EM BUSCA DE SENTIDO

A maior verdade sobre os seres humanos é que estamos em constante busca de sentido para a vida. Mesmo que não pensemos neste “sentido” tal como um filósofo, a nossa vida é constituída pela tentativa de dar sentido à existência.

Qual o sentido da vida?

É claro que não ousarei dizer qual o sentido para todos, mas é claro também que tenho uma noção própria sobre esta noção, mas não vêm ao caso. Tenho interesse em discutir algumas das possibilidades de dar sentido.

Quiçá a noção mais assimilada como sentido ao longo da história ocidental tenha sido a noção de Deus. Muito bem, o que significa Deus? Em um mundo pouco espiritualizado como o nosso, tenho a impressão que a noção de Deus entendida pelos indivíduos seja uma noção de conveniência ao momento. Se é que existe Deus, poderia ele se adequar ao entendimento apropriado de cada um? Claro que não, mas é reconfortante imaginar um ser que atenda e se adéque a todas as expectativas mesquinhas e egoístas particulares. Como nem sempre os desejos são realizados, acaba-se frustrado com esta divindade, “incapaz” de dar aquilo que se quer.

Existe outra categoria de indivíduos que busca sentido nas coisas cotidianas. Dinheiro, fama, sexo, trabalho, família são exemplos que podem ser colocados neste conjunto. O senso comum, mesmo sem saber, associa o sentido a estas coisas, através de um hedonismo, muitas vezes, desenfreado. Suas satisfações estão ao alcance da mão, mas há um problema. O dinheiro acaba, o sexo acaba, a fama acaba, o trabalho acaba e a família acaba. Todas estas coisas do nosso cotidiano são perecíveis, mas coloca-se o sentido nelas. Esta situação causa uma angústia quanto à possibilidade de perda permanente. A posse definitiva é uma ilusão que se cria para tentar levar a vida com certa tranquilidade. Com a perda inevitável, troca-se de sentido de acordo com aquilo que se tem em mãos e/ou com a situação. Em suma, recria-se o sentido permanentemente, sem nunca se fixar em algo definitivo, o que gera uma instabilidade constante.

Há uma terceira categoria de sujeitos que afirma que a vida não tem sentido. Estes podem pensar na vida humana como fruto de um acaso. Somos matéria pensante, que veio existir através de uma evolução paulatina da própria matéria, sem razão ou motivo aparente. Mas a própria afirmação de que a vida humana não tem sentido já é uma tentativa dos homens darem sentido (“um norte”).

O homem está em uma situação ímpar no universo. Está, nos dizeres de Blaise Pascal (1623-1662), entre o infinitamente pequeno (quais as menores partículas do universo?) e o infinitamente grande (“o silêncio dos espaços infinitos me apavora”). Assim, nos vem a indefectível questão e a sensacional resposta escrita por Pascal em seus “Pensamentos”: “Afinal, o que é o homem dentro da natureza? Nada em relação ao infinito; tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como o seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve”.

Agora, é só silêncio...

 Fonte : Émilien Vilas Boas Reis é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre e Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Filosofia do Direito e Metodologia de Pesquisa na Escola Superior Dom Helder Câmara.

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