DANÇA SAGRADA TÂNTRICA - OTÁVIO LEAL

   

 “Eu sou o amor puro dos amantes que lei nenhuma pode proibir”
Krishna
“Sem tesão não há solução”
Roberto Freire
  
Dança Sagrada Tântrica
 
  Essa técnica é absolutamente deliciosa, meditativa, ousada, criativa e mágica, é inspirada no Neo - Tantra, uma abordagem moderna do tantra baseada no mestre Osho, seus sannyasins (discípulos) e práticas de dança e sexualidade sagrada.
    Por ser uma técnica tantrica, a Dança representa a própria dança da criação do Universo e deve ser vista em todos seus movimentos como uma dança sagrada. O que faz algo ser ou ter um sentido de sagrado é nossa intenção – assim sacralize seus movimentos. Aqui também o homem e a mulher tornam-se Deuses. O homem é Shiva e a mulher Shakti, assim essa é a dança de dois Deuses e isso faz toda a diferença na intenção de amor e meditação.
    Descrevi a técnica conforme a sinto em minhas práticas e como as observei sendo realizadas por um casal em um grupo tantrico adiantado. Também me inspirei na descrição do mestre José Ângelo Gaiarsa (o sexo, Reich e Eu – Ed. Summus, 19 -), que assistiu uma liturgia da dança Sagrada. E a descreve de forma genial em seu livro. Descreverei hora em 1ª, 2ª, e 3º pessoa mais sempre de forma viseral, poética e facilitando sua prática. Pratique!
    A dança é realizada normalmente em dupla mais pode ser feita em grupos de praticas tantricas adiantados (pessoas muito bem trabalhadas e não recalcadas sexualmente).
    Todos ficam nus. O ambiente deve ser preparado com muito bom gosto, a luz é suave e vem de velas. As músicas são escolhidas “a dedo” e devem ser absolutamente mágicas e sensuais.
    Após essa preparação o casal – Shiva e Shakti – inicia movimentos corporais separados por alguns metros um do outro bem lentos acompanhando a musica. Esses movimentos devem permanecer por toda a pratica: lentos, conscientes, plenos, entregues e soltos. Esses movimentos iniciais lembram a dança de Shiva (quem faz Yoga conhece) ou dois passos da Dinâmica de Laban (Rudolf Laban - Dançarino) que são o flutuar e o deslizar. Eles podem ser descritos como movimentos que imitam com os braços as asas de um pássaro. Usam-se muito as mãos e os braços e tudo é muito solto e silencioso. Flutue e Deslize. Permita-se dançar por algum tempo.
    Inicia-se dançando separadamente e aos poucos há a aproximação com olhos. Olhos nos olhos de verdade. Sem desvio do olhar. As mãos vão aproximando-se inicialmente se tocando as pontas dos dedos, e aos poucos o toque das mãos é pleno. Olhar nos olhos, mãos tocando mãos e os corpos dançando fluidicamente. Agora há uma nova flutuação rítmica.
     Ambos se tocam com um carinho que só mesmo um tantrico pode fazer e todo o movimento deve fluir respeitando as características de cada praticante/dançarino mais com um sincronismo de peso, braços cinturas e outras diferenças. Com as mãos e olhos cada um vai dando e recebendo amor, observando que ambos devem ter a mesma importância: O sagrado, a comunhão da troca sem desigualdade, sem escravidão, sem autoritarismo... Troca total e integral.
     Os corpos agora através de uma oscilação rítmica começam a dialogar não só com as mãos e olhos, mas de forma mais total, pleno, sempre mantendo o equilíbrio.
     As pernas se tocam depois as costas, as coxas, as faces, as mãos trançadas umas nas outras permitem que um desequilíbrio mutuo que logo vira equilíbrio. Isso é a dinâmica da vida.
     Aqui a ênfase é nos quadris soltos e flexíveis fazendo movimentos rotativos, em forma de oito ou deslizando. Permita aqui que a aproximação seja bem plena. A emoção chave é se entregar. Vá se sentindo a cada instante mais livre. Deixe as inseguranças e incertezas do que fazer e assim deixe que movimentos nasçam... surjam... aconteçam... Permita que cresça e nasçam situações de amor, beleza, sensualidade, atração... enfim... o que viver, mas tudo de forma amorosa, lenta e delicada.
