O QUE É A TEOSOFIA






A palavra Teosofia é de origem grega, "theos" (Deus), e "sophos" (sabedoria), significando literalmente "sabedoria divina", ou "conhecimento divino".
A Teosofia é um corpo de conhecimento que sintetiza Filosofia, Religião e Ciência. Embora essa afirmação não seja reconhecida universalmente, mas apenas por simpatizantes do ocultismo, pois creem que tanto hoje como na antiguidade, a Teosofia se constitui na sabedoria universal e eterna presente nas grandes religiões, filosofias e nas principais ciências da humanidade,[1] e pode ser encontrada na raiz ou origem, em maior ou menor grau, dos diversos sistemas de crenças ao longo da história.
A teosofia foi apresentada ao mundo moderno por Helena Blavatsky, no final do século XIX, e desde então vem sendo divulgada por teosofistas em diversos países . Com seu caráter interdisciplinar, a teosofia proporciona uma ponte entre as diversas culturas e tradições religiosas. Segundo Blavatsky, “Teosofia é conhecimento divino ou ciência divina.”[2]


Origens do nome


"[...]"Saber Divino", θεοσοφία (Theosophia) é Sabedoria dos deuses, como θεογονία (Theogonia), genealogia dos deuses. A palavra θεός, em grego significa um deus, um dos seres divinos, e de modo nenhum "Deus", no sentido que atualmente damos a esse termo."[3]
O nome teosofia aparece no terceiro século da nossa era, cunhado por Amônio Sacas, fundador da Escola Eclética de Alexandria e pai do Neoplatonismo. Seu conceito porém existe há mais tempo. Diógenes Laércio comenta que ele já era conhecido antes da Dinastia Ptolomaica do Egito e nomeia como seu formulador um hierofante chamado Pot Amum. Na Idade Média, Jacob Boehme era conhecido como um teosofista, e o termo novamente foi utilizado nos Anais Teosóficos da Sociedade de Philadelphia, publicado em 1697, encontrando ainda correspondência na filosofia hindu, onde “teosofia” equivale a Brahma-Vidya, conhecimento divino. A palavra ganhou notoriedade a partir da fundação da Sociedade Teosófica por Helena Petrovna Blavatsky e outros, em 1875.

Conceitos básicos

A Teosofia, segundo Blavatsky, é "o substrato e a base de todas as religiões e filosofias do mundo, ensinada e praticada por uns poucos eleitos, desde que o homem se converteu em ser pensador. Considerada do ponto de vista prático, é puramente ética divina".[4]

Emblema da Sociedade Teosófica, sincretizando diversos conceitos básicos da Teosofia, como os ciclos cósmicos, a eternidade da vida, e a polaridade Espírito-Matéria.
Para os teosofistas, este corpus de conhecimento, a Sabedoria Divina, com a ética a ele associada, é tão antigo quanto o mundo, e a rigor é o único conhecimento que vale a pena ser adquirido. Sua realidade e importância são relembradas às pessoas periodicamente, sob diversas denominações e formalizações, adequadas ao espírito de cada época, local e povo para quem é apresentado, e é o tronco vivo e eterno de onde brotam as flores do ensinamento original todas as grandes religiões do mundo, do passado e do presente.[5] Segundo um dos inspiradores do movimento teosófico moderno, o Mestre K.H., a quem Blavatsky dizia seguir, "a Teosofia não é uma nova candidata à atenção do mundo, mas é apenas uma declaração nova de princípios que têm sido reconhecidos desde a infância da humanidade".[6]
Considera-se que a Teosofia strictu sensu seja isenta de identificação com quaisquer culturas e sociedades específicas, sendo em vez a fonte original do conhecimento divino que verte em uma determinada cultura através dos símbolos e arquétipos próprios daquele povo. Por exemplo, a sabedoria divina foi transmitida à civilização do Egito antigo através dos símbolos, divindades, mitos, alegorias e arquétipos locais, possibilitando a assimilação dos conceitos divinos através desta roupagem. E como no Egito, também nas outras terras, a Grécia antiga, a Babilônia, Tibete, América, Europa e em todas as culturas, independente de terem feito contato entre si, demonstrando que a Teosofia é uma sabedoria que se expressa e pode ser conhecida por diversas fontes.
Quando Blavatsky lançou o movimento teosófico moderno no século XIX valeu-se de uma grande quantidade de elementos da tradição religiosa Hindu, que havia estudado durante sua permanência no Tibete. Assim, sua apresentação compreende uma terminologia muitas vezes baseada no idioma sânscrito, divulgando no ocidente conceitos como Maya (ilusão), Dharma (caminho) e Mahatmas (grandes almas). Outros conceitos fundamentais, conhecidos há milênios no oriente, mas que a Teosofia popularizou no ocidente, são a Reencarnação e o Karma. Mas isso, como já foi exposto, não define a Teosofia como uma filosofia hindu ou oriental, e diversas referências de outras culturas e sistemas, como o Taoísmo, Budismo, Cabala, Cristianismo, Gnose e Hermetismo, remetem a Teosofia à sua essência divina e universal.
Basicamente a Teosofia prega a fraternidade universal, a origem espiritual das formas e dos seres, e a unidade de toda a vida; aponta uma fonte única e eterna para todo conhecimento, demonstra a identidade essencial entre os grandes mitos das culturas mundiais, traça o perfil da estrutura do cosmo e do homem e descreve os mecanismos, suas leis, suas potencialidades e suas transformações ao longo dos aeons.
Apesar de recomendar o esforço próprio em busca do crescimento pessoal e uma vigilância incessante contra o auto-engano e a fé cega, ainda assim defende a Revelação, uma vez que declara a existência de mundos e estados de consciência presentemente inacessíveis à pessoa comum. Mas diz que todos seremos capazes de atingí-los um dia, se não nesta vida, numa vindoura. Defende com isso, também a evolução da vida e do Homem, e a existência de Homens Perfeitos, os Mahatmas ou Mestres de Sabedoria. Estes Mestres, uma vez homens imperfeitos como nós, evoluíram para um estágio super-humano, de onde ora velam pela raça humana dando-lhe ensinamento, diretamente ou através dos mensageiros os Profetas e Santos de todas as religiões, e auxílios inúmeráveis como agentes da Providência e da Justiça Divinas, e mesmo aparecendo visivelmente entre os irmãos menos evoluídos, quando os tempos o exigem, para dar-lhes conforto, direção e inspiração, e reacender nos corações um amor mais intenso pelo divino.
A Teosofia diz que a fonte de todo mal é a ignorância. O conhecimento, segundo prega, é ilimitado, mas se bem que sua totalidade esteja além do alcance de qualquer ser individual, é em vasta medida acessível a todos através de um longo processo de evolução, aprendizado e aperfeiçoamento, que necessariamente exige múltiplas encarnações, e continua até mesmo para regiões e idades onde a encarnação deixa de ser compulsória e a vida progride de beatitude em beatitude. A Teosofia é uma doutrina essencialmente otimista, pois refuta qualquer condenação eterna e não nega o mundo, ainda que declare que este que vemos e tocamos não é o único nem o maior, mais feliz ou mais desejável, e prevê para todos os seres sem exceção um progresso constante e um destino glorioso e absolutamente feliz. Como todas as grandes doutrinas espirituais, a Teosofia exalta o bem, a paz, o amor, o altruísmo, e promove a cessação da pobreza, da ignorância, da opressão, das discórdias e desigualdades.
Apesar de reconhecer a importância das religiões em estado mais puro como disseminadoras de ensinamentos importantes, não é uma filosofia teísta, se bem que possa ser descrita como panteísta, já que como um dos Mahatmas declara[7] com rigor cartesiano, a existência de Deus como uma entidade distinta do universo dificilmente pode ser provada, mas reconhece níveis diferentes de evolução entre os seres, numa escada graduada que se ergue a alturas insondáveis.

