CASTELOS DA TRANSILVÂNIA LUCRAM COM A FAMA DE DRÁCULA

Famílias donas de mais de 100 castelos na região romena tentam recuperá-los e criar atrações turísticas (Foto: Getty)
Famílias donas de mais de 100 castelos na região romena tentam recuperá-los e criar atrações turísticas (Foto: Getty)

Castelos da Transilvânia lucram com a fama de Drácula

Famílias tentam recuperar mais de 100 castelos tomados pelo regime comunista na Romênia; proprietários tentam lucrar com turismo para pagar despesas.


No fim das contas, os donos de castelos da Transilvânia tiveram que se preocupar com os vampiros, e não com os comunistas.
Durante séculos, esta região histórica na Romênia central – que inspirou o romance de horror de 1897 Drácula, de Bram Stoker – abrigou aristocratas que construíram ali mais de 100 castelos.
Isso mudou repentinamente quando o partido comunista romeno conquistou o poder no fim da Segunda Guerra Mundial e tomou as propriedades – a maioria delas foi deixada sem manutenção.
Alguns dos donos de castelos conseguiram escapar do país, enquanto outros foram deixados na penúria.
Após a revolução romena de 1989, que removeu os comunistas do poder, seus descendentes começaram o lento processo para tentar recuperá-los.
Em 2005, uma mudança na lei abriu as portas para que eles eles conseguissem os títulos de suas propriedades. Mas não havia recursos financeiros suficientes para mantê-las.

De nobres a empreendedores

Recuperar os castelos implica pagar altos honorários a advogados e, caso sejam bem sucedidos, gastar bastante dinheiro reformando os locais.

A maioria dos proprietários havia perdido as fortunas familiares acumuladas antes da guerra. Por isso, tiveram que passar de nobres a empresários.
É o caso de Kalman Teleki, cuja família teve um castelo barroco – próximo a Gornesti, no norte da Romênia – tomado pelo governo comunista.
Teleki era criança quando isso aconteceu, mas ele se lembra que a família foi obrigada a viver durante 19 anos em um pequeno apartamento no porão do castelo.
Ele conseguiu estudar engenharia química e deixar a Romênia em 1982, quando foi viver na Bélgica.
Há três anos, o engenheiro recuperou o Castelo Teleki depois de pagar cerca de 20 mil euros (R$ 63 mil, no câmbio de hoje) no processo jurídico.
"Eu abro os portões do meu castelo para festas, casamentos, shows e grupos de turistas. Tenho que encontrar um propósito para ter um castelo no século 21", diz Teleki, de 67 anos, que é carinhosamente chamado de "o conde" pelos vizinhos.
Ele cobra entre 500 e 2.500 euros para alugar o edifício e – mesmo que a demanda flutue – ele diz que sua meta é ter "pelo menos um evento por semana".
Ao mesmo tempo, Teleki permite que turistas, sozinhos ou em grupos pequenos, visitem o castelo gratuitamente. "Mas não recusamos doações, é claro", diz.
Teleki diz que o governo poderia colaborar com seu negócio modernizando as estradas rurais na Romênia e investindo mais para promover o turismo no país.
Mas ao mesmo tempo, ele diz que é motivado pela fascinação que as pessoas continuam a ter pela Transilvânia.
'Uma missão'
Gregor Roy Chowdhury precisou de "10 anos de batalhas judiciais" para recuperar legalmente o castelo de sua família.

Localizado próximo ao vilarejo de Zabala, o castelo Mikes foi usado como hospital psiquiátrico durante o regime comunista.
A mãe de Chowdhury, condessa Katalin Mikes, fugiu da Romênia aos 16 anos e viveu na Austrália, onde se casou com um homem de Bangladesh.
Os dois filhos da condessa, Gregor e Alexander, agora administram o castelo e a propriedade, apesar de terem conseguido a posse de apenas um terço das terras que a família Mikes possuía.
Gregor Chowdhury, que trabalhava em um banco de investimentos em Londres, diz que manter o castelo é "mais uma missão do que um emprego, aqui é minha casa".
O local agora funciona como pousada, com um de seus edifícios auxiliares convertido em 10 quartos. Os irmãos pretendem duplicar essa capacidade em 2015. A pousada oferece culinária tradicional da Transilvânia, como gulash, frango ao limão e um licor típico chamado palinka.
Chowdhury diz que o castelo recebe até 2 mil hóspedes por ano, a maioria vindos da capital romena, Bucareste. Ele emprega seis pessoas do vilarejo.

