A AVAREZA E SEU SENTIDO EMOCIONAL

A AVAREZA
Elfa
Não viverei em vão se puder salvar de partir-se um coração,
Se puder aliviar uma dor, sofrida, ou abrandar uma dor,
Ou ajudar exangue um passarinhoa subir de novo ao 
ninho –Não viverei em vão.” Emily Dickinson

Parece ter concluído no começo de sua vida que o mundo não lhe dará o amor que anseia e decide arranjar-se sozinho, minimizando seus desejos.Distancia- se do mundo, que lhe pede mais do que lhe dá e o obs­trui mais do que o ajuda - e até certo ponto o apaga, e o esquece. Como o Siddharta de Elermann Hesse, parece dizer-se: “Sei esperar, sei jejuar, sei pensar. ”Quino caracterizou eloquentemente a autoprivação resignada que representa a avareza no cartoon em que o vazio do ambiente se faz metá­fora de uma pobreza emocional.
Enquanto algumas paixões supõem um ir demasiado intensamente até o outro, neste caso trata-se de um movi­mento de afastamento dos demais. É correto o que assina­lou Karen Horney: que a pessoa isolada não pode mover- se até o outro em um gesto amoroso ou sedutor, nem tam­pouco contra o outro; no conflito entre essas duas tendên­cias - de amor e de agressão - acaba retirando-se do campo de batalha.
Não é cálido nem fogoso, mas tíbio; porém chega a ser uma paixão sua busca de isolamento e de solidão, seu desejo de não ser interferido, exigido. O que os outros buscam fora, ele busca dentro, ou mais além do mundo interpessoal - no simbólico, no abstrato ou no transcendente.
Não se trata somente de um caráter próximo ao medo, mas de uma forma deste: um medo de ficar vazio, de não ter, D de não ser amado, aceito, acolhido, de não poder. Apresenta uma posição de impo­tência e passividade diante da vida, ou muitas vezes uma agressividade que afasta as pessoas.
Também tem uma relação de vizinhança com a inve­ja, e pode-se dizer que compartilha com este caráter o sentimento carencial; porém se trata de uma inveja para­lisada pelo medo, por um sentimento de inferioridade que em vez de aproximar-se do outro a partir do desejo, renuncia ao que sente inalcançável.
Muito se falou na psicanálise acerca de como essas pes­soas  se desconectam de sua necessidade do outro pela fantasia de que sua magnitude seria inaceitável, incompatível com a vida, que sua voracidade e dependên­cia as levariam a “destruir” o outro; igualmente presente está o temor de ser destruído:
 sua própria necessidade colocaria estas pessoas em situação de que o outro as uti­lizasse, o que não deixa de ser verdadeiro: quando entram em relação de dependência se superadaptam ao outro de tal modo que esquecem suas necessidades e precisam re- conectar-se com seu mundo interno em solidão.
Ao pen­sar que desejar é demasiado, surge a resignação. Faz parte deste caráter dizer-se: Vale a pena fazer o esforço? Vale a pena insistir? Existe uma perda de intensidade acoplada a uma desesperança. A resignação leva à apatia. E este “Vale a pena?”
Está ligado à sua visão de mundo. Parece-lhe que não vai encontrar nada profundamente satisfatório. Antecipa o ser decepcionado como o foi quando pequeno. Sua criança interior criou mecanismos de sobrevivência, para se alimentar na carência do amor, guardar o que tem para si, é uma maneira de se abastecer... a cura para a avareza é a compaixão, o desapego e compreender que não podemos viver só para a nossa felicidade e quando nos preocupamos e cuidamos do outro estamos nos curando e tecendo a nossa felicidade compartilhada.
Pode-se afirmar que se estabelece um círculo vicioso em que a mesma proibição da avareza lhe presta uma intensidade que, por sua vez, redunda em sua negação. O tabu da cobiça engendra cobiça que, por sua vez estimu­la a proibição de querer algo para si.
 O resultado é um egoísmo culpado que não pede nada nem aceita que lhe deem o que secretamente deseja. Algo semelhante ocorre com o desejo de privacidade: complica-se com a culpabilização e, o resultado é que , para ocultar-se do outro, a pessoa acaba por ter que esquecer o próprio segredo.
