MORTE É ENCARADA COM BOM HUMOR E ALEGRIA EM CEMITÉRIO DA ROMÊNIA

Morte é encarada com bom humor e alegria em cemitério na Romênia


Túmulos coloridos e lápides, com poesias e piadas, contando a vida das pessoas são encontrados em inusitado ponto turístico romeno.


Nos confins da Romênia, em uma região chamada Maramures, a morte se veste de azul. Os desenhos coloridos, com traços quase infantis, são sepulturas, é o cemitério de Sapanta, conhecido também como o ‘cemitério feliz’.
Mais do que uma questão estética, em que todo o colorido e os desenhos das lápides despertam tanta curiosidade, o cemitério feliz mostra que os moradores de Sapanta tem um jeito diferente de encarar a morte e até de brincar com ela.

Lápide tem verso bem humorado dedicado por um homem à sogra

O padre Justin Leon, da paróquia de Sapanta, explica que antes mesmo da chegada do cristianismo à Romênia, quase 2 mil anos atrás, já havia entre moradores da região a crença de que a morte seria o início da vida. “As lápides descrevem a vida do morto. E é a verdade, mesmo que não seja muito boa. Por exemplo, se o morto era preguiçoso, vai estar lá. Se gostava de beber, também”, explica o padre Justin Leon.
Entre as lápides, não é difícil encontrar as que tem versos bem humorados. Como os dedicados por um homem à sogra: "debaixo desta pesada cruz está minha querida sogra. Três dias mais que ela tivesse vivido, seria eu que estaria aqui enterrado."
Costume de fazer as lápides coloridas começou 80 anos
Os turistas se divertem caminhando entre os túmulos.
“Normalmente você entra num cemitério e começa a chorar. Aqui, entra, e começa a rir”, diz a turista Karina Marza.
O costume de fazer as lápides coloridas começou 80 anos atrás, com Stan Patraş, um artista local que também está enterrado em Sapanta. Mas ele deixou seguidores e Dumitru Pop é um deles. O artesão leva até três semanas para terminar uma lápide.
“É um trabalho que exige o domínio de três artes: a pintura, a escultura e a poesia”, explica o artesão Dumitru Pop.
Perguntamos se ele já sabe o que quer na própria sepultura.
“Eu não penso muito nisso, mas eu também já tenho os meus aprendizes. Eles me conhecem muito bem e vão saber o que fazer”, conta Dumitru.

Mosteiro de Barsana é símbolo da religiosidade do povo romeno


Assim como os mortos de Sapanta, Maramures também tem a história escrita na madeira. Na região, há muitas florestas e as árvores são uma das principais fontes de matéria-prima para as construções. As igrejas têm uma arquitetura única - são as mais altas igrejas de madeira do mundo. Uma, dedicada a São Miguel, tem quase 80 metros de altura.
As construções mostram o requinte de carpinteiros habilidosos, como no mosteiro de Barsana. O mosteiro é um dos lugares mais visitados da região. Construído em 1993, ele reproduz o estilo dos mosteiros do século XIV e é um símbolo também da religiosidade do povo romeno, pois 96% da população é cristã - a maioria ortodoxa.
Em uma oficina, troncos de carvalho são cortados e esculpidos por uma equipe afiada. E, de golpe em golpe, se transformam em portões enormes e imponentes - outra tradição em Maramures.
Seu Teodor Barsana, de 71 anos, é o artesão mais conhecido da vizinhança. Já perdeu a conta de quantos portões esculpiu em 50 anos de profissão. Mas nem todos moradores mantém os portões tradicionais. Dona Maria Borlea vendeu o dela, de quase 40 anos, porque precisava de dinheiro.
Ela chora de saudades ao falar da filha e dos netos que foram morar na Itália e na Espanha, em busca de melhores empregos, uma situação muito comum na Romênia.


Cultura de séculos se mantém praticamente intacta em Maramures

Maramures fica bem na fronteira da Romênia com a Ucrânia que não faz parte dos países da União Europeia. Ali, apenas um rio e uma extensa faixa de floresta separam os dois países. Ao longo de toda fronteira, a vigilância é de 24 horas por dia, por ser área de segurança nacional.
Boa parte da população desta região da Romênia ainda vive no campo, em pequenas propriedades. E é nas feiras livres, nas cidades, onde tudo acontece. Ali os moradores se encontram e vendem produtos tradicionais da Romênia, principalmente chapéus e lenços, que são muito coloridos. Em Maramures a cultura de séculos se mantém praticamente intacta. É também uma das regiões mais pobres e menos exploradas da Romênia.
Ileana fabrica roupas de lã de carneiro e o maquinário parece ter saído da idade média. No barracão escuro, a engenhoca que compacta a lã é movida por uma roda d'água. Ileana vai para a cozinha preparar uma refeição típica de Maramures para a nossa equipe. A cozinha é apertada, mas é o ambiente mais quentinho da casa, e tudo é preparado no maior capricho. A refeição está pronta e a Eliana preparou dois pratos típicos desta região da Romênia que é o samale, o charuto com folha de repolho, e a placinta, que é uma massinha frita para ser saboreada com creme à base de leite.

Fonte:http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2015/03/morte-e-encarada-com-bom-humor-e-alegria-em-cemiterio-na-romenia.html

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