    Sinta o parceiro, dê apoio com seu corpo e peça apoio sempre ondulando, deslizando um pelo outro, se tocando, se amando e sentindo.
     Enrosquem as mãos, pernas, corpos, deslizem-se em volta um do outro. É a fusão da dualidade na unidade.
     Essa dança pode durar o tempo que desejar, mas seja criativo. O tantra e sua práticas não são repetitivas, rotineiras, robóticas, chatas, sem imaginação, automáticas, constantes e inconscientes.
     O tantra é criatividade, ousadia, originalidade, prazer, surpresa, carinho.
     E essas características fazem parte do seu ser, do seu Purusha.
    Seja carinhoso e relacione seu corpo com o do parceiro. Dançar juntos, acariciar, abraçar e sensualizar é terapêutico, libertário e anti-repressor, são características tantricas. Dê prazer e receba prazer.
    “As pessoas quando buscam outras para amar, estão procurando verdadeira, profunda e genuinamente liberdade!”
“José Ângelo Gaiarsa”
    Seja livre. Liberdade total, absoluta e prazerosa.
    Na dança tantrica não bastam os movimentos, os toques, as intenções e a sensualidade serem boas, elas tem que ser ótimas. Percam a cabeça, isso mesmo, perca a cabeça na dança e seja só coração.
    A dança e os toques saem do coração. Assim deixe seus pensamentos fora da dança assim como velhos costumes, velhos movimentos, velhas rotinas. Seja liberto.
     Continue a dança e vá se derretendo no parceiro e nos toques: “saia de si mesmo”. Renuncie o “Eu” e derretam-se amorosamente um no outro. Misturem-se tornem-se em pé dançando um só ser com quatro pernas... Transcendam.
     Desejando beijem-se. Inicialmente com doçura, ternura, de forma suave e lenta, derretendo-se e unindo-se. Depois beije de maneira provocante e sensual.
     A dança continua. A dança dos Deuses.
    Envolvam-se, explorem várias formas de beijarem-se. Seja o beijo, corporalmente, enquanto se beijam como o caduceo de mercúrio – símbolo da medicina. Entrelaçados um ao outro.
     O amor é medicinal. Entrelacem-se um ao outro, desapareça, seja criança, jogue fora a seriedade entregue-se, sinta-se vivo.
    Flua. Insisto. O amor é medicinal.
    Solte-se e faça movimentos alongados nessa dança divina. Movimente seu corpo como nunca o fez.
    Agora ambos iniciam um movimento harmônico baixando o corpo deixando uma das pernas ajoelhadas e outra apoiada. Nessa posição continuem a dança com toques deliciosos. Deixem agora entrar um novo elemento na dança. A respiração. Respiração consciente, suspirante, ambos envolvidos com respirar plenamente. Respire profundamente e de forma lenta. O prazer da respiração rápida, alta e curta durante dança ou no sexo é ansiosa, muitas vezes neurótica e pouco prazerosa. O tantra ensina a respiração lenta, suave, profunda... Sinta a sensação de respirar assim. Entregue-se. A respiração sem pressa lhe trará muito oxigênio, muito prana, muita vida. Com a respiração assim não há ansiedade e sim relaxamento, paz e amor.
    Acariciem-se e relaxem... continuem a danças, se toquem, se cheirem, se amem. Perguntem-se nesse momento que tipo de prazer, de toque, de carícias seu parceiro pode lhe dar. Que tipo de Ananda - felicidade extasiante – pode-se obter dessa união.
    Se toquem com as costas, cabelos, braços, encostem as barrigas uma a outra e as nádegas (que palavra feia, mas enfim...), deslizem-se um ao outro com todo o corpo e beijem-se, lambem-se, cheirem-se, suspirem e gemam, soprem suavemente, Abaixem-se totalmente e deslizem para um colchonete ou tatame que deverá estar próximo ao local dança.