 Literatura


Helena Blavatsky.

Entre as exposições modernas da Teosofia mais importantes e originais estão sem dúvida os escritos da própria Helena Blavatsky, que incluem Ísis sem véu (1877), A Doutrina Secreta (1888) e uma infinidade de panfletos, cartas e artigos sobre o tema, traduzindo, divulgando e esclarecendo uma massa de conceitos filosóficos e religiosos e princípios morais orientais, até então mal conhecidos e ainda menos compreendidos pelos povos do ocidente. Além de pintar um vasto painel da religião universal, utilizando especialmente o pensamento do oriente, analisa os dados comparando-os com as tradições do ocidente, lançando luz nova sobre pontos obscuros, desfazendo conceitos errôneos de nossas próprias linhas de pensamento e em outros casos corroborando com definições Hinduístas ou Budistas muitos dos elementos basilares das doutrinas Cristã, Judaica, Islâmica, Gnóstica e outras de importância para a metade ocidental do globo.
Blavatsky foi uma escritora prolífica e incandescente, e sua memória para fontes raras e mesmo desconhecidas no ocidente era notoriamente prodigiosa. Contudo, de acordo com a autora, muitas vezes foram usados meios esotéricos para a composição dos textos, não podendo ela reivindicar a verdadeira autoria de grande parte do que havia escrito.[8] De qualquer forma, quando A Doutrina Secreta apareceu, como uma continuação, ampliação e aprofundamento de material já abordado em Ísis sem Véu, foi imediatamente reconhecida como uma obra-prima por inúmeros luminares da Europa, e é a pedra angular da Teosofia moderna. O texto é um debate filosófico monumental, onde a autora cita uma profusão inacreditável de fontes e esgrime com estonteante erudição argumentos históricos, antropológicos, arqueológicos, mitológicos, filosóficos, biológicos, químicos, hermenêuticos, filológicos e muitos outros, contra as superstições insensatas travestidas de dogmas das religiões, demonstrando a raiz comum a todos os credos, e tecendo duros ataques a todo formalismo religioso vazio e a toda fé cega, mas reconhecendo o valor de todas as Igrejas como instituições divinas e caminhos válidos para o aperfeiçoamento pessoal e coletivo, sendo possuidoras de parcelas importantes da Verdade Única. Seguiram-se outros escritos, e dentre eles merece destaque A Voz do Silêncio (1889), uma pungente e exaltada descrição do íngreme mas glorioso Caminho que leva à santidade, ao mesmo tempo que é um manual prático para aspirantes.
Outros seguidores imediatos também deram contribuições volumosas, valiosíssimas e originais ao tesouro da Teosofia moderna, entre eles Annie Besant, Alfred Sinnett, Henry Olcott, Charles Leadbeater e George Mead, e desde lá a literatura teosófica não cessou de crescer, com a produção mais recente de Radha Burnier, Geoffrey Farthing, Geoffrey Hodson e uma legião de pensadores modernos.

 A Teosofia na prática

A Teosofia, com o vasto acervo de informações de variada natureza, sua didática cristalina, o idealismo e formosos panoramas, oferece alimento espiritual e instrução prática para toda classe de pessoas, do rude ao educado, do cientista ao devoto. A aquisição metódica e progressiva do conhecimento teosófico, seja individualmente ou através de associações e grupos de estudo ou Lojas Teosóficas, com sua necessária aplicação prática, impele em todos os casos a uma mudança para melhor no estilo de vida. Sua descrição científica, objetiva, mas não menos entusiasta e bela do mundo, e a explicação clara dos mecanismos gerais invisíveis, esclarece o propósito da existência, dissipa muitos terrores religiosos arcaicos, ensina a evitar muitas aflições e sofrimentos supostamente inescapáveis, dá vida nova a formas religiosas tradicionais cujo poder motivador se perdera para o fiel, e ensina o caminho para uma vida material e espiritualmente frutífera em harmonia com tudo o que vive, em obediência às leis eternas que regem e sustentam os mundos manifestos. Também sistematiza técnicas graduadas de auto-aprimoramento físico, moral e espiritual, e desvenda novos horizontes e novas possibilidades para a humanidade a cada novo conceito apreendido e posto em prática, em direção à materialização da Paz na terra a todos os seres.[9]

