OS TEMPLÁRIOS E O CÓDIGO DA VINCI

O sucesso do best-seller "O Código Da Vinci" fez renascer o interesse pelos cavaleiros templários e seus mistérios. Confira, a seguir, o que é verdade e o que é ficção na obra de Dan Brown


 
O Código Da Vinci, romance de Dan Brown, tornou-se um sucesso mundial ao combinar os mais variados temas místicos, religiosos e históricos, como a sexualidade de Jesus Cristo e Maria Madalena, uma sociedade secreta chamada Priorado de Sião, a simbologia das obras de Leonardo Da Vinci, a atuação obscura da Opus Dei e, claro, os segredos dos Cavaleiros Templários.
Com tantos elementos intrigantes, Brown criou uma trama tão genial quanto divertida, deixando milhões de leitores com a pulga atrás da orelha. O que é fato? O que é ficção?
Quando falamos dos Cavaleiros do Templo, a verdade é que temos um pouco de tudo: fatos históricos, teorias conspiratórias e, também, uma boa dose de imaginação. Eles de fato foram monges guerreiros que juraram defender a fé cristã com espadas. Mas a escassez de documentos sobre os primeiros anos da Ordem dá margem a especulações, como a lenda de que eles teriam descoberto um grande segredo debaixo das terras do Templo de Salomão.
O escritor Dan Brown defende essa versão da história. Segundo ele, a sociedade secreta Priorado de Sião teria sido criada em 1099 pelo rei Godofredo de Bouillon para esconder um segredo de família: o casamento entre Jesus Cristo e Maria Madalena. A Ordem dos Templários teria sido, na verdade, formada por esse Priorado, para recuperar o segredo escondido nas ruínas do Templo de Salomão. E mais: o fato de esses cavaleiros descobrirem o Santo Graal – um conjunto de elementos sobre a linhagem de Cristo – teria sido o motivo da ascensão e da queda da Ordem.
A seguir, confira o que os especialistas em História confirmam – ou não – no meio de tantos enigmas.

O verdadeiro Priorado de Sião

“O Priorado de Sião – sociedade secreta europeia fundada em 1099 – existe de fato. Em 1975, a Biblioteca Nacional de Paris descobriu pergaminhos conhecidos como Os Dossiês Secretos, que identificavam inúmeros membros do Priorado de Sião, inclusive Sir Isaac Newton, Botticelli, Victor Hugo e Leonardo da Vinci”.
O parágrafo acima é o primeiro da página intitulada Fatos no livro O Código Da Vinci. Porém, a sociedade citada não foi fundada em 1099, mas em 1956, por um certo Pierre Plantard. Segundo Bernardo Sanchez da Motta, autor do livro Do Enigma de Rennes-le-Château ao Priorado de Sião, Godofredo de Bouillon fundou uma Abadia de Nossa Senhora de Monte Sião, sem relações com a mistificação do Priorado.
Em 1996, a emissora de televisão BBC entrevistou André Bonhomme, que assinou o pedido de constituição do Priorado com Plantard, Jean Deleaval e Armand Defago: “Éramos quatro amigos que só queriam se divertir. Nós o chamávamos de Sião porque existia uma montanha com esse nome”. Com o Priorado e os Dossiês, Plantard visava legitimar-se como herdeiro merovíngio do trono francês.
Brown faz uma homenagem a Plantard em seu livro: “(...) Restaram apenas duas linhas diretas de merovíngios. Os sobrenomes são Plantard e Saint-Clair” (p. 245).

Inveja, perseguição e queda

No início do século 14, o soberano francês Felipe, o Belo, almejava ser o grão-mestre dos Templários. Como não conseguiu, aproveitou o momento de fragilidade da Ordem após as derrotas cristãs na Terra Santa para persegui-los, acusando-os de heresias, até tomar posse de todos os seus bens.
Dan Brown prefere apontar a Igreja como culpada pela queda dos Templários: “(..) a sanção do Vaticano já havia ajudado os Templários a angariar tamanho poder que o Papa Clemente V decidiu tomar uma providência (...)” (p. 154). Já o site brasileiro da Ordem dos Cavaleiros Templários (www.templarios.org.br) defende a Igreja: “é preciso ter presente, como verdade histórica, que a Ordem do Templo, os Cavaleiros Templários, não foram condenados pelas autoridades eclesiásticas em questões de fé, mas simplesmente, perseguidos sob as instâncias e avidez do rei de França.”

Os pobres influentes

“Ninguém sabe se os Templários chantagearam o Vaticano ou se simplesmente a Igreja tentou comprar o silêncio deles, mas o Papa Inocêncio II imediatamente publicou uma bula papal inédita que concedia aos Templários privilégios ilimitados (...)” (p. 153).
Com o discurso acima, o professor de Simbologia criado por Brown defende que a influência dos Templários na Europa solidificou-se “da noite para o dia”. Não foi bem assim. Segundo Edward Burman, autor do livro Templários – os Cavaleiros de Deus, o líder dos cavaleiros, Hugo de Payns, viajou para o Ocidente em 1126 em busca de apoio para a Ordem. Encontrou-o do importante monge francês Bernardo, abade de Clairvaux, que conseguiu a bênção oficial do Papa aos monges militares.
Brown enfim acerta quando aponta os guerreiros como banqueiros poderosos: “(...) Os Templários inventaram o conceito do sistema bancário moderno. Para os nobres europeus, era perigoso viajar com ouro, então os Templários permitiam que os nobres depositassem ouro na igreja do Templo do outro lado da Europa (...)”(p. 326).

Construções templárias

The Temple Church, a Igreja Templária localizada em Londres (Inglaterra), tem expostos nove cavaleiros de pedra, não dez, como afirma o livro de Dan Brown. A construção foi mesmo bombardeada durante a Segunda Guerra.
Outra construção importante para o romance, a capela escocesa de Rosslyn, não foi construída por Templários, mas sim por William St. Clair. O envolvimento dos St. Clair com sociedades maçônicas a partir do século 17 deu espaço para especulações sobre a Rosslyn. Além disso, seu nome vem de sua localização, não da sua suposta posição em relação ao meridiano que passa por Glastonbury, como afirma Brown.

SAIBA MAIS

Do Enigma de Rennes-le-Château ao Priorado de Sião, de Bernardo Sanchez Da Motta (Editora Ésquilo, 2005)
Templários – os Cavaleiros de Deus, de Edward Burman (Editora Nova Era, 2006)

Fonte :Texto • Alexandra Bailon-http://www.triada.com.br/
 

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