'A grande exceção'

A maioria dos proprietários de castelos na região sonham com o mesmo sucesso do castelo Bran, que se tornou o mais popular do local por sua suposta conexão com a história de Drácula.

O escritor irlandês Bram Stoker nunca visitou a Transilvânia, mas acredita-se que a inspiração para o personagem foi o príncipe da província da Valáquia – Vlad, o empalador –, que viveu no século 15.
Conhecido como Vlad Drácula, a lenda conta que ele teria ficado preso por muitos meses no castelo Bran, que também voltou recentemente para as mãos de seus donos originais.
Por causa disso, o local recebe meio milhão de visitantes por ano e fatura cerca de 2,4 milhões de euros. Este ano, foi posto à venda por 64 milhões de euros.
Gregor Chowdhury, no entanto, diz que o sucesso do castelo Bran é "a grande exceção".
Kalman Teleki, por sua vez, afirma que o Bran acaba ofuscando os outros castelos.
"Fico um pouco chateado com isso. A Transilvânia não pode ser reduzida ao Drácula", diz ele. "É uma boa história, mas há coisas mais interessantes para ver."

Fonte:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/castelos-da-transilvania-lucram-com-a-fama-de-dracula.html

Castelo do Drácula revela detalhes do herói nacional associado ao vampiro

Associação entre Vlad Tepes e Conde Drácula atrai turistas na Transilvânia. Pinturas de como Vlad executava inimigos fazem jus à fama de sanguinário.


A lua cheia ilumina o céu da Romênia. Uma região é sinônimo de mistério: a Transilvânia. É a terra de Vlad III, um sanguinário monarca do século XV que teria inspirado a criação de um dos personagens mais assustadores de todos os tempos: o Conde Drácula.

É onde fica também o Castelo de Bran, que bate direitinho com a descrição do refúgio do vampiro na famosa história de terror. Mas quem foi o príncipe Vlad? E por que a Romênia é tão associada a vampiros?

A cidade de Sighisoara é uma joia medieval no coração da Transilvânia. Entre as torres da cidadela, a que mais chama a atenção é a do relógio. Sighisoara é tão bem preservada que é considerada Patrimônio Mundial pela Unesco.
Entre as muitas construções antigas da cidade, uma casa em especial faz com que o turista de uma paradinha. É a casa onde nasceu Vlad Tepes e onde ele viveu até os cinco anos de idade, depois a família se mudou para uma outra cidade. Lá também eles fazem essa associação entre o Vlad Tepes e o Conde Drácula como forma de atrair os turistas. Na casa, funciona um restaurante medieval. Mas está aberto à visitação o quarto onde nasceu o Vlad Tepes.
Quem entra vê todo um ambiente preparado e uma brincadeirinha para assustar o turista, mas é só para dar um clima assim mais engraçado. Também dá para ver o quarto onde o Vlad Tepes nasceu. Do quarto original do príncipe, não sobrou muita coisa. Mas, nas pinturas, dá para ver que a forma como ele executava os inimigos faz jus à fama de sanguinário: o empalamento.

Castelo de Poenari foi construído por Vlad Tepes como uma fortaleza

O destino agora é a Valáquia, a província vizinha, onde Vlad Tepes foi rei três vezes. Ele construiu uma fortaleza no alto de uma montanha. É um local estratégico, de acesso difícil. Depois de uma subida há 1.480 degraus para chegar até o Castelo de Poenari. A trilha segue em ziguezague pela floresta. Mesmo subindo sem pressa, é preciso ter preparo físico. No meio da caminhada tem um banquinho para sentar e placas dizem quantos degraus faltam.
No alto da escada, o Globo Repórter encontra Maria, uma guia formada em História. Diz a lenda que Poenari foi erguida pela elite que tinha ordenado a morte do pai e do irmão de Vlad. O príncipe se vingou, anos mais tarde, executando os mais velhos e obrigando os jovens a trabalhar dia e noite na construção.