 Influência

A Teosofia teve um papel fundamental e revolucionário na evolução do pensamento moderno do ocidente. No contexto intelectual e espiritual da época em que apareceu, embora jamais tenha reivindicado para si o status de nova religião, a Teosofia como exposta por Blavatsky representou na prática a proclamação de um novo Evangelho universal, combatendo a forte tendência materialista da ciência em rápido desenvolvimento, e que estava a esvaziar, com os novos conhecimentos que trazia à luz sobre o mundo manifesto, as instituições religiosas que continuavam a pregar suas histórias piedosas mas irracionais, as quais começavam a se tornar um estorvo para o futuro desenvolvimento da raça humana, com perigo de uma perda generalizada da fé. Sua linguagem moderna traduziu e atualizou para o homem de hoje uma série de conceitos importantes da espiritualidade antiga que já estavam obscurecidos e fossilizados pela poeira secular das sucessivas más interpretações, e por isso tornados inaceitáveis à nova mentalidade que surgia e que iniciava a questionar as bases da fé em múltiplos aspectos, a partir da desafiadora massa de evidências e conclusões, dificilmente constestável, produzida pelos cientistas. O conhecimento que expôs e a forma em que o fez operou uma poda radical nas intrincadas e tortuosas excrescências conceituais que faziam definhar a árvore das religiões do ocidente, tornando mais uma vez claro, nítido e atraente o tronco vivo, o que para muitos foi motivo de um reacender da devoção perdida, mas ora em novas bases.
Com sua abordagem lógica, positiva, ética e científica da natureza, do divino, do homem, da vida, do misticismo e dos fenômenos ocultos, exerceu grande influência em estadistas como Gandhi, cientistas como Einstein e artistas como Mondrian, Scriabin, Yeats e Fernando Pessoa. Além disso, deu subsídios a Igrejas progressistas como a Igreja Católica Liberal, originou um sem-número de escolas, dissidências e derivações mais ou menos inspiradas, e deu um impulso ao renascimento de cultos arcaicos ou à fundação de outros de tom futurista que são encontráveis na cultura ocidental de hoje, como os movimentos Wicca e New Age.

Polêmicas

A Teosofia recebeu muitas críticas em sua origem, numa polêmica que se estende aos dias de hoje, questionando tanto a doutrina como o caráter controverso de sua principal divulgadora, Helena Blavatsky, e do seu colaborador Charles Leadbeater.[10]
O casal Coulomb foi um dos primeiros detratores de Blavatsky, acusando-a de ser uma embusteira. Outro dos críticos foi Richard Hodgson, autor de um relatório sobre o caso Coulomb, onde ratificava as acusações contra ela. Também foi suspeita de ser uma agente do governo russo. Contudo, tais ataques foram mais tarde reavaliados por outros autores como Adlai Waterman e Vernon Harrison, e suas conclusões revelaram que os argumentos e provas levantados contra Blavatsky eram tão duvidosos quanto suas alegadas fraudes, estando longe de adotarem uma postura imparcial e científica.[11][12] Os escritos de Blavatsky também foram acusados de racistas, denegrindo etnias como os árabes e aborígenes. Porém estas opiniões aparentemente são baseadas na leitura descontextualizada de certos trechos, e devem ser entendidas com um grão de sal, no panorama mais amplo da teleologia Teosófica, onde é pregada a evolução das formas de vida, necessariamente incluindo estágios primitivos e outros mais avançados. Ela jamais defendeu, por exemplo, coisas como "limpezas étnicas", mas não se pode dissimular o fato de que tais argumentos podem ter sido tendenciosamente usados por outros para apoiar movimentos de fato racistas e genocidas como o Nazismo. Peter Washington escreveu recentemente um livro de crítica de grande repercussão intitulado Madame Blavatsky's Baboon: Theosophy and the Emergence of the Western Guru, mas foram detectados diversos erros e omissões significativos no texto e o uso de fontes de segunda e terceira mão, contribuindo para perpetuar inverdades já esclarecidas mas, por outro lado, também para renovar o interesse pela matéria[13]
Leadbeater foi o foco de um escândalo sexual envolvendo jovens pupilos que o obrigou à renúncia de suas funções na Sociedade Teosófica, mas aparentemente tudo teria sido um mal-entendido, o simples resultado da educação sexual clara e objetiva que dava a eles e que incluía a recomendação da prática da masturbação em casos específicos, quando a natureza do jovem era excessivamente passional e a fim de evitar que ele se entregasse a relações sexuais impulsivas ou potencialmente prejudiciais.[14] Mas quando o caso veio à tona, os hábitos de Leadbeater junto aos jovens, que incluíam o banho nu em conjunto, e às vezes o uso de uma mesma cama para dormir, que eram coisas comuns e aceitáveis mesmo na rigorosa e pudica sociedade vitoriana, foram interpretados como evidências de perversão.[15] Posteriormente ele foi reabilitado na Sociedade Teosófica, já que a única prova apresentada contra ele foi um bilhete anônimo datilografado, contendo uma frase obscena - para a época. Os jovens acusadores não foram considerados de todo confiáveis e possivelmente agiam movidos por vingança pessoal cuja origem não ficou clara.[16] Suas obras escritas também sofreram ataques. Algumas de suas pesquisas clarividentes resultaram em conclusões obviamente errôneas, como por exemplo quando afirmou a existência de uma civilização em Marte. Mas o próprio autor oferecia os seus livros neste campo como simples relatórios de pesquisas individuais que, apesar do cuidado, podiam estar sujeitas a enganos, e que não constituíam doutrina, mas sim sugestões e estímulo para pesquisas futuras por outros, que esperava serem mais completas, precisas e confiáveis, e que poderiam ou não corroborar as suas conclusões.
Outro grave momento disruptivo ocorreu com o fracasso da instituição da Ordem da Estrela, quando Krishnamurti desautorizou o movimento, lançado pelo antigo preceptor Leadbeater e secundado por Annie Besant, para torná-lo o novo veículo do Instrutor do Mundo, e rompeu com a ST, declarando-se independente. Estes eventos, mais outras dissidências internas, contribuíram para o descrédito da Teosofia e da Sociedade Teosófica, especialmente após a retirada de membros importantes como William Judge e George Mead.
A doutrina em si é encarada de várias formas depreciativas, considerando em suma que não oferece provas suficientes para suas alegações, que conceitos básicos são interpretados de modo conflitante pelos vários autores, que tem uma psicologia duvidosa e se resume em um amontoado de superstições disseminadas por falsos místicos.[17]
O que se deve lembrar é que nunca os teosofistas se declararam infalíveis, perfeitos ou imunes a ilusões e más-interpretações derivadas dos limites do entendimento humano. O próprio Mahatma K.H. disse a respeito de Blavatsky que " imperfeita como pode ser nossa agente visível - e frequentemente ela é muito imperfeita e insatisfatória - ela é ainda assim o melhor de que dispomos no momento", mas ao mesmo tempo reiterava suas magníficas capacidades, sem paralelo para o trabalho que havia de ser feito.[18] Além disso todas as grandes filosofias e religiões do mundo foram criticadas com base no mesmo tipo de argumentos, cabendo pois ao pesquisador tecer as suas próprias conclusões e reger o seu comportamento baseado em sua experiência pessoal, na análise imparcial das informações apresentadas e sobretudo no bom senso, um conselho reiteradamente expresso por todos os principais expoentes do movimento teosófico, cujo mote é Não há Religião superior à Verdade.[19]