    Agora deitados, se entreguem a força da gravidade e exitem-se de forma mais plena, mas observando uma respiração profunda, completa e lenta. Sempre.
    Permita que o lingan-bastão de luz (pênis) toque a yoni – espaço sagrado (vagina). Não deve haver ainda a penetração só o roçar dessa região tão reprimida. Alterem as posições no chão hora com Shiva (homem) por cima, hora Shakti (mulher). Use a imaginação, também fique lado a lado dançando no chão, se tocando, namorando como adolescentes no início da vida sexual.
    Fique o tempo que desejar num crescente de amor.
    Essa é a proposta do tantra: Evitar o orgasmo e permanecer numa comunhão cósmica ou estada de graça que hoje até a ciência reconhece: os atos sexuais duradouras e a variação de contatos sexuais sejam de pessoas ou posições geram saúde, longevidade e rejuvenescimento inclusive hormonal.
Fique assim nesse contato sem fim novamente dê ênfase a respiração enquanto se tocam mais agora permita que a mesma torne-se audível e gema. Gema como se estivesse derretendo, enamoramento pleno e gemidos plenos.
    Excitem-se mais e mais e brinquem de gato. Imaginem-se felinos e de forma suave e carinhosa toquem-se, cheirem-se, lambam-se e faça tudo mais o que gatos fazem quando estão enamorando-se. Rolem briquem, finjam que brigam e inicia-se a masturbação mútua.
    Toquem a região sacra - sagrada do parceiro como se toca-se o templo maior do cosmo.
    Brinquem. Utilize de todo tipo prazeroso de toque dando o máximo de prazer e sensibilidade dessa região e próxima a ela. São tantas sensações possíveis de sentir aqui que só uma palavra pode definir: Ananda – deliciosidade. Com cada pessoa diferente que fazemos esses toques sentimos prazeres diferentes.
    Toque, se toque, se toquem. Mas criem toques diferentes, extraordinários e prazerosos. Não se repita toque o clitóris de Shakti de toda forma possível... Vá descobrindo as maneiras mais prazerosas. Aqui esta o interruptor de prazer. Explore-o com gigantesca sensibilidade.
    Cultive a carícia em toda Shakti e nesse momento principalmente em seu clitóris. Deixa-a confortável e toque... toque com a língua... Com a boca... Com o coração.
    Gaiarsa descreve o clitóris:
    “É o botãozinho mágico que a transfigura, que faz gemer como se estivesse machucando, suspirar como se estivesse morrendo, ou fechar os olhos como se estivesse sonhando... de felicidade”.
    Explorem toda a sensibilidade da área sacra – sagrada.
    Shakti toca o lingan (pênis) e shiva toca a yoni (vagina).
    Explore também toda a região em torno, próximas, dos órgãos sexuais.
    Fiique atento às reações e sensações do parceiro. Fique absolutamente consciente.
    Reconheça o paraíso agora.
    Com a língua ou beijando faça um movimento de M e de W na região sexual toda. Sinta-se liberto e livre para criar e sentir prazer. Liberdade. Ser livre, exercitar sua liberdade é Ananda, é bem aventurança. Nosso ser é livre.
Ambos continuam explorar toda a riquíssima sensibilidade do corpo da parceira. Explore o sexo como uma criança explora o mundo.
    Sinta-se como uma criança. Viva, receptiva, atenta, plena aqui na brincadeira. Brilhando de felicidade.
    “... Os adultos raramente brilham de felicidade”
    Mantenham por muito tempo esse estado pré-orgástico enquanto dançam de amor e vocês começarão a sentir uma crescente de amor não só por si e pela parceria, mas também algo mais místico, mais universal... um estado de amor misturado com Poder Pessoal, uma sensação de que tudo é possível. Um estado meditativo, calmo, sereno e que deve ser prolongado.
    Mestres tantricos apontam o orgasmo como o final de uma festa ou o término do desejo.
    Aqui há a penetração...