À parte a resistência em dar, é próprio da “retentividade” deste caráter o não se dar, que se manifesta em estar só em meio ao que se está, ou em participar das coi­sas perguntando-se se não seria melhor reservar-se para outras. Reter para a “guerra” da vida, pode faltar e não ter a quem recorrer, guardar para se alimentar...Pode também começar a guardar o excesso para tempos de “guerra” sua casa, vira um depósito de lixo...
Igualmente resiste a expressar-se, particularmente no que se refere à comunicação de emoções. São difíceis os compromissos, como um resultado de um desejo de economizar-se para uma possível melhor inversão das próprias energias. Como resultado, o avaro é um simples observador da vida, sem apenas vivê-la e desperdiçando tanto oportunidades como talentos.
O mecanismo de defesa característico deste caráter é aquele que Freud designou como “isolamento” para signi­ficar a separação de alguns conteúdos mentais de outros, assim como a compartimentação ou separação de ideias e sentimentos. O resultado é uma boa capacidade analítica e uma dificuldade em ver o aspecto global das situações e seus significados.
Definindo tacanharia[1] como “uma ausência de gene­rosidade no que se refere ao gasto”, Teofrasto retrata o homem tacanho da seguinte maneira:
“Quando durante uma assembleia pede-se doa­ções voluntárias para o Estado, levanta-se silenciosa­mente e desaparece da assembleia (...) na festa em honra às Musas, afim de não ter que fazer nenhum desembolso, impede que seus filhos vão ao colégio com o pretexto de que estão enfermos (...) Leva ele mesmo para casa a carne que compra no mercado e os legumes na dobra de sua roupa. Permanece em casa quando manda lavar seu manto.”
Esta imagem da mais estrita economia é um pouco mais complexa que a ideia que se poderia considerar a priori, pois nos sugere que esta mesquinhez não só indi­ca o desejo de não gastar e o sacrifício dos desejos pes­soais em prol da avareza, mas também uma negação das necessidades e dos desejos dos outros.
 Em virtude desta associação, a palavra “tacanharia” não só fala de econo­mia, mas também especificamente de uma ausência de generosidade para o gasto, tal como define Teofrasto.
Como distinção da tacanharia, Teofrasto fala da ava­reza como “o afã de perseguir uma ganância sórdida[2]” e nos dá um retrato caracterológico em que, junto a estes traços tacanhos, encontra-se o aspecto cobiçoso deste tipo (que, em suma, aparece como desinteresse e resignação):
“A pessoa tomada por este defeito é capaz de, em um banquete organizado por ela, não servir pão em quantidade adequada e pedir pagamento ao hóspede que acolheu em sua casa (...) Se vende vinho, ainda que a um amigo, mistura-o com água. Leva seus filhos ao teatro no dia em que a entrada é franca (...)
Faz seu criado carregar excesso de peso e ainda lhe dá menos comida do que o restante dos amos (...) Se considera que um de seus amigos comprou algo barato, compra-o e torna a vendê-lo para tirar benefício. ”
Entre os personagens da Comedia dei Arte, talvez o que mais evoque este caráter seja um que parece caminhar sem que seus pés toquem o solo: Stenterello. Os rapazes na rua zombam de seu ensimesmamento, de suas roupas e de seu aspecto sonâmbulo. Estranhas palavras e símbolos cobrem sua jaqueta como sinal de seu interesse pela magia e os conhecimentos misteriosos. Seu nome alude à pobre­za - o que acompanha sua falta de mundanidade.
Uma historieta de Pfeifer ilumina a forma em que a ocultação do desejo que alimenta a passividade. Mostra um sujeito que explica: “Vivo em uma concha, que está dentro de uma parede, que está dentro de uma fortaleza, que está dentro de um túnel, embaixo do mar. Aqui estou seguro e tranquilo. 
A salvo de ti. Tranquilo de que não me irás perturbar." Vê-se uma mulher que passa em um bote remando por cima de tudo isto, enquanto ele continua: “Se verdadeiramente me quisesses, me encontrarias."
Este texto é resultado de uma pesquisa, inspirado em vários autores, é uma compilação.
Agradeço se ao compartilhar cita a fonte do link.   

Por dharmadhannya 


Fonte:http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2014/05/a-avareza.html?

Comentários