A Teosofia no Brasil

A Teosofia foi principalmente difundida no Brasil através do Professor Henrique José de Souza, fundador em 1924 da Sociedade Espiritualista Dhâranâ, posteriormente denominada Sociedade Teosófica Brasileira em homenagem a Helena Blavatsky, e atualmente chamada de Sociedade Brasileira de Eubiose. Atualmente a Sociedade Teosófica internacional também opera no Brasil, sob o nome de Sociedade Teosófica no Brasil.
No Brasil a Teosofia ganhou novas frentes de estudo ao explorar o conhecimento e a história antiga dos povos nativos brasileiros. O Professor Henrique, recolhendo símbolos e arquétipos antigos formou, no início do século XX, as bases para a Teosofia Brasileira, que é a apresentação dos mesmos arquétipos através da cultura nativa e de civilizações pré-colombianas.

Referências

  1. A Teosofia e o Movimento Teosófico
  2. Blavatsky, Helena. A Chave Para a Teosofia, Editora Teosófica, Brasília, 2004
  3. Helena Petrovna Blavatsky - A Chave da Teosofia
  4. Blavatsky, Helena. Glossário Teosófico. Editora Ground, sem data, sem local.
  5. Blavatsky, Helena. O que é Teosofia
  6. K.H. The Mahatma Letters to A. P. Sinnett - Letter 8, de 20 de fevereiro de 1881. Theosophical University Press Edition [1]
  7. Mestre K.H. O que é Deus - A visão de um Mestre de Sabedoria [2]
  8. Citada por Heindel, Max. In Blavatsky and The Secret Doctrine [3]
  9. Crosbie, Robert. Theosophy Pure and Simple
  10. Tufani, Maurício. A caixa-preta da Teosofia
  11. Thackara, Will. On Theosophy and Madame Blavatsky. The Theosophical Society, Pasadena. [4]
  12. Harrison, Vernon. H. P. Blavatsky y la Sociedad para las Investigaciones Psíquicas - Un estudio del Reporte Hodgson de 1885. Theosophical University Press, Online Edition. [5]
  13. Thackara, Will. Notes on Madame Blavatsky's Baboon
  14. Citado por Lutyens, Mary. Krishnamurti: The Years of Awakening, Avon Books, in Charles Webster Leadbeater. Wikipedia, The Free Encyclopedia
  15. Charles Webster Leadbeater. Rudolf Steiner Web
  16. Luytens, M. Op. cit.
  17. Theosophy. Catholic Enciclopedia
  18. H.P. Blavatsky's Occult Status and the Claims of Latter-Day Messengers of the Masters Blavatsky Study Center. Online Edition, 2004. [6]
  19. Blavatsky, Helena. On Pseudo-Theosophy. Lucifer, 1889
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Teosofia




A Sociedade Teosófica (S.T.) foi fundada em Nova Iorque, E.U.A., em 17 de novembro de 1875, por um pequeno grupo de pessoas, dentre as quais se destacavam uma russa e um norte americano: a Sra. Helena Petrovna Blavatsky e o cel. Henry Steel Olcott, seu primeiro presidente.
Em 1878 o cel. Olcott e a Sra. Blavatsky partiram para a Índia. Em 3 de abril de 1905, foi estabelecida legalmente a sede internacional da S.T. no bairro de Adyar, na cidade de Chennai (antiga Madras), estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, onde permanece até hoje.


    Organização e atividades
        
    Com mais de um século de existência, a S.T. espalhou-se por cerca de sessenta países em todos os continentes. Internacionalmente, a S.T. está organizada basicamente em Seções Nacionais, e estas, por sua vez, compõem-se de Lojas e Grupos de Estudos.
    A maioria das Lojas e Grupos de Estudos da S.T. realiza reuniões públicas com palestras, cursos, debates e outros eventos deste tipo, bem como atividades de confraternização entre os seus membros e simpatizantes, sempre em conformidade com seus três objetivos. Além disto, em geral, contam com bibliotecas para facilitar estudos e pesquisas.
    Não há religião superior à Verdade
        
    Este é o lema da Sociedade Teosófica (S.T.), o qual foi traduzido do sânscrito – Satyan nasti para Dharmah. A palavra Dharma foi traduzida como religião, mas também significa, entre outras coisas, doutrina, lei, dever, direito, justiça, virtude. Portanto, em sentido amplo, o lema da S.T. afirma que não há dever ou doutrina superior à Verdade.
    A Fraternidade Humana: primeiro objetivo
        
    Desde os primeiros dias de sua fundação, ainda no século passado, a S.T. estruturou-se sobre o amplo princípio humanitário da Fraternidade Universal; "uma instituição que se fizesse conhecida em todo o mundo e cativasse a atenção das mentes mais elevadas".
    Encontra-se nos escritos daqueles primeiros tempos a afirmação de que é a Humanidade que é a grande órfã, a única deserdada sobre esta Terra – e é dever de todo homem capaz de um impulso altruísta fazer algo, por menor que seja, pelo seu bem-estar. Por esta razão, o seu primeiro objetivo está formulado da seguinte maneira:
    Formar um núcleo da Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor.
    A busca da Verdade: segundo e terceiro objetivos
        
