência como o esforço
focado para o desenvolvimento cada vez maior de boas qualidades, e a diligência
do esforço focado em ajudar os seres sencientes.” Diligência como armadura
significa que a maior proteção que podemos ter é nos esforçar continuamente
para superar nosso próprio egoísmo e falta de visão, bem como contra qualquer
sofrimento que possamos nos confrontar. Evitar maus hábitos e reduzir aqueles
que já temos pode ser apenas um começo, no entanto. Nós também precisamos
cultivar ativamente o bem. Mas, além disso, os bodhisattvas fazem esforços para
o bem de todos os seres.
“Os três
tipos de meditação são meditação em um estado de felicidade sem pensamento
discriminativo, quieto e silencioso, extremamente tranquilo e impecável, que
pode curar as dores das aflições; meditação que traz qualidades virtuosas e
poderes, e a meditação que traz benefício para os seres sencientes.” Aqui se
fala em meditação primeiramente em termos dos vários estados de calma
permanente, os dhyanas de onde a palavra Zen vem. Algumas formas de meditação
presentes nos sutras concedem poderes milagrosos que podem ser usados para
ajudar a todos os seres. O melhor de tudo é atingir um estado de meditação onde
a paz e a felicidade é comunicada a todos os seres, assim, inspirando-os a
iniciar a sua própria prática.
“Os três
tipos de sabedoria são a sabedoria convencional focada na verdade mundana, a
sabedoria focada na verdade suprema, e sabedoria focada em beneficiar os seres
sencientes.” A verdade mundana convencional cobre tudo, desde o velho senso
comum até à física teórica, mas a coisa mais importante é agir com habilidade
no mundo, de modo a beneficiar os outros. A verdade última é perceber o vazio
onde todas as coisas estão inter-relacionadas de forma dinâmica e toda a
dualidade é transcendida. O melhor de tudo é perceber qual a melhor forma de
usar o seu despertar para ajudar todos os seres a também despertar para a
verdade.
Estes
são os seis paramitas , os seis tipos de qualidades que nos permitem passar da
ilusão para a iluminação, do nascimento e morte para a imortalidade. De acordo
com Nichiren no Kanjin Honzon Sho : “… O mérito de Buda Shakyamuni em praticar
a via do bodhisattva que conduz à Iluminação, assim como pregar e salvar todos
os seres vivos desde que ele atingiu o estado de Buda, está totalmente contido
nos cinco caracteres do Myo Ho Ren Ge Kyo. Conseqüentemente, quando nós nos
devotamos à esses cinco caracteres, os méritos que ele acumulou antes e depois
de seu Despertar, são naturalmente trazidos até nós. ”
Isso
significa que devemos ouvir a descrição dos seis paramitas como uma promessa de
que estas são as qualidades que vamos encontrar dentro de nossas próprias vidas
e que devemos as cultivar mais e mais com base na nossa convicção no Namu Myoho
Renge Kyo.
Esta
frase curta é uma semente que plantamos em nossas vidas e que cultivamos cada
vez que a recitamos, e os seis paramitas estão entre os inúmeros frutos que
essa semente vai produzir em nossas vidas. Vamos recitar Namu Myoho Renge Kyo
com plena confiança e alegre expectativa nos frutos transcendentes que serão
nossas provisões para atravessar para a outra margem, a margem do despertar
perfeito e completo e da ação compassiva sem limites em nome de todos os seres.
*texto
do rev. Ryuei Mccormick Shonin, da Nichiren Shu.
**crédito da imagem: http://500px.com/photo/6717984
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