FREUD X LACAN : COMPLEXAS RELAÇÕES ENTRE GÊNIOS


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Freud X Lacan: Complexas diferenças entre gênios. Complexas mesmo!

A clínica freudiana foi relida por Lacan tanto como clínica da angústia, como clínica da falta no Outro, ou ainda, como a clínica da transferência. Observa-se que a razão do sujeito procurar um analista está no fato de ele supor que o analista saiba sobre sua falta, saiba sobre a causa de seu sofrimento. Devido ao sujeito supor que o outro tenha o que lhe falta, a clínica freudiana pode ser nomeada como clínica da transferência, na medida em que o analista ocupará o lugar de saber sobre a falta.

Segundo Lacan, de acordo com a leitura que ele faz de Freud, haveria 3 possibilidades de o sujeito negar a falta no outro, o que seria uma releitura diferente em relação à clínica psiquiátrica, pois Lacan não tomou as neuroses, as psicoses e as perversões definidas somente com os critérios herdados da psiquiatria. Lacan organizou a psicopatologia sustentado na observação da clínica psicanalítica, referindo-se aos mecanismos de defesa elaborados por Freud.

O que possibilita o sujeito negar a falta no outro são operações psíquicas, descritas por Freud como mecanismos de defesa. O recalque, por exemplo, é uma operação psíquica que visa afastar uma representação do campo da consciência

Na obra de Freud é possível encontrar duas outras descrições do estilo do sujeito negar a falta no outro: a perversão, e a psicose.
 

Nessa ordenação que Lacan fez da clínica freudiana, não é possível portanto usar-se as categorias de psicopatia ou outras entidades nosológicas que às vezes se encontram na teoria psicanalítica pois, nesta lógica, a depressão não seria uma estrutura, mas um sintoma que poderia ser de uma neurose, ou de uma psicose. Isso porque a depressão não seria um mecanismo de defesa pois, o que ocorre na depressão é uma perda de objeto, diferentemente da neurose, onde o mecanismo de defesa É o recalque. Não haveria nenhum mecanismo de defesa próprio à depressão, e sua única característica clínica pode ser formalizada em referência à perda de objeto. Da mesma forma, a perversão não seria um sintoma exclusivamente sexual. Seria possível existir perversões que, vistas com essa categorização psicanalítica, não tivessem envolvimento sexual nenhum.
 

Um mérito de Freud foi o de ordenar a psicopatologia, principalmente no que se refere às neuroses. O foco desta organização seria a angústia, posteriormente formulada como causa do recalque e conseqüência da ameaça de castração. Tudo isso para dar conta do sintoma, efeito da defesa contra a angústia. Por isso um sintoma detém um sentido passível de decifração pela análise, tendo como conseqüência sua modificação… maravilha, a cura!
 

Dentro da psiquiatria usa-se também a categoria diagnóstica psicopatia, que generalizadamente, cerca todas as patologias da mente, porém há no diagnóstico de psicopatia uma conotação social, onde o psicopata seria definido como aquele que faz sofrer e não sofre.
 

Escrevi isso tudo para dizer que a clínica psicanalítica é herdeira da clínica psiquiátrica e que a psiquiatria se transforma dentro psicanálise, pois os termos psicopatológicos são modificados quando utilizados por ela. Por exemplo, em sua proposta de ordenação das psicoses, Melanie Klein focou no eixo da esquizofrenia – ­melancolia. Já Lacan usou o eixo esquizofrenia – paranóia, e, ao preferir este eixo da psicose, a significou de modo totalmente diverso. Apesar do ainda controverso tema da existência do instinto agressivo em nossa espécie, pelo menos entre as teorias psicanalíticas não há dúvidas sobre a natureza da compulsão à repetição e características sádicas de suas manifestações descritas por Freud no ensaio: Além do princípio do prazer.
 

Freud escreveu um artigo chamado “Alguns tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico”, no qual fala de 3 tipos de caráter. Um deles é: criminosos em conseqüência de sentimento de culpa, no qual fala sobre o que conhecemos como “psicopatia”. Segundo ele, há indivíduos que, sob pressão de um sentimento de culpa inconsciente, buscam por meio de um ato criminoso o alívio e a justificação de tal culpa. É um certo paradoxo dizer “sentimento de culpa inconsciente” já que o sentimento não pode ser inconsciente quando faz parte daquele que o sente, mas na verdade Freud deseja expôr uma representação psíquica que estaria ligada a esse sentimento que está fora da consciência do indivíduo.

Os atos ilícitos como furtos, fraudes, incêndios relatados por seus pacientes começaram a chamar a sua atenção quando eram cometidos por pacientes durante o tratamento e em idade muito posterior a puberdade. Com isso, ele constatou a preexistência de um penoso sentimento de culpa anterior a transgressão real. Freud faz a distinção deste tipo de caráter, dos delinqüentes adultos que cometem delitos sem sentimento de culpa, àqueles que não desenvolvem inibições morais, como aqueles que crêem justificada sua conduta por uma luta contra a sociedade. Neste sentido, ele não chamou tal criminoso neurótico de psicopata, mas inaugurou toda uma linha de pesquisa sobre os determinantes neuróticos de um ato criminoso.

Em “Tipos libidinais”, Freud traça um quadro de classificação definida pela organização da libido, fazendo menção a um tipo que apresenta alguns dos fatores essenciais que condicionam a criminalidade. Ele parte de três tipos principais: o erótico (cuja libido é voltada, na maior parte, para a vida amorosa, com angústia da perda do amor, dependências de objetos externos e tendo como principal necessidade ser amado); o obsessivo (dominado pela ação do superego e pela angústia moral) e o narcisista, que não apresenta tensão entre o ego e o superego nem predominância das necessidades eróticas, orientado para a autoconservação, autônomo e pouco intimidável; impõe-se como “personalidade” particularmente qualificada para servir de sustento a outros, assegurar o papel de líder, dar desenvolvimento cultural a novas pulsões ou atacar aquilo que está estabelecido. Nesta qualidade de ser transgressivo às normas vigente, ele pode tanto se aproximar da imagem de “herói” quanto do criminoso. Com esta caracterização, o criminoso se aproxima da figura de psicótico em função dos destinos possíveis do narcisismo muito comum no cinema Hollywoodiano, onde “seria-killers” são muitas vezes admirados pelo espectador.

Considerando os diferenciais teóricos, meus estudos são baseados nas obras de Freud, e considero a Psicopatia o transtorno de personalidade mais disfarçável aos olhos dos leigos, pois a princípio se trata de uma pessoa simpática, doce, inteligente, mas por trás dessa máscara, encontra-se um ser macabro, calculista e frio, que enfrenta as leis, transgride-as e tem prazer nisso e que poucas vezes se trai em uma conversa. Ele tem consciência do seu transtorno, sabe exatamente o que fazer para machucar alguém e faz o necessário para atingir seus objetivos. Resumindo muito a teoria freudiana sobre este assundo, esse transtorno se desenvolve na infância, na fase chamada fálica, quando a criança começa a ter consciência do seus órgão genitais, e passa a se identificar com as figuras parentais e havendo a castração no Complexo de Édipo. Caso isso não aconteça, essa criança vai crescer com a consciência de que “tudo pode” e que não existem regras.

Fonte:http://giovanagcastro.wordpress.com/2011/03/11/f

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