    Os demais objetivos da S.T. apontam na direção de uma livre e corajosa investigação da Verdade e estão formulados como segue:
    Encorajar o estudo de Religião Comparada, Filosofia e Ciência;
    Investigar as leis não explicadas da Natureza e os poderes latentes no homem.
    Liberdade de pensamento
        
    Uma vez que a investigação da Verdade somente pode ser de fato empreendida numa atmosfera de liberdade, a S.T. assegura aos seus membros o direito à plena liberdade de pensamento e expressão, dentro dos limites da cortesia e de consideração para com os demais.
    Como a Sociedade Teosófica espalhou-se amplamente pelo mundo civilizado, e como membros de todas as religiões tornaram-se filiados dela sem renunciar aos dogmas, ensinamentos e crenças especiais de suas respectivas fés, é considerado desejável enfatizar o fato de que não há nenhuma doutrina, nenhuma opinião, ensinada ou sustentada por quem quer que seja, que esteja de algum modo constrangendo qualquer de seus membros, nenhuma que qualquer deles não seja livre para aceitar ou rejeitar. A aprovação dos seus três objetivos é a única condição para a filiação.
    Independência da Sociedade Teosófica
        
    Uma vez que a Fraternidade Universal e a Sabedoria são indefiníveis e ilimitadas e, desde que há completa liberdade de pensamento e ação para cada membro da Sociedade, esta busca sempre manter seu próprio distintivo e único caráter, permanecendo livre de filiação ou identificação com qualquer outra organização.


    Fonte:http://www.sociedadeteosofica.org.br/

     

    O QUE É A TEOSOFIA?