“Para nós, na verdade, Vlad Tepes foi um herói que lutou pela independência da Valáquia. O nome dele, Vlad Drácula, ajudou a causar confusão porque “Drácula”, em romeno, pode ser entendido como “filho da ordem do dragão” - que foi criada pelo pai dele, mas também como ‘filho do mal’”, explica a guia Maria Nicola.

Maria diz como é, para os romenos, ter um herói nacional associado a um vampiro.
“Para nós, não é muito bom, mas, por outro lado, traz turistas. E é engraçado porque muitos vêm até a fortaleza com crucifixos nas mãos para ver se o espírito do Conde não está por aqui”, conta Maria.
Sabina Ispas é diretora do Instituto de Etnografia e Folclore de Bucareste e estuda tradições romenas há pelo menos 30 anos.
“Na nossa cultura, o Drácula não existe. Ele é um personagem de ficção que apareceu depois da publicação do romance Drácula, como em qualquer outra parte do mundo”, explica a pesquisadora Sabina Ispas.

Crença dos strigois é a que mais se aproxima do mito do Drácula

Nas vilas da Romênia, a crença que mais se aproxima a do mito do Drácula é a dos strigois, pessoas nascidas de pais pecadores que, depois de mortas, voltavam para assombrar a família. O Globo Repórter perguntou para Sabina se ela acredita na existência dessas criaturas. E a resposta é tão enigmática quanto a cultura da Romênia.
“Eu estudei tantas histórias sobre os strigois que não posso acreditar neles. Mas ninguém pode estar seguro de que alguma coisa não existe só porque não acredita nela”, diz Sabina Ispas.
À luz do sol, o Castelo de Bran é construção que não tem nada de assustadora. O palacete tem mais de 600 anos. Nasceu como uma fortaleza militar; foi posto de coleta de impostos; casa de reis e rainhas; museu na época do comunismo. Hoje, de volta aos herdeiros da família real, está aberto aos turistas, que fazem fila para conhecer o famoso castelo do Drácula.
A portuguesa Nilce esperava ver mais referências do vampiro.
“Não, o Drácula não tem, mas é mais bonito do que pensei”, conta a turista Nilce Cardoso.
Alexandra, que trabalha no castelo como guia, diz que até mesmo os romenos vão até Bran atraídos pelo mito do vampiro.
“Se você estiver procurando pelo castelo do Vlad, este não é o lugar. Ele só ficou aqui alguns dias, como prisioneiro. Agora, se o que você quer ver é o castelo do vampiro da ficção, então, você está no lugar certo”, diz a guia Alexandra Cojanu.

O Castelo de Bran é um dos pontos turísticos mais visitados do país. Recebe mais de meio milhão de visitantes por ano. Um castelo tão cheio de histórias também tem os seus mistérios. E uma passagem secreta que existe desde que o castelo foi construído, na Idade Média. Essa passagem era por dentro de uma lareira e foi descoberta em 1926, quando o castelo passou por uma grande reforma. E para onde será que as escadas levam?

Para um corredor estreitinho, todo de pedra. Mas em caso de perigo essa passagem secreta era usada. E quem iria desconfiar que a rota de fuga seria por dentro de uma lareira? A passagem termina em um grande salão e facilitava o acesso dos soldados aos andares mais altos em caso de ataque. Na época da realeza, era sala de música.
Com 57 cômodos distribuídos em quatro andares o Castelo de Bran é um dos imóveis mais caros do mundo. Está avaliado em quase R$ 400 milhões, mas não está à venda. Aos interessados em uma nova proposta, Alessandra faz um alerta:
“A gente já precisou ficar aqui de noite e a gente acredita que ouviu alguns barulhos estranhos, alguns passos. Talvez o mundo não seja só o que a gente vê, talvez seja mais”, afirma Alessandra.

Fonte:http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2015/03/castelo-do-dracula-revela-detalhes-do-heroi-nacional-associado-ao-vampiro.html

Famílias donas de mais de 100 castelos na região romena tentam recuperá-los e criar atrações turísticas (Foto: Getty)

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