A CONTAR HISTÓRIAS



Chove, mas o sol espreita entretido no faz-de-conta que me põe a contar histórias. Este inevitável dizer de coisas quase banais, como num encontro quase casual em que fica por falar o desejo que o ventre esconde e só a água reflecte se olhada dentro de si mesma.
Observo a ventania que percorre as ruas com uma força rija, as pessoas que caminham vergadas pelo tempo(ral) que lhes varre as vidas, a chuva que escurece este final da manhã em que acordei com música no corpo e a dança nos pés. Escurece do lado de lá da minha janela, avizinha-se a tempestade e eu sorrio por um qualquer sentimento de ternura que me prende à terra. A tempestade passará e eu terei sobrevivido para enfrentar o estio que virá depois. Ano após ano. Viagem sem roteiro e sem retorno. Estação após estação, numa espera que acumula passagens de nível. E é neste silêncio íntimo vivo e real que desenho as palavras que falam de ti e escrevem o teu nome. E se um dia voltares a subir cada página como um degrau, cada frase como um atalho, saberás que é de amor que se faz o ritual. E eu sou um livro, do qual se desprendem as palavras para abraçar-te em silêncio.


Fonte:http://espinhoseoutrasflores.blogspot.com.br/

Comentários