    Artigo publicado por Helena Petrovna Blavatsky no primeiro número do “The Theosophist”(outubro de 1879).
    A pergunta tem sido formulada tantas vezes, e o assunto vem sendo de um modo geral tão mal interpretado que os editores de uma publicação devotada à exposição da Teosofia sentir-se-iam culpados se este seu primeiro número fosse publicado sem que chegassem a um perfeito entendimento com seus leitores. No entanto, nosso título abrange duas perguntas: O Que é a Sociedade Teosófica? E o que são os Teosofistas? Vamos respondê-las.
    Segundo os lexicógrafos, o termo Theosophia compõe-se de duas palavras gregas - Theos, “deus”, e Sophos, “sábio”. Até aí, muito bem. Mas, as explicações que dão a seguir estão muito longe de oferecer uma noção suficientemente clara sobre a Teosofia. Webster, de um modo muito original, define-a como sendo “uma pretensa comunicação com Deus e com os espíritos superiores, e a conseqüente conquista de um conhecimento superhumano tanto por processos físicos como pelas operações teúrgicas de certos platônicos antigos ou, ainda, pelos processos químicos dos filósofos alemães do fogo”.
    Essa definição, em última análise, não passa de uma pobre e irreverente explicação. Atribuir idéias dessa natureza a homens como Amônio Saccas, Plotino, Jâmblico, Porfírio, Proclo e outros, demonstra ou uma deformação intencional ou ignorância de Webster no tocante à Filosofia e aos objetivos dos maiores gênios da Escola Neoplatônica de Alexandria. Imputar àqueles e a quem tanto os coevos quanto a posteridade chamaram de “Theodidaktoi”- instruídos por Deus - a intenção de desenvolver sua percepção psicológica e espiritual por “processos físicos” eqüivale a apresentá-los como materialistas. E quanto à alusão final aos filósofos do fogo, é o mesmo que situá-los entre os nossos mais eminentes e modernos cientistas, aqueles em cujos lábios o Rev. James Martineau põe a seguinte fanfarronada: “A Matéria é tudo que desejamos; dêem-nos apenas átomos e nós explicaremos o Universo”.
    Vaughan, porém, oferece uma definição muito melhor e mais filosófica: “Um teosofista”- observa - “é aquele que propõe uma teoria de Deus ou das obras de Deus, que não pretende dispor de uma revelação mas, sim, de uma inspiração pessoal como base dessa teoria”. De acordo com essa opinião, todo grande pensador e filósofo, especialmente cada fundador de uma nova religião, de uma nova escola filosófica ou de uma seita, é necessariamente um teosofista. Portanto, Teosofia e Teosofistas sempre existiram desde que os primeiros lampejos do incipiente intelecto humano levaram o homem a procurar instintivamente os meios de expressar opiniões pessoais e independentes.
    Teosofistas já existiam antes da era cristã, muito embora os autores cristãos atribuam o desenvolvimento do sistema teosófico eclético aos primeiros anos do século III de nossa era. Diógenes Laércio assinala a existência da Teosofia numa época anterior à dinastia dos Ptolomeus; e cita como seu fundador um Hierofante egípcio chamado Pot-Amun, nome copta que designa um sacerdote consagrado a Amon, o deus da Sabedoria. A história, porém, mostra que ela foi revivida por Amônio Saccas, o fundador da Escola Neoplatônica de Alexandria. Ele e seus discípulos faziam-se chamar “Philaletéios”, ou amantes da verdade, enquanto eram chamados por outros de “Analogistas”, devido ao método de interpretar todas as lendas sagradas, os mitos simbólicos e os Mistérios por uma lei ou analogia ou correspondência segundo a qual todos os fatos ocorridos no mundo exterior eram encarados como a expressão de outras tantas operações e experiências da alma humana. Amônio Saccas tinha como ideal e objetivo reconciliar todas as seitas, todos os povos e nações sob uma fé comum - a crença num Poder Supremo, Eterno, Desconhecido e Inominado que o governa o Universo através de leis eternas e imutáveis. Seu objetivo consistia em experimentar um sistema de Teosofia que, de início, era essencialmente o mesmo em todos os países; induzir os homens a abandonarem suas lutas e querelas tornando-se unos em ideais como filhos da mesma mãe; purificar as velhas religiões corrompidas e falseadas de todas as impurezas do elemento humano, unificando-as e explicando-as sobre puros princípios filosóficos. Por isso, os sistemas Budista, Vedantino e Mago, ou Zoroastrino, eram ensinados na Escola Teosófica Eclética juntamente com todas as filosofias da Grécia. Por isso, também, aquela característica proeminentemente Budista e Hindu registrada entre os antigos teosofistas de Alexandria no tocante ao respeito devido aos pais e aos mais velhos; a afeição fraternal por toda a raça humana; e um sentimento compassivo até pelos animais irracionais. Ao mesmo tempo em que procuravam estabelecer um sistema de disciplina moral que incutia no povo a obrigação de viver segundo as leis dos respectivos países; purificar a mente pela busca e contemplação da única Verdade Absoluta; seu principal objetivo que, acreditava, conquistaria todos os demais, consistia em extrair dos diversos ensinamentos religiosos, como de um instrumento de muitas cordas, uma harmonia perfeita e melodiosa capaz de ecoar em todo coração verdadeiramente amante da verdade.
    Portanto, Teosofia é a arcaica Religião Sabedoria, a doutrina esotérica que já era conhecida em todo país pretensamente civilizado. Uma “Sabedoria” que todas as velhas escrituras mostram como emanação do princípio divino e cuja absoluta compreensão é tipificada por nomes como o do Buda hindu, o Nebo babilônico, o Thot de Menfis, o Hermes da Grécia, e ainda nas invocações de algumas deusas - Metis, Neitha, Athena, a Sophia gnóstica e, finalmente, nos Vedas, do verbo “saber”. Sob essa designação, todos os filósofos do oriente e Ocidente, os Hierofantes do velho Egito, os Rishis da Aryavarta, os “Theodidaktoi” da Grécia incluíam todo o conhecimento das coisas ocultas e essencialmente divinas. As séries secular e popular da Mercavah dos Rabinos hebreus eram, assim, designadas como sendo apenas o veículo, a capa externa que continha o conhecimento esotérico superior. Os Magos de Zoroastro eram instruídos e iniciados nas cavernas e lojas secretas da Bactriana; Os Hierofantes egípcios e gregos possuíam as suas aporrêtas, ou instruções secretas, durante as quais os Mystês se transformava num Epoptês - um Vidente.
    A idéia básica da Teosofia Eclética resumia-se na existência de uma Essência Suprema, Desconhecida e Incognoscível, porque - “Como pode alguém conhecer o conhecedor?”, como pergunta o Brihadaranyaka Upanishad. Seu sistema caracterizava-se por três postulados perfeitamente distintos: a teoria da Essência acima mencionada; a doutrina da alma humana - emanação daquela e, portanto, da mesma natureza; e sua teurgia. Foi esta última ciência que levou os Neoplatônicos a serem tão mal interpretados nesta nossa era de Ciência materialista. Sendo a Teurgia essencialmente a arte de aplicar os poderes divinos do homem ao domínio das forças cegas da natureza, seus adeptos foram inicialmente chamados de mágicos - corrupção da palavra “Magh”, que significa sábio ou erudito - e ridicularizados se sorrissem a idéia do fonógrafo ou do telégrafo. Os que são ridicularizados e acoimados de “infiéis” de uma geração geralmente se transformam nos ‘sábios e santos’ da geração seguinte.
    No tocante à Essência Divina e à natureza da alma e do espírito, a moderna Teosofia acredita, hoje, nas mesmas coisas em que acreditava a Teosofia do passado. O popular Diu das nações arianas era idêntico ao Jahve dos samaritanos, ao Tiu ou “Tuisto” dos nórdicos, ao Duw dos bretões, e ao Zeus dos trácios. Quanto à Essência Absoluta, o Uno e o Todo, se aceitarmos o que dizem a respeito o Pitagorismo grego, o Kabalismo caldáico ou a Filosofia Ariana, tudo isso levará a um resultado único e igual. A Mônada Primeva do sistema pitagórico que se retira no interior da obscuridade e é a própria Obscuridade (para o intelecto humano) era apresentada como base de todas as coisas; e podemos encontrar a mesma idéia em toda a sua integridade no sistema filosófico de Leibnitz e Espinosa. Portanto, quer um Teosofista concorde com a Kabala, que referindo-se a En-Soph pergunta: “Então, quem pode compreendê-la, uma vez que Ela não tem forma e Não existe?” ou, recordando este magnífico hino do Rig-Veda, pergunta:
    ‘Quem sabe de onde surge essa grande criação? Se sua vontade criou ou permaneceu muda. Ele sabe - ou, talvez, nem Ele mesmo saiba”.
    ou ainda, aceita a concepção vedantina de Bhrama, que nos Upanishads é representado como “sem vida, sem mente, puro”, inconsciente, uma vez que Bhrama é a “Consciência Absoluta”. Ou, finalmente, alinhando-se entre os Svâbhâvikas do Nepal sustenta que nada existe a não ser ‘Svabhavat”(substância ou natureza) que existe por si mesma sem ter nenhum criador - qualquer dessas concepções só pode levar à Teosofia pura e absoluta. A essa mesma Teosofia que induziu homens como Hegel, Fichte e Espinoza a retomarem o trabalho dos velhos filósofos gregos e a especular sobre a Substância Una - a Divindade, o Todo Divino oriundo da Sabedoria Divina - incompreensível, desconhecido e inominável - por intermédio de qualquer filosofia religiosa antiga ou moderna, com exceção do Cristianismo e do Islamismo. Consequentemente, o Teosofista, apegando-se à uma teoria da Divindade que “não tem revelação mas, sim, uma inspiração pessoal como base”, pode aceitar qualquer das definições acima ou pertencer a qualquer dessas religiões e, no entanto, permanecer estritamente dentro dos limites da Teosofia. Porque Teosofia é crença na Divindade como o TODO, fonte de toda existência, o Infinito que não pode ser nem compreendido nem conhecido, pois somente o Universo A revela, ou, como outros preferem dizer, O revela, atribuindo sexo àquilo que uma vez antropomoforfizado constitui uma blasfêmia. Na verdade, a Teosofia afasta-se da materialização brutal; prefere acreditar que de uma eternidade recolhida no interior da mesma o Espírito da Divindade não deseja nem cria; mas que, da resplandecência infinita e onipresente tudo procede do Grande Centro, e o que produz todas as coisas visíveis e invisíveis é apenas um Raio que contém em si mesmo o poder gerador e criador que, por sua vez, produz aquilo a que os gregos chamavam Macrocosmo, os kabalistas Tikkun, ou Adão Cadmon - o homem arquétipo - e os arianos Purusha, o Brahman manifestado ou o Macho Divino. A Teosofia acredita igualmente na Anastasis ou existência contínua, e na transmigração (evolução) ou numa série de transformações da alma que pode ser defendida e explicada pelos mais rígidos princípios filosóficos; e faz somente uma distinção entre Paramâtma (alma suprema, transcendental) e Jivâtma (alma animal ou consciente) dos Vedantinos.
    Para definir completamente a Teosofia devemos considerá-la sob todos os seus aspectos. O mundo interior não permaneceu oculto aos olhos de todos por uma treva impenetrável. Através da intuição superior adquirida pela Theosophia - ou conhecimento de Deus - que transporta a mente do mundo da forma ao do espírito sem forma, o homem, às vezes, conseguiu em todas as épocas e em todos os países, perceber coisas existentes no mundo invisível. Daí o “Samadhi”, ou Dyan Yog Samadhi dos ascetas hindus; a Daimonion-photi, ou iluminação espiritual dos Neoplatônicos; a “confabulação sideral das almas”, dos Rosa Cruzes ou filósofos do fogo; e até mesmo o transe estático dos místicos e dos modernos mesmeristas e espíritas são idênticos em natureza, embora diferentes em manifestação. A procura do “Ego” divino do homem, tão freqüentemente e tão errrôneamente interpretado como um Deus pessoal, sempre foi o objetivo de todos os místicos, e a crença na sua possibilidade parece coeva com a gênese da humanidade - cada povo dando-lhe um nome diferente. Assim, Platão e Plotino chamam de “Trabalho Noético” àquilo e a que os Yoguins e os Srotriya dão o nome de Vidya. “Pela reflexão, autoconhecimento e disciplina intelectual a alma pode ser transportada à visão da verdade eterna, da bondade e da beleza - isto é, à Visão de Deus - e isso é a “epoptéia”- afirmavam os gregos.
    “Unir a alma individual à Alma Universal” - diz Porfírio - “exige uma mente inteiramente pura. Pela autocontemplação, castidade perfeita e pureza corporal podemos aproximarmo-nos d’Ela, e receber, nesse estado, o verdadeiro conhecimento e uma visão maravilhosa”. E Swami Dayânand Saraswati, que nunca leu Porfírio nem qualquer dos autores gregos mas é um profundo conhecedor dos Vedas, afirma no seu Veda-Bâshya (upâsâna prakara ank. 9): “Para conquistar Disksha (as iniciações superiores) e Yog, o homem precisa agir segundo as regras... A alma humana pode realizar as maiores maravilhas pelo conhecimento do Espírito Universal (ou Deus) e identificar-se com as propriedades e qualidades (ocultas) de todas as coisas do Universo. Um ser humano (um Dikshita ou iniciado) pode, assim, adquirir o poder de ver e ouvir a grandes distâncias”. Finalmente, Alfred R. Wallace, que além de espiritualista é reconhecido como um grande naturalista, afirma com corajosa candura: “É somente o espírito que sente, percebe e pensa - que adquire conhecimento, argumenta e aspira... e não raro surgem indivíduos constituídos de tal forma que o espírito pode perceber independentemente dos órgãos físicos dos sentidos, ou podem, talvez, abandonar o corpo total ou parcialmente por algum tempo e a ele regressar novamente... o espírito... comunica-se com o espírito mais facilmente do que com a matéria”. Agora podemos verificar, após milhares de anos decorridos entre a era dos Ginosofistas e a nossa era altamente civilizada e apesar, ou talvez exatamente por isso, como essa iluminação derrama sua luz radiosa sobre os reinos psicológicos e físicos da Natureza, sobre os milhões que hoje acreditam, de modos diferentes, nos mesmos poderes espirituais aceitos pelos Ioguins e Pitágoras há quase três mil anos. Assim, enquanto o místico ariano pretende possuir o poder de resolver todos os problemas da vida e da morte desde que tenha conquistado o poder de agir independentemente do próprio corpo através de Atman - o “ego” ou “alma”; e enquanto os antigos gregos buscavam a Atmu - o Oculto, ou a Alma-Deus do homem, com o auxílio do espelho simbólico dos Mistérios Thesmophóricos; - da mesma forma os espíritas de hoje acreditam na faculdade que possuem os espíritos ou as almas dos desencarnados de se comunicarem visível e tangivelmente com os entes queridos da terra. E todos eles, Ioguins arianos, filósofos gregos e espíritas modernos sustentam essa possibilidade baseados em que a alma corporificada e seu nunca corporificado espírito - o verdadeiro ego - não estão serparados da Alma Universal nem dos outros espíritos do espaço a não ser pela diferenciação das respectivas