MEDITAÇÃO , A ARTE DO ÊXTASE



A vocação legítima do ser humano é a transcendência. Por mais que progrida, ao buscar o melhor de si, uma lacuna ainda o incomoda, como uma chama a ser acesa. Os desejos que nos aprisionam, certamente, não provêm de nossa essência. Se temos um corpo físico, e do lado de fora um universo sem fronteiras, não menos extenso é o mundo interior, um eterno fluir de memórias. São como camadas de condicionamentos, crenças, velhos hábitos e atitudes cristalizados provenientes do passado; ondas que se expressam em afirmações e negações, símbolos, mensagens, visões e emoções arrebatadoras. São agregados do inconsciente que manipulam o nosso existir e, quando vêm à tona, promovem limitações e obstáculos que, quando não resolvidos, afetam o equilíbrio energético e emocional.
Por vezes, parecemos impotentes ante o desamparo da morte ou da dor. Embora os ensinamentos dos grandes mestres nos mostrem que estamos ligados à Essência da Vida, ainda vacilamos. O ato de fé, de acreditar é também hoje defendido pela ciência como propulsor de realizações. Quando nos debruçamos sem reservas ante a dificuldade nos tornamos fortes. Quando esvaziamos nosso ego um misterioso poder nos preenche de paz e compreensão. Nunca estamos sós. Embora não percebamos estamos sempre ligados a Purusha, o Espírito Universal. Madre Teresa de Calcutá sempre afirmava que “ nem a vitória
nem a derrota poderão afetá-lo, se você sabe quem você É.”
Ioga – o processo meditativo
A nossa educação Ocidental, compartimentalizada e estanque, voltada apenas para o lado externo das coisas, nos viciou a ver com desconfiança e até repulsa as  nossas manifestações mais íntimas. A consciência da energia que flui em nosso ser e entre os outros, muitas vezes, é bloqueada pelas nossas próprias expectativas e agregados da mente. O ser humano possui diversas camadas ou invólucros, uma delas é a mental. A ciência moderna,  recentemente, interessou-se pelos estudos da mente e vem confirmando o valor terapêutico da arte milenar do Ioga, um sistema prático de conhecimento baseado na auto-observação. Como é uma tradição muito antiga, temos que considerar os diferentes contextos em que foi aperfeiçoada durante a historia da Índia. Baseada nas escrituras sagradas, ela nasceu com os Vedas, firmou-se nos Upanishades e alcançou seu ápice nos Sutras e Tantras. Os textos clássicos mais utilizados são os Yoga Sutras  de Patanjali, que enumera oito estágios ou membros(ashtanga) da ioga em busca da alma. São eles:
Yama - mandamentos morais universais (não roubar, não matar, etc.);
·         Nyama – autopurificação pela disciplina;
·         Asanas – posturas corporais;
·         Pranayama – controle rítmico da respiração;
·         Pratyahara – remoção e emancipação da mente do domínio dos sentidos e objetos exteriores;
·         Dharana – concentração;
·         Dhyana-meditação;
·         Samadhi – êxtase ou união com Paratma ou Espírito Universal
Meditar é relaxar e silenciar a mente
A primeira condição de uma atitude meditativa é estar relaxado. Daí a importância do corpo como uma base confortável. A energia precisa fluir através dos seus centros que funciona como uma interface entre os mundos interno e externo. Um corpo saudável é essencial. Ele precisa estar corretamente alimentado e aquecido. Durante a meditação ele fica por longo tempo numa determinada posição – a mais indicada é a posição de lótus – o que exige um sistema muscular fortalecido, mas flexível para evitar tensões. A preparação do corpo é então feita com movimentos suaves e posturas (asanas) do Hatha-Yoga.
O principal obstáculo à meditação é a instabilidade da mente.
A mente (manas) e a respiração (prana) estão intimamente ligadas; a atividade ou a cessação de uma afeta a outra. O controle da respiração objetiva silenciar o burburinho da mente, de onde emergem os conflitos do passado. Por isso, se diz que meditação é um estado de não-mente. Dominar a mente torna-se, então, uma arte, onde a imaginação é mais poderosa que a vontade. A meditação é um estado de Ser, simplesmente. Porém a mente é teimosa, e interfere nessa espontaneidade. Quando você observa a sua respiração – um dos exercícios básicos de concentração – a mente logo altera o seu ritmo natural. Se você tenta relaxar o corpo, a mente torna-se impaciente. Alimentada por desejos, a mente cria expectativas, o que dificulta ou mesmo impede a tranqüilidade, requisito para uma entrega absoluta e incondicional.
Surfando no desconhecido
Partindo do entendimento que o mundo externo e o interno estão intimamente relacionados, passamos a perceber que somos um todo, onde o que acontece a qualquer parte reflete imediatamente nas outras. Meditar, então, é estar presente e seguir o movimento do Tao sem apegos. Permita que a respiração diminua a intensidade por si só, assim a mente se acalma e o corpo fica relaxado.  Sem reservas, mergulhe profundamente no seu Ser. Então libere seus conteúdos interiores sem esforço, apenas deixe acontecer. Não reprima nada. Se o sono vier, durma. É recomendado meditar de madrugada, quando o corpo está descansado e a mente limpa. Deixe a Vida fluir sem julgamentos. Então meditar é estar consciente de Si.

Fonte : SEBASTIÃO ALVES DE OLIVEIRA
Professor de Música e Terapia Mântrica

Comentários