    A união do lingam com a yoni. O yin e o yang se transformam no Tao – a totalidade que essa união seja lenta, consciente e plena. Aqui o ser humano, ao contrário dos animais onde o macho cobre a fêmea por trás, tem disponível centenas de posições sexuais a serem exploradas. Explore. Lembre-se dos templos tantricos e hindus decorados de forma extraordinária e linda com imagens, estátuas e pinturas eróticas.
    Introduza o lingan na yoni da mulher. Derretam-se um no outro.
    Novamente gema... solte-se... desejando, ria, dance, chore, gema, grite e derreta. Permita-se expressar seus sentimentos.
    O ato sexual sagrado deve tirar-nos as máscaras, os tabus, a persona. Essa é a hora de ser absolutamente verdadeiro. Total.
    Faça movimentos pélvicos de vai-e-vem de forma lenta ou rápida, altere o ritmo dos movimentos, que a penetração seja total ou parcial.
    É visível que os parceiros aqui estão vibrando, cheios de energia, vivos... inteiramente vivos... pulsando de vida.
    É aqui que notamos o gosto e o amor pela vida. Vida plena e livre. Solta e prazerosa.
    Busquem posições extasiantes e sejam doces, carinhosos, gentis até nos movimentos de maior “pegada”, os movimentos mais viris.
    Algumas Shaktis gostam que seus cabelos sejam puxados pela base do pescoço e que seu pescoço e parte alta das costas sejam mordidos. Mesmo nesses movimentos, seja doce.
    Gaiarsa, mestre do amor orgástico (em minha opinião) escreveu muito sobre doçura. Doçura é derretimento. Escreveu sobre a felicidade sexual que é mais plena que o prazer sexual. Felicidade sexual é igual ao estado de graça. Ananda.
    Continue suspendendo o orgasmo. E observe em si o estado de graça. O aumento da energia Kundalini, da energia sexual que torna-se consciência.
    Entregue-se... flua junto... Use todo seu corpo. Todo ele.
    No ritual que presenciei a mulher shakti – a Deusa, ficava a maior parte do tempo por sob Shiva, por cima e pude notar varias convulsões corporais prazer que pareciam sair da alma do casal. Quando pratico também percebo em mim. Choques de prazer. Quanto mais movimentos e penetrações mais choques de prazer.
    Lembre-se que essa é uma dança amorosa e sexual. Uma dança sagrada, assim continue com movimentos de dança. Dance e flua fiquem atentos a dança, a penetração, aos movimentos. Seja intimo. Entregue-se. Dance no mesmo ritmo.
    Durante todo o ato sexual/dança sagrada a atenção a respiração plena deve estar presente, respirar profundamente permite maior duração do ato de amor. Respiração rápida apressa o orgasmo e ele não é pleno.
    Orgasmo...
    O orgasmo quando adiado nesse ato sexual sagrado, quando prolongado o carinho e o fazer amor, as sensações vão se alterando, vão ficando mais fortes e intensas, a entrega e a “loucura” divina acontecem. O orgasmo idealizado por Reich – pleno, total, curativo, anti - neurose e medicinal ocorre.
    O orgasmo após um ato sexual/ amoroso prolongado é explosivo, convulsivo, contém convulsões de prazer, prazer extasiástico (para fora) e entasiástico (para dentro).
    O homem aprecia perceber que Shakti sente prazer e vice-versa.
    Se um parceiro deseja um orgasmo superficial deve tê-lo com a respiração curta e rápida. É o orgasmo “normal”. Ser normal aqui é ter a neurose chamada normose: Inconsciente, segue a massa, comum, sem criatividade, superficial.
    O orgasmo com a respiração lenta, profunda, consciente e pleno, profundo, duradouro, saudável. Quem o tem alonga/estira o corpo como gato alongando. Esse alongamento/extiramento orgástico é altamente pulsante e desfaz as couraças musculares que são tensões crônicas corporais. No orgasmo permita que seu corpo exploda. E movimente-se como desejar. Expresse seu prazer... Sem repressão.
    Em toda dança sagrada faça tudo o que tiver vontade de fazer. Expresse tudo o que tem vontade de expressar.


Fonte: Otávio Leal- http://www.humaniversidade.com.br/

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