qualidades, uma vez que na expansão ilimitada do Universo não pode existir nenhuma limitação. E quando removida essa diferença - seguindo os gregos e arianos pela libertação temporária da Alma aprisionada, e de acordo com os espíritas modernos pela mediunidade - é possível essa união entre os espíritos corporificados e os desencarnados. É por isso que os Ioguins Patanjalis e, seguindo suas pegadas, Plotino, Porfírio e outros Neoplatônicos afirmaram que durante suas horas de êxtase permaneceram unidos, ou melhor, tornaram-se unos com Deus por diversas vezes no decorrer de suas vidas. Esta idéia, errada como pode parecer na sua aplicação ao Espírito Universal, foi e ainda é sustentada por muitos dos grandes filósofos para que possa ser desprezada como inteiramente quimérica. No caso dos “Theodidaktoi”, o único ponto controverso, a mancha negra dessa filosofia de extremo misticismo foi sua pretensão de incluir o que é simplesmente a iluminação estática sob o domínio da percepção sensória. No caso dos Ioguins, que se diziam capazes de ver Ishvara “face a face, essa pretensão foi cabalmente desmentida pelo lógica severa de Kapila. E quando a idêntica presunção sustentada por seus seguidores gregos, por grande número de místicos cristãos e, finalmente, pelos dois últimos pretensos “Videntes de Deus” dos derradeiros cem anos - Jacob Boehme e Swendenborg - tal pretensão seria e deveria ser filosófica e logicamente discutida se alguns dos nossos grandes homens de ciência que são espíritas tivessem demonstrado mais interesse pela filosofia do que pelo mero fenomenalismo registrado no Espiritismo.
    Os Teosofistas alexandrinos dividiam-se em neófitos, iniciados e mestres, ou hierofantes; e suas regras foram copiadas dos antigos Mistérios de Orfeu que, segundo Heródoto, foi buscá-los na Índia. Amônio Saccas obrigava seus discípulos mediante juramento a não revelar seus ensinamentos superiores exceto aos que fossem comprovada e absolutamente dignos e iniciados que tivessem aprendido a encarar os deuses, anjos, e os demônios de outros povos de conformidade com a “hypnoia” esotérica, ou significado interno. “Os deuses existem, mas não são o que a hoi poloi, a massa ignorante, supõe que sejam” - afirma Epicuro, acrescentando: “Não é ateu aquele que nega a existência dos deuses adorados pela multidão mas, sim os que atribuem a esses deuses as opiniões da multidão”. Por sua vez, Aristóteles declara que, “da Essência Divina que interpenetra todo o mundo da natureza o que chamam de deuses são simplesmente os princípios originais”.
    Plotino, discípulo do “Theodidaktos”Amônio Saccas, diz-nos que o segredo da “Gnose”, ou o conhecimento da Teosofia, abrande três etapas: - opinião, ciência e iluminação. “O meio ou instrumento da primeira é o sentido, ou percepção; da segunda, a dialética; da terceira, a intuição; A Razão está subordinada a esta última; é o conhecimento absoluto fundado na identificação da mente com o objeto conhecido”. A teosofia é, por assim dizer, a ciência exata da Psicologia; mantém-se relativamente à mediunidade natural não cultivada da mesma forma que os conhecimentos de um Tyndall se comparados aos de um estudante de Física. Desenvolve no homem um comportamento direto; aquilo a que Schelling chama “uma realização da identidade do sujeito e objeto com o indivíduo”; por isso, sob a influência e o conhecimento da hypnoia o homem alimenta pensamentos divinos, vê todas as coisas como elas realmente são e, finalmente, “transforma-se num recipiente da Alma do Mundo”, para usar de uma das mais belas expressões de Emerson. “Eu, o imperfeito, adoro meu próprio Perfeito”- diz ele no seu magnífico ensaio A Super-Alma. Além desse estado psicológico, ou estado-alma, a Teosofia cultivou todos os ramos das ciências e das artes. Manteve-se completamente familiarizada com o que hoje é geralmente conhecido como Mesmerismo (hipnotismo). A Teurgia prática ou “magia cerimonial” a que o clero Católico Romano recorre tão freqüentemente nos seus exorcismos - foi desprezada pelos Teosofistas. Jâmblico foi o único que transcendendo aos demais Ecléticos acrescentou à Teosofia a doutrina da Teurgia. Quando, ignorante do verdadeiro significado dos símbolos esotéricos e divinos da Natureza o homem é levado a avaliar erroneamente os poderes de sua própria alma e, ao invés de comunicar-se espiritual e mentalmente com os seres celestiais superiores, os espíritos bons (os deuses dos Teurgistas e da escola Platônica), estará inconscientemente invocando os poderes maléficos, os poderes das trevas que vivem emboscados ao redor da humanidade - as imperecíveis e sinistras criações dos crimes e vícios humanos - e assim passa da Teurgia (magia branca) à Goecia (magia negra ou feitiçaria). No entanto, nem a magia branca nem a negra são o que a superstição popular compreende por essas expressões. A possibilidade de “invocar espíritos” de acordo com a chave de Salomão é o cúmulo da superstição e da ignorância. A pureza de atos e pensamentos é a única que nos pode levar a um intercâmbio “com os deuses” e conquistas para nós o desejado ideal. A Alquimia, encarada por muitos como uma filosofia espiritual ou como uma ciência física, pertencia aos ensinamentos da escola Teosófica.
    É um fato notável que nem Zoroastro, nem Buda, Orfeu, Pitágoras, Confúcio, Sócrates ou Amônio Saccas transmitiram à escrita seus ensinamentos. E é óbvia a razão dessa atitude. A Teosofia é uma arma de dois gumes inadequada para o ignorante ou o egoísta. Como todas as velhas filosofias tem seus adeptos entre os modernos; mas, até recentmente seus partidários eram poucos numerosos e pertencentes as mais varias seitas e opiniões. “Inteiramente especulativa e sem fundar escolas, seus adeptos exerceram silenciosa influência sobre a Filosofia; e não há dúvida de que, chegado o momento, muitas das idéias assim expostas silenciosamente podem oferecer novos rumos ao pensamento humano”. - observa Kenneth R.H. Makenzie, um místico e teosofista na sua grande e valiosa obra, The Royal Masonic Cyclopaedia (artigos sobre “A Sociedade Teosófica de Nova Iorque” e ‘A Teosofia”). Desde os dias dos filósofos do fogo os Teosofistas jamais se reuniram em sociedades porque, caçados como animais ferozes pelo clero cristão, o fato de ser conhecido como Teosofistas quase sempre equivalia, ainda há um século, a uma sentença de morte. As estatísticas mostram que num período de 150 anos nada menos de 90.000 homens e mulheres foram queimados na Europa sob a acusação de prática de feitiçaria. Na grã-Bretanha, de 1640 a 1660, isto é, em apenas vinte anos, 3.000 pessoas foram condenadas à morte acusadas de pacto com o ‘Demônio”; e foi somente no último quartel deste século - em 1875 - que alguns místicos e espíritas progressistas, insatisfeitos com as teorias e explicações do Espiritismo redigidas pelos seus adeptos, e julgando que as mesmas estavam longe de cobrir todo o campo da enorme área dos fenômenos, formavam longe de cobrir todo o campo da enorme área dos fenômenos, formaram em Nova Iorque uma associação hoje largamente conhecida como Sociedade Teosófica. Assim, tendo explicado o que é a Teosofia, pretendemos, em outro artigo, explicar a natureza de nossa Sociedade, também chamada “Fraternidade Universal da Humanidade”.
     
    Tradução M.P.Moreira Filho

    Fonte:http://www.levir.com.br/artigo